PAN do Rio: Crônica de um escândalo anunciado (2)

Há dois meses fiz esta postagem aqui no blog:

PAN do Rio: Crônica de um escândalo anunciado

Os 13 leitores deste blog (é comum cronistas citarem o número 17, mas eu prefiro o 13) sabem do meu amor pela minha cidade. Por isso, estou muito satisfeito que o PAN aconteça aqui este ano. Mais uma vez o Rio vai mostrar a todos os que o visitarem por que é conhecido como Cidade Maravilhosa. Não apenas por sua paisagem esplendorosa mas também pela paisagem humana, pela maneira carinhosa com que os cariocas de todos os lugares do planeta recebem os que nos visitam.

Mas debaixo da organização desse PAN há um cheiro estranho que anuncia que aí vêm as cinco letras que fedem. Tudo está sendo feito às pressas, sem licitação (por falta de tempo, alegam), mas até a estátua de Carlos Drummond de Andrade na praia de Copacabana sabe que o PAN do Rio está anunciado há muitos anos. Por que deixaram tudo para a última hora?

Uma pista para a resposta: o custo dos preparativos já chegou a R$ 3,5 bilhões. Isso é cinco vezes mais do que estava no projeto original. E, para os esquecidinhos, recordo que esse projeto contemplava a despoluição da Baía de Guanabara e a extensão do metrô. Nada disso foi feito. Eram apenas cerejas do bolo para a aprovação do projeto. Ainda assim ele está cinco vezes mais caro.

Ontem, o jornal O Globo levantou o caso da Ticketronics, empresa que vai vender os ingressos para o PAN. Um de seus sócios é dirigente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o que torna a escolha, no mínimo, suspeita. Mas há suspeitas maiores, um zunzunzum nos bastidores de que figura ainda mais graúda é sócia de uma agência que cuida de tudo relativo ao PAN.

Por que a grande imprensa, que tem equipe e dinheiro para fazer uma investigação aprofundada, solta pequenas pílulas aqui e ali e deixa a grana rolar solta? Será que é por que boa parte dela será transformada em anúncios?

Agora, o TCU avança mais um pouco nas denúncias. Relatório aprovado ontem aponta indícios de irregularidades de todos os tipos e vindas de todos os lados. No entanto, o ministro Marcos Vilaça, relator do caso, afirmou, segundo O Globo:
- Se entrarmos fortemente nesse assunto, teremos que impedir a realização dos jogos. Isso nenhum brasileiro quer, nem seria patriótico. Os impasses continuam: convênios sucessivos, acordos ao sabor da urgência, não necessariamente no caminho da legalidade.

Pois é contando com nosso patriotismo e com nosso desejo de que os jogos se realizem que os espertalhões de sempre estão roubando como nunca, com a certeza de que ninguém terá coragem de mandar parar a bandalheira.

Depois do PAN é que vai começar a grita, especialmente da grande imprensa, que - podem anotar - vai gerar manchetes e mais manchetes sobre as falcatruas e os escândalos ocorridos no PAN.

Mas já será tarde demais. A grana desviada já estará passeando no exterior e - o mais importante para a grande imprensa - as verbas de publicidade já terão engordado seu caixa. No conjunto conluio e mamata os ladrões do dinheiro público e a grande imprensa vão ganhar medalha de ouro.

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