Segundo episódio de 'O Dia que Durou 21 anos' revela que até primeiro presidente do golpe foi escolha 'made in USA'

A exibição ontem às 22h pela TV Brasil do documentário "O Dia que Durou 21 anos" revelou mais um pacote de documentos inéditos, alguns classificados como Top Secret pelo governo dos Estados Unidos, sobre o golpe civil-militar de 1964, e deixou ainda mais clara a influência decisiva dos EUA em um país que vivia em pleno estado de Direito, com um presidente democraticamente eleito.

Logo no início do episódio temos uma declaração do presidente Lyndon Johnson, que havia sucedido o presidente Kennedy, assassinado em Dalas, em 1963. Johnson afirma que os Estados Unidos não iriam permitir novo governo com tendências esquerdistas no hemisfério ocidental.

Para isso, o embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, já vinha trabalhando há tempos. A decisão era que fossem usados todos os meios para criar um clima contrário ao presidente Jango e favorável a um golpe militar pró Estados Unidos.

Através do Ibad foram realizadas ações, escritas colunas em jornais e revistas, produzidos filmes e comerciais para rádio, TV e salas de cinema, editoriais, tudo para atingir o objetivo norte-americano de confundir seus interesses com os nossos. Ao mesmo tempo, agentes da CIA atuavam na outra ponta, radicalizando movimentos sociais para que fugissem ao controle do governo.

Um depoimento de Laurita Mourão, filha do general Mourão, que deflagrou o golpe na noite de 31 de março de 1964, diz tudo em poucas palavras. Segundo ela, o pai, quando partiu de Juiz de Fora com suas tropas em direção ao Rio de Janeiro, esperava derramamento de sangue. No entanto, as tropas chegaram ao Rio sem qualquer resistência. Seu pai teria entregue o comando então ao general Costa e Silva, que, segundo Laurita, foi surpreendido dormindo e de cuecas, na madrugada do dia 1º de abril, o dia dos Tolos, segundo ela declara, irônica.

Mas não foi Costa e Silva quem se tornou presidente. Porque o escolhido pelos norte-americanos era outro, o chefe do Estado-Maior do Exército Castelo Branco. Documentos exibidos no episódio de ontem mostram que Castelo era o porta-voz preferido dos americanos e que teria solicitado o envio de frota dos EUA para apoiá-los no Brasil.

O coordenador do National Security Archives Peter Kornelur afirma que os Estados Unidos utilizaram contra o Brasil a mesma intimidação aplicada a pequenos países das Américas: a presença de sua frota.

Fico imaginando os militares que eram verdadeiramente idealistas e não apenas golpistas atuando em favor de empresários, multinacionais e do governo americano. Ao verem os documentos e até onde estavam sendo manipulados pelo governo dos EUA, como se sentirão hoje? O mesmo se aplica aos líderes esquerdistas que se deixaram levar por agentes da CIA infiltrados, que fizeram que acreditassem que o Brasil estava maduro para a reforma agrária e um governo decididamente popular.

O segundo episódio termina com a fuga de Jango, primeiro para Brasília, em seguida para seu estado natal, Rio Grande do Sul, para depois rumar para o exílio. Por que ele não resistiu? É uma pergunta que ficou no ar.

Hoje a TV Brasil vai exibir o terceiro e último episódio de "O Dia que Durou 21 anos", também às 22h. Se quiser ler sobre comentário do primeiro episódio, clique aqui.

Ah, e continuo à espera de que o documentário, que é coproduzido pela TV Brasil, seja liberado na internet, para os que ainda não tiveram a oportunidade de assisti-lo e para os que, como eu, gostariam de revê-lo com mais cuidado e aprofundamento.

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