O jornalista Clóvis Rossi, da Folha de São Paulo, externou muito bem essa perplexidade em seu artigo de ontem, quando se despediu dos leitores para entrar de férias. Sob o sugestivo título " Férias, as últimas?", Rossi escreve:
Hoje em dia, todas as notícias que estão prontas para publicação aparecem antes que os jornais comecem a rodar - ou na TV, ou na internet, ou no rádio.
Logo, a rigor, não há mais notícias "fit to print" que sobrevivam até o dia seguinte, quando os jornais começam a circular. É claro que sempre sobra alguma rebarba de informação exclusiva, mas é pouco para uma indústria tão cara.
Você, meu arguto leitor, que vive se informando na internet, ao folhear um jornalão não tem a nítida impressão de que está lendo o jornal de ontem ou anteontem? O pior é que esses jornais "antigos" são utilizados pelos pauteiros nas emissoras de TV. Os repórteres têm que sair às ruas para requentar o requentado. Isso é servido aos leitores, telespectadores como novidade... Daí a preocupação com a embalagem, o visual moderno e arrojado. É para esconder o mofo.
Por isso, é bobagem essa discussão na internet, que coloca de um lado a mídia tradicional e seus ícones - Kamel, Mainardi - e de outro o novo leitor/espectador. Mainardi e Kamel são empregados. Quando a relação custo-benefício dos processos que a Veja responde com Mainardi começarem a entrar no vermelho, ele roda. O mesmo acontece com Kamel. Afirmam que o chamado Ratzinger da Globo estaria estendendo seus tentáculos a todos os veículos das Organizações. Pior para ele. Quando a corda roer, ele dança. Tiram o bode da sala - no caso, o camelo. E vida que segue.
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É isso aí, Mello. Muito bom o seu blog, do qual tomei conhecimento através de um comentarista do blog do Luís Nassif. Já não compro jornalões e revistonas (nem esporadicamente) há mais de dois ou três meses. E nem os leio nas salas de espera. E faz dois meses que não ligo na TV Globo, a camelíssima (contraponto ao epíteto "sujíssima", aplicado à Veja, pelo Hélio Fernandes). Só espero (milagre?) que o IBOPE detecte o boicote que provavelmente está havendo, também, embora em menor grau, contra a Globo.
ResponderExcluirMello, a coisa está tão feia para os lados da Veja que, só aqui em casa, ela está mandando, graciosamente, exemplares para três pessoas, por uma período de seis semanas.
ResponderExcluirTodo santo dia, recebo e-mail da Veja oferecendo-me assinatura com desconto especial. Isto começou há uns quatro ou cinco meses, me levando a concluir que a decadência da revista se acentuou, quando ela começou a publicar mentiras, meias verdades ... contra a pessoa Lula, seu governo e todos os petistas, indiscriminadamente.
Agora, fico a pensar: a decadência da Veja e de O Globo (que, com certeza vai atingir a Folha, o Estadão, o JB e o sistema Globo) vai deixar muita gente desempregada. Onde vão parar o Minardi, o Clóvis Rossi, o Reinaldo Azevedo, a Fátima Bernardes, o William Bonner, o William Wach, o Merval Pereira, a Miriam Leitão, Marilene Cantanhede, o intelectualóide Jabour, o velho gagá Alexandre Garcia et caterva do jornalismo marron?
O que será do PSDB/PFL sem essa mídia partidária?
Por ventura, você tem uma solução para esse grave problema? Estou ansioso para saber, pois tenho pena daqueles puxa-sacos dos OFF, dos Marinhos, dos ACM, dos Mesquitas ...
O que será do povão sem o Fausto Silva, sem a Xuxa, sem a Angélica, sem o Jô Soares? A saída dessas pessoas da Vênus Platinada será uma perda irreparável para a cultura brasileira.
Será resultado da campanha feita pelos internautas?.
ResponderExcluirCaro Mello,
ResponderExcluirPor estas e outras que só compro Carta Capital, só lamento a Veja ser vendida 10 vezes ais que a Carta.
Um abraço.
Luis
Mello,
ResponderExcluirDescobri seu blog através de um amigo. Gostei muito. Sou de São Paulo e está difícil encontrar vida inteligente na grande mídia impressa daqui. Parabéns! Segue um artigo que escrevi sobre o tema.
Abraços.
Oliver Buzzo
IMPRENSA DE VAREJO
oliverbuzzo@uol.com.br
Nossos barões da imprensa venderam a idéia de que o “mercado” de favores na política é um “negócio” entre políticos somente. O “mensalão” – obra prima da literatura jornalística – teria sido um esquema de desvio de dinheiro público, criado por alguns maus representantes do povo. Os empresários, por exemplo, não tem nada a ver com essa estória. A política, afinal, é um mundo à parte. Será?
Em primeiro lugar, somente amadores operam com dinheiro público. Mesmo o “mensalão”, um esquema operado por dois ou tres birutas, foi majoritariamente financiado pelos bancos BMG e Rural. Houve uma participação do Banco do Brasil no esquema, mas isso apenas comprova o amadorismo do esquema. A participação de uma estatal coloca o Ministério Público no rastro da operação – um risco desnecessário. Considerando o leque de “favores” que o governo federal pode prestar à iniciativa privada, o envolvimento de “estatais” num esquema é “sujeira” desnecessária. De qualquer forma, o interesse jornalístico nisso tudo está no que a outra ponta (não os políticos) está levando. O banco BMG, por exemplo, ganhou o “OK” do governo para entrar no mercado do crédito consignado, um negócio de bilhões. Nesse caso, as consequências foram relativamente pequenas: os usuários do banco pagaram a conta.
Em segundo lugar, é necessário distinguir duas modalidades nesse “mercado”: há um “atacado” e há um “varejo”. Os esquemas de “varejo” são mais frequentes no segundo escalão do governo ou nas prefeituras e Estados marginais. Nestes, agentes privados e públicos identificam uma oportunidade de lucro fácil e estabelecem uma parceria para explorar aquele nicho. O empreendimento é improvisado, imediatista, oportunista, ilícito e só funciona numa escala reduzida. O “atacado”, em contraposição, lida com grandes recursos, visa interesses de longo prazo e é estruturado com profissionalismo. São esquemas desenhados para o alto escalão. A peculiaridade do “mensalão” está no fato de que ele foi um “negócio” de “varejo” na sua forma, mas operacionalizado por gente próxima ao presidente. A administração Lula e a de Collor têm isso em comum: ambas nasceram fora do “establismment”. Daí a presença de amadores em seus esquemas.
“Troca de favores” não é “greve” ou “comício” – atividades nas quais se “monta o circo”, faz o que tem que ser feito e “puxa o carro”. Os operadores do “mensalão” nem sequer cumpriam os compromissos assumidos. Roberto Jefferson pôs o esquema abaixo porque não pagaram o que lhe era devido. Nossos jornalistas se comprazem por ter desvendado um esquema porco, mas os profissionais do ramo operam sob o nariz da imprensa e com o beneplácito dela. Os agentes do “atacado” planejam suas transações com profissionalismo e atuam dentro da lei (ou na zona cinzenta da legalidade). Mesmo quando articulam uma demanda específica (“varejo”), o assunto é conduzido com profissionalismo. Por exemplo: uma empresa pode precisar de um “favor” de um político ou de um alto administrador numa posição chave. Um arranjo de longo prazo é estruturado com o facilitador. A conta é paga após ele encerrar suas atividades públicas. O pagamento vem na forma de um “emprego” bem remunerado. Geralmente o facilitador se torna um consultor ou conselheiro da empresa, qualquer função com mínima dedicação ao “trabalho”. Tudo é feito dentro da lei, sem uso de “laranjas” ou paraísos fiscais. Os verdadeiros profissionais do “atacado” jamais se meteriam numa aventura do tipo “mensalão”. É aqui que os nossos tucanos tem muito a ensinar aos nossos petistas. Além do Ministério Público, a reação do governo americano ao 11 de setembro acabou com a vida fácil desse pessoal. Ficou praticamente impossível circular grande soma de dinheiro anonimamente pelo mundo afora. Hoje em dia, o dinheiro circulante nos esquemas precisa ter lastro e isso requer profissionalismo.
Em terceiro lugar, vale destacar a diferença em tamanho do “varejo” para o “atacado”. Um dos principais exemplos dessa última modalidade foram os esquemas em torno das privatizações. Infelizmente essa estória não foi contada. Até houve uma CPI “calabresa” dessas transações e alguns dados interessantes foram levantados. Entretanto, nossos jornais e revistas não se interessaram em regurgitar esse material, como fizeram com outras “pizzas”. Suspeita-se que uma das pontas do esquema foram as operações ilegais de envio de dinheiro ao exterior via Banestado (a coisa foi estruturada antes do 11 de setembro). O jornalista Lucas Figueiredo calculou que o “mensalão” girou cerca de 61,5 milhões de reais. Uma cifra mais provável seria a de 100 milhões de reais. Compare, agora, a diferença de valores no “atacado”: a CPI do Banestado estimou que o esquema movimentou entre 90 e 150 bilhões de reais! É mole? Essa diferença astronômica dá uma idéia da seriedade do “atacadão”. Nossas “vejas”, no entanto, só se interessam por transações “a granel”.
O melhor exemplo de “atacadão” é o financiamento de campanhas. Aqui a tendência à profissionalização tem sido crescente. Não há razão objetiva para a existência de caixa dois nas campanhas, além da força do hábito dos velhos caciques partidários. O captador ainda é um tipo sombrio, mas, em alguns anos, é provável que esse “serviçinho” seja feito, rotineiramente, por “fedelhos”, egressos das faculdades de administração. A aurora desse novo tempo já está no ar. O TSE vem apontando, eleições após eleições, um aumento incrível no volume de dinheiro declarado. Partidos e empresas só tendem a ganhar com isso. Interesses de longo têrmo, conduzidos via lideranças partidárias (em vez de candidatos avulsos), firmados por meio de doações transparentes, trarão maior segurança e menor volatilidade ao sistema. A profissionalização fará do “troca-troca” um negócio “digno”, como atesta o estado de coisas nos EUA. Em tese, a sociedade também ganha com isso: é melhor conviver à luz do dia com o sistema e saber quais são os interesses em jogo. Pessoalmente, sentirei saudades da situação presente - um mundo inocente, onde o “jabaculê” ainda é “coisa feia”.
Por último, é preciso compreender as consequências políticas do “atacadão”. O “varejo” da troca de favores tem um custo financeiro, mas é politicamente inofensivo. É verdade que os loucos anos do “mensalão” levaram nossos moralistas à loucura, mas afora o aumento da temperatura política não houve desdobramentos significativos. O “atacado”, em contraposição, provoca reordenamentos político-institucionais – coisas que afetam seriamente a vida de todos nós.
Façamos um exercício de jornalismo, aqui, para melhor entender essa questão. No momento em que escrevo há algumas notícias com cheiro de “jabaculê”. No dia 21 de março, por exemplo, o presidente Lula sancionou um projeto, que reduz o quórum da Comissão de Biosegurança (CTNBio) para liberação comercial de sementes transgênicas. Com a nova regra, a maioria simples de votos – e não mais de dois terços – será suficiente para aprovar a comercialização de novas sementes. A mudança foi feita na véspera de uma reunião da CTNBio, que decidiria a liberação comercial de um tipo de semente de milho transgênico, de propriedade de uma grande multinacional. O resto da estória não interessa aqui: alguns ambientalistas, capazes de somar dois mais dois, invadiram a reunião e impediram, temporariamente, a finalização da jogada.
Sem entrar nos méritos técnicos da questão dos transgênicos, o que interessa aqui é a inusitada “simpatia” do governo Lula aos transgênicos. É sabido que há uma forte oposição aos transgênicos no interior do governo. A Ministra do Meio Ambiente é notória oponente dessa tecnologia. Essa oposição não se restringe ao PT. No governo FHC a produção de gêneros transgênicos ficou proibida no país. Dois anos atrás, numa “canetada”, Lula mudou as regras e autorizou a produção de um determinado tipo de soja transgênica (e outro de algodão). A justificativa do governo para a mudança da regra foi a de que o uso ilegal da semente transgênica da soja era generalizado no campo, sem o devido pagamento de royalties. O governo estaria apenas regularizando uma situação de fato. Na lógica do governo, em vez de aplicar a lei (que proibia a produção de transgênicos), preferiu-se legalizar o comportamento criminoso.
É claro que a lógica é outra. A produção de alimentos é um mercado de trilhões de dólares. A tecnologia do transgênico têm o potencial de revolucionar a forma como os alimentos são produzidos. A mudança na lei abre caminho para uma maior participação das multinacionais nesse mercado. Nada de errado na política pró-transgênicos de Lula. O autor desse artigo não tem posição definida sobre o assunto. O que deveria chamar a atenção dos nossos jornalistas é a forma como essa política está sendo desenvolvida. Políticos costumam anunciar suas causas, quando se orgulham delas. O assunto interessa diretamente à nossa economia e a 188 milhões de consumidores brasileiros. A política vira uma prática sombria, a partir do momento em que assuntos sérios passam a ser decididos na “calada da noite”. Esse é o principal aspecto do “atacadão”: a troca de favores dessa modalidade provoca modificações em legislações, coisa que afeta profundamente nossas vidas.
Diante disso tudo fica a pergunta: por que a grande imprensa só se interessa por “varejista”? Se eu gostasse de pizza, proporia uma CPI da imprensa.
A Veja odeia todos os petistas. Acho que por isso sou petista ao extremo. O ódio da Veja é a única coisa que pode se esperar dela. Rancor, ódio, ressentimento, mágoa, angústia, preconceito, homofobia, racismo. O que mais a Veja pode nos oferecer?
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