Ao permitir a entrada da polícia na sua casa no Brooklin, zona sul de São Paulo, na noite de anteontem, o jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, 74, fez um desabafo para um delegado: "eu preferia ter começado a cumprir minha pena logo após o julgamento. Só assim teria voltado a ser um homem normal, que vai ao restaurante ou à padaria".
Agora que vislumbra os dias de cadeia que terá pela frente, Pimenta Neves filosofa. Mas sempre tomando sua pessoa como referência, sem uma palavra a respeito da vítima (a jornalista Sandra Gomide, de 32 anos) ou sua família.
Por que não tomou a atitude antes e por que se lamenta agora? A cadeia em que está metido é a resposta.
Todos podemos cometer erros. Ninguém está livre de um ato impensado.
Mas não foi o que aconteceu com Pimenta Neves. Primeiro, ao ser rejeitado pela namorada 30 anos mais jovem, usou o poder do cargo de diretor de redação do Estadão e a demitiu. Não satisfeito, ligou para todos os principais jornais e revistas e pediu para que não a contratassem, senão... Quem iria bater de frente com o diretor de redação do àquela época poderoso Estadão?
Desempregada e com as portas se fechando em sua cara, ele esperava que Sandra Gomide voltasse pra ele.
Ela não voltou. E ele a chamou para uma conversa, já com a arma preparada, e a matou com um tiro nas costas e outro na nuca, com Sandra já caída e indefesa.
Confessou o crime. Mas contratou advogados para se livrar da pena.
Agora se lamenta. Mas se lamenta por ele mesmo.
Realmente, se houvesse cometido o crime hediondo que cometeu e optado por pagá-lo na cadeia, sem recorrer a estratagemas de advogados, Pimenta Neves estaria hoje livre.
Mas ele é a parte menor no assunto. Sandra Gomide está morta. E sua família, destruída. Declaração de pai de Sandra:
Minha mulher ficou com problema psíquico. Ficou com transtorno bipolar e está internada em Santos. De dois em dois meses vou ao psiquiatra com ela. Ela acha que a Sandra está viva, às vezes, e depois acha que sou culpado pela morte dela. Ela toma três remédios de dia e três à noite, só remédio forte. Eu fiquei com neuropatia diabética, tive problemas de coração, tive de fazer quatro safenas e uma mamária. Só de acordar à noite, lá para uma da manhã, de pensar nesse caso...só de pensar que o Pimenta está numa boa e eu aqui nessa vida...Isso é muito ruim para mim. É a pior coisa. É preferível perder as pernas do que perder uma filha desse jeito. Eu nunca pensei que eu ia sair de Minas Gerais, fazer minha família aqui e depois acontecer um negócio desses. Às vezes eu penso “Será que tudo isso aconteceu mesmo? Será que esse sou eu mesmo?”. [Fonte]
Este outro crime Pimenta Neves não paga, nem se mostra arrependido ou consciente de o haver cometido. Lamenta apenas agora os dias de cadeia pela frente. Nenhuma palavra sobre a vida que tirou ou a família que destruiu.
Nenhuma explicação para o fato de que só não ficou preso anteriormente graças a seus advogados, regiamente pagos.
Se realmente tivesse cometido um ato impensado, aceitaria a pena, liberaria os advogados, pediria desculpas à família. E aí, quem sabe, não teria cometido os outros dois assassinatos indiretos e impunes que cometeu: do pai e da mãe de Sandra Gomide.
Crimes que ficarão impunes.
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