Segundo o SOS Estradas, acidentes nas estradas brasileiras matam 35 pessoas por dia e ferem outras 417, das quais 30 morrem. Ou seja, 65 mortos por dia. Portanto, o que define se um acidente vai ser notícia ou não depende dos envolvidos.
Foi o que aconteceu no caso do atropelamento de sábado. O jovem filho do bilionário atropelou o ciclista e reconheceu que o fez. Não fugiu. E se dispôs a ajudar a família no que fosse necessário - o que está fazendo, segundo se informa até o momento.
No entanto, a partir daí as opiniões entram em conflito. Segundo Thor e mais uma testemunha (ou duas, de acordo com a fonte) o ciclista atravessou a rodovia Rio-Petrópolis, quando foi atropelado. Segundo outra testemunha, o ciclista estava no acostamento e foi atingido de frente.
Thor pilotava uma Mercedes-Benz SLR McLaren prata, placa EIK-0063, ano 2006, o que, convenhamos, é um luxo pra nós, mas não para um bilionário - 2006?
Aí entram o privilégio e o preconceito. Alguns defenderam o jovem, por ser filho de quem é. Outros o condenaram pelo mesmo motivo. Puro preconceito.
Mas, o que não se pode admitir é o privilégio. Segundo o Código Nacional de Trânsito, em acidentes com vítimas o(s) veículo(s) deve(m) permanecer no local à espera da perícia. Ou, em caso de atrapalharem o trânsito, ser(em) levado(s) a local seguro.
No entanto, advogado do filho de Eike conseguiu pegar o carro e levá-lo para local incerto e não sabido (como gostam de dizer as reportagens policiais), com a promessa de que ele não seria adulterado. Se não fosse advogado de quem é, teria conseguido?
Preconceito e privilégio são duas faces da moeda do sistema capitalista, baseado no ressentimento.
O caso lembra o atropelamento e morte do filho da atriz Cissa Guimarães, como bem observou o Jornal do Brasil:
Em julho de 2010, o empresário Roberto Bussamra, pai do atropelador do filho da atriz Cissa Guimarães, foi indiciado por corrupção ativa depois de ter, segundo policiais militares, oferecido R$ 10 mil para que liberassem seu filho e o carro envolvido na morte do músico.
Na noite do atropelamento, o carro que matou o skatista Rafael Mascarenhas foi retirado do Túnel Acústico, na Gávea, irregularmente, e foi enviado para uma oficina mecânica, em Quintino, na Zona Norte do Rio, para que se consertasse os estragos feitos pelo atropelamento. Eliminando assim, possíveis provas. A suspeita da polícia, era de que o carro de Rafael Bussamra era usado para fazer um pega no momento do acidente. O Túnel Acústico estava fechado para manutenção, mas o atropelador conseguiu adentrá-lo por meio de um vão de emergência.
Segundo o JB, o advogado Cléber Carvalho Rumbelsperger, contratado pela família do ajudante de caminhão atropelado pelo filho do bilionário (advogado de ajudante de caminhão? Hum! Eles [advogados] são rápidos e oportunistas como camelôs... rsrs), afirmou que alguns procedimentos adotados são irregulares:
A primeira suspeita do advogado é sobre as poucas informações da perícia que teria sido realizada no local do acidente e no veículo usado por Thor. A outra suspeita recai sobre o fato do advogado da família de Thor ter ido à delegacia no lugar do atropelador e, em seguida, ter retirado o veículo do pátio da Polícia Rodoviária Federal.
"O documento de ocorrência policial (registro de ocorrência) não diz absolutamente nada. A polícia não ouviu ninguém, ao que me consta. Isso não é de praxe, não é comum se ver isso. É muito estranho que o atropelador deixe o local da morte sem ter ido à delegacia. O motorista foi abordado por policiais na hora do acidente, deveria ter ido à delegacia de polícia para prestar esclarecimentos, mas isto não aconteceu", destacou o representante da família da vítima, baseado numa cópia do registro de ocorrência.
Se o ciclista ajudante de caminhão fosse o bilionário e o atropelador o ajudante de caminhão, a história seria contada do mesmo modo? Familiares conseguiriam retirar a "Brasília amarela" do local, com a promessa de mantê-la intacta?
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