Varre-Sai, Brasil

O Globo deste domingo publicou uma excelente reportagem de Bernardo Mello Franco. Como o novo sistema de O Globo não permite link, sugiro aos assinantes ou aos que compraram o jornal nas bancas que dêem um pulo na página 14 para ler a matéria. Quem não tem essa possibilidade, aqui vai um resumo dela.

O pequeno município de Varre-Sai fica no Noroeste do Estado do Rio, tem pouco mais de 8 mil habitantes e é o município mais pobre do estado. Mas não apenas isso: Varre-Sai é também um microcosmo do Brasil.

É comandado pelo prefeito Antonio Said (PMDB). Nas últimas eleições, o prefeito apoiou Paulo Feijó (PSDB), que prometera uma ambulância ao município. Feijó teve 49% dos votos de Varre-Sai, elegeu-se deputado federal, cumpriu o prometido, e entregou uma UTI móvel ao município. Está sendo acusado pela CPI das Sanguessugas por causa dela. Por isso, não concorre este ano.

Já que o antigo candidato não está na disputa, o prefeito tem um novo: Pudim (PMDB). Said explica o porquê:
Garotinho [ex-governador, marido da atual governadora, ex-candidato a presidente da República, e agora cabo eleitoral de Pudim] ligou para mim e disse: "Vamos fazer o asfalto, mas você me ajuda com o Pudim". Não quero saber se é pudim, se é broa ou se é bolo. Eu quero é a obra.

As obras já começaram: o asfaltamento de sete quilômetros da rodovia RJ-214. Graças a isso, Pudim tem um comitê no município, coordenado pelo filho e (sic) chefe de gabinete do prefeito. Em frente ao comitê funciona o posto de atendimento médico local, batizado de Saúde com Atendimento Integrado e Diversificado (SAID), cujas iniciais em destaque formam, coincidentemente, o sobrenome do prefeito.

Mas o filho não é o único parente de Said na prefeitura. Ao todo são 35 ("Quem não ajudaria a sua família?" - afirma Said). Entre eles, duas irmãs - uma secretária de Saúde; outra, de Educação.

Os telefones da prefeitura estão cortados há meses por falta de pagamento. Said está sendo acusado de apropriação indébita, por não repassar o desconto dos servidores à previdência municipal. Ele reconhece a dívida de mais de R$ 1 milhão.

Em 2004, o Ministério Público Eleitoral pediu a impugnação do mandato de Said. Apresentou 18 testemunhas que confirmaram que ele usou veículos da prefeitura para transportar eleitores, distribuiu gasolina e uniformes de futebol com seu nome. Nada aconteceu, porque a juíza Simone de Freitas Marreiros reconheceu a existência de "indícios veementes" de compra de votos, mas alegou não ter "certeza absoluta" do crime.

(Atenção: se você não quer eleger um parlamentar corrupto, clique aqui, e não deixe de ler esta postagem.)

Se esta é sua primeira vez neste blog, clique aqui
Clique aqui e adicione este blog aos seus Favoritos