sexta-feira, 22 de março de 2013

Professora que faz parte da banca de correção das redações do ENEM escreve ao Blog indignada

Recebi em meu e-mail:

Faço parte da banca de correção das redações do ENEM já há algum tempo. Por motivo de segurança, é pedido que sejamos discretos e não saiamos gritando aos quatro ventos que fazemos parte da equipe de correção. Por isso, peço que você tente divulgar o processo pelo qual passamos, sem citar, infelizmente, o meu nome.

Foram 229 turmas de professores, cada uma com 30 corretores. Foram 6.870 professores corrigindo no Brasil inteiro!

Em primeiro lugar, são escolhidos os professores coordenadores dessas turmas. São professores da Universidades Federais de todo o país com vasta experiência em correção de concursos e vestibulares. Em seguida, cada um monta a sua equipe de trinta professores, que devem ter experiência comprovada de docência com alunos do Ensino Médio. 

Passamos, então, por um curso online, com duração de 1 mês, em que estudamos o manual de correção do ENEM, e detalhamos/treinamos exaustivamente cada competência linguística em redações do ano anterior. Realizamos 'n' atividades simuladas, com acompanhamento hiper atento da coordenação, que ia ajustando as nossas correções, comparando e tirando as dúvidas em tempo quase real. E ainda discutíamos as nossas opiniões com os colegas, no fórum próprio para isso.

Esse curso, inclusive, serviu para conhecer os professores que não estavam corrigindo dentro dos padrões estabelecidos, e os mesmos foram dispensados. 

Antes de iniciarmos a correção propriamente dita, ainda tivemos um dia inteiro de treinamento presencial, para treinarmos mais um bocado e afinar os critérios. 

Durante toda a correção - que é feita por dois corretores e, havendo diferença significativa entre as notas, entra um terceiro corretor - temos a supervisão direta da coordenação, para esclarecer qualquer dúvida e ajudar efetivamente.

Vão ocorrer falhas? Evidente que sim! Mas tenhamos bom senso e boa vontade para analisar a situação. O que anda aparecendo na mídia são exemplos de redações que deveriam ter sido penalizadas por perderem a coerência no desenvolvimento do texto - como o caso da receita do miojo, evidentemente -. Certo. Mas, agora, um dos candidatos diz que fez de propósito, apenas para ver se a correção era séria! Como assim? Por que alguém que não precisa fazer o concurso se submeteria ao mesmo "apenas para ver se a correção era bem feita'". Sinto muito, mas alguma coisa está fora da ordem. Qual a intenção de uma atitude dessa? E, cá pra nós, eu desconheço a letra do hino do Palmeiras. Se ela entrou e fez sentido no texto do candidato, é muito possível que 95% dos corretores (ou mais) tivessem aceitado a dita cuja.

Todos os cuidados possíveis e previsíveis foram tomados. As pessoas envolvidas são super responsáveis e sérias. 

Parece que há uma orquestração para desmerecer e desprestigiar a iniciativa governamental. Quem pode se beneficiar com isso? As pessoas que são contrárias a um ensino mais consequente e democrático, que são favoráveis aos cursinhos pré vestibulares e apostilas que já vêm com a resposta certa... será?

Enfim, tô sentindo muita falta de uma voz que discorde de toda a babaquice que vem sendo divulgada e tomada como verdade irrefutável. Nunca vi tanta gente indignada com a ortografia da Língua.

Pois é... Quais são os interesses? Na minha opinião, a professora acerta na mosca quando diz que são "As pessoas que são contrárias a um ensino mais consequente e democrático, que são favoráveis aos cursinhos pré vestibulares e apostilas que já vêm com a resposta certa".

No entanto, como bem demonstrou o impagável Cloaca News, em geral essas pessoas são a fonte do problema que apontam. Confiram estas amostras colhidas pelo Sr.Cloaca e vejam a coleção completa direto na fonte.












A Rosane aí de cima é colunista do Zero Hora, do RS. Curiosamente, ela também desceu o malho nos tais erros das redações...

19 comentários:

  1. Faltou dizer que: os professores que se queixam da correção, considerando-a uma tarefa 'desumana' (cerca de 100 redações por dia), são pessoas que não têm experiência. Professores que trabalham com produção de textos e que têm várias turmas, fazem isso com muita tranquilidade e competência, porque faz parte da sua rotina lidar com muitas correções, sempre.

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  2. Para acabar com esse tipo de coisa basta avaliar o desempenho do aluno durante toda sua jornada escolar e não apenas em uma prova.

    Acredito que muita coisa melhorou com o ENEM, mas é necessário também melhorar o próprio ENEM, sempre.

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  3. É por estas e outras que temos muitos analfabéticos funcionais.
    Formamos cidadãos sem nenhuma sensibilidade perante a vida.
    muitos não aprendem nem a escrever o próprio nome é um tal de nós vem, nós vão, ai mermão etc...
    A língua portuguesa é assassinada a cada projecto governamental e com o caos em que se encontra a educação conclui se que nada funciona e o caminho que se leva da teoria a prática nada é desenvolvido como se deve.
    Quanto ao desabafo da professora posso concordar em termos; pois temos sim muitos profissionais qualificados e compromissados e realmente há óptimas capacitações, eu mesma participei de muitas e como se aprende, inclusive a adequar as nossas práticas pedagógicas se colocando no lugar do aluno trabalhando as necessidades dele, mas também temos muitos que já deixaram de acreditar na educação faz tempo.
    E não culpo só o sistema pois temos um longo caminho e "M" factores que levam a este desfecho caótico.
    Tenho uma experiência parecida em casa, no lugar onde deveria ter um trabalho de história, meu filho colocou uma receita de bolo e ganhou nota máxima.
    Enquanto o país se preocupar só com maquiação de resultados e só se preocupar em fazer figura de competência e excelência para os países estrangeiros e não assumir a culpa, não vejo luz no fim do túnel.
    Educação é a base de tudo e na falta dela é que nascem todas as mazelas que assola o Brasil.

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    1. Mazelas que "assola" o Brasil? Tem certeza que você quer ir por este caminho?

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    2. Anônimo23.3.13

      "projecto"?!
      pronome posposto sem hífen?
      (continuo?)

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    3. Anônimo23.3.13

      Não acredito que uma pessoa q escreva tão mal tem coragem de se dizer professora? Então, temos "analfabéticos" funcionais? Sei

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    4. Anônimo24.3.13

      Calma pessoal, tudo bem, não usamos a consoante (c) muda há muito tempo no português brasileiro (desde os anos 50, se não me engano)... Talvez essa pessoa seja natural de Portugal ou de algum país africano... Isso não a impede de ser professora, mas claro, para tal, vai ter que se adequar às normas do nosso português. Ainda prefiro ela usando consoante muda a um bando de analfabetos funcionais falando nós vai (como ela disse).

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  4. Como sempre os simpatizantes do governo querendo justificar um erro com outro...pffff

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  5. Olá, Mello!
    Bravo!!
    Excelente postura em abrir o espaço para reflexões oportunas e sensatas.
    Saiba a professora depoente que neste país há uma parcela expressiva de cidadãos e cidadãs, profissionais em todas as áreas de atividade, em comum acordo com a reflexão, o pensamento e o sentimento dela. Críticas sempre haverá. Ninguém está imune. Nesse caso específico do ENEM é perfeitamente perceptível registrar o DNA do PIG e tucanalhas com o objetivo único de TENTAR jogar o ventilador na farofa do governo federal e, por extensão, do MEC via ENEM. Diga-se ainda que os mesmos tem seguidores diletos - aqueles evocados por Bertolt Brecht, energúmenos por natureza - que repercutem o sentimento derrotista deletério de um grupo político cujo tempo é passado na História nacional brasileira.
    O Brasil atual é o Brasil do ENEM, do SiSU, do Brasil Sem Fronteiras, do Pronatec, Brasil do Prouni, do Bolsa Família, do pleno emprego, Brasil do pré-sal, da grandiosidade da Petrobras, das relações internacionais e do respeito à autodeterminação de todos os povos. Tb é preciso clarear que o ENEM se consolida a cada ano e veio pra ficar junto com SiSU, Prouni, Fies e demais programas federais que melhoram sensivelmente a qualidade de vida dos brasileiros de todos os rincões.
    Tb não custa evocar o mestre e guru Paulo Freire para quem não se pode negar o caráter político da educação do mesmo modo como não se pode negar o caráter educativo da política. Parabéns, professora manifestante e parabéns Mello, pelo espaço concedido.
    Um abraço

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    1. Anônimo22.3.13

      Que coisa estranha.
      1.O Brasil atual é o Brasil do ENEM, do SiSU, do Brasil Sem Fronteiras, do Pronatec, Brasil do Prouni, do Bolsa Família, do pleno emprego, Brasil do pré-sal, da grandiosidade da Petrobras,
      2.é perfeitamente perceptível registrar o DNA do PIG e tucanalhas
      -ISSO ME FAZ LEMBRAR DA ÉPOCA DA DITADURA. A EUFORIA DO BRASIL GRANDE, SEM LIMITES...(SERÁ QUE A PETROBRÁS É AINDA GRANDIOSA? O PRÉ-SAL REPRESENTA O QUE?)
      -ME FAZ LEMBRAR TAMBÉM QUE NAQUELA ÉPOCA, A DITADURA ERA A VERDADE E TODA A CRÍTICA ERA DE COMUNISTAS.
      HOJE O PT É A VERDADE E TODA A CRÍTICA É PIG E TUCANALHAS.
      LUCASBLOG....VOCÊ JÁ PENSOU QUE EXISTEM OUTROS LADOS ALÉM DOS PETRALHAS E DA TUCANALHAS (ALIÁS SÃO IGUAIS).
      QUE HORROR

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    2. Concordo plenamente.

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  6. Anônimo22.3.13

    U emportante é o conteúdo e nãu há gramatica,segundo profeçores de uma faculdade federal.

    Bem, esses dois alunos tiraram notas mais altas que a minha. Não tive NENHUM erro gramatical na minha redação, não fugi do tema, uma redação coerente. Além de eu achar isso, estava escrito no meu próprio boletim de desempenho, li e reli a minha e não entendi a nota. Agora, na próxima redação coloco uma receita de gelatina e, mais, posso escrever errado!

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    1. Você mesmo é melhor avaliador da sua redação do que um profissional que trabalha com isso há anos? Tem certeza?

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  7. Pode realmente haver professores que fazem a correção adequadamente, mas isso não significa que a atitude correta foi adotada por todos eles, pois se realmente houvesse uma equipe de professores com interesse em educar, pelos menos uma das redações deveria ter sido corrigida e recebido um 0. Não consigo aceitar o fato de que uma receita de miojo e o hino do palmeiras tenha sido aceito com notas acima de 0. Está muito evidente que os estudantes foram por aventura satirizar o ENEM e conseguiram provar que a avaliação é mal feita. Por maior que seja a desculpa que vocês venham fazer agora, não justifica aceitar as redações. Já não bastasse o erro de avaliação com questões trocadas no ano passado, agora para piorar, os estudantes são feitos de otários, esta é a educação que estamos recebendo, infelizmente.

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  8. João22.3.13

    Pois é, Mello, mas infelizmente a própria professora aí comete alguns erros nesse texto. Não é picuinha, mas nem preciso dizer que quem ensina precisa saber.
    Exemplos: "As apostilas já veem com a resposta certa". O correto é "As apostilas já vêm com a resposta certa". Outra: "hiper atento". O correto é a união do prefixo à palavra: "hiperatento".
    No mais, a crítica parece honesta.

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  9. Interessante ver o lado da professora. Sei que houve intensa preparação por parte dos corretores pois tenho uma amiga que foi corretora, mas é inegável que o ocorrido foi um desacato com os alunos que fizeram a prova de forma séria e tiraram baixas notas. Em todos os vestibulares, fuga ao tema merece nota ZERO. Por que o ENEM deve ser diferente? Na minha opinião só há uma explicação: estão "forçando a barra" para que mais e mais pessoas passem nos vestibulares. Querem aumentar o índice de universitários no país, não se importando entretanto, de estarem formando completos analfabetos funcionais. Que profissionais teremos no futuro? A educação deve ser levada a sério. Não há nada que justifique a nota, acima da média, de um aluno que escreveu uma receita de um miojo.

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  10. Pobre professora! Se a senhora acha sua tarefa tão difícil por que a faz? Saia. Agora dizer que a galhofa do aluno é um bom motivo para respeitarmos professores que não fazem seu trabalho com competência é outra coisa. Vocês são incompetentes e ponto! O menino está certo...Ele é um menino e pensa como um menino, faz o que um menino faz...Mas vocês são adultos e bem pagos para não deixarem as "coisas de um menino" tirarem o lugar de um outro aluno que, provavelmente, sofreu para fazer a prova e viu sua vaga ser dada, pela incompetência de alguns professores, a outro menino "galhofeiro"...

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  11. Não se trata de justificar um erro com outro (s), mas de mostrar que quem critica é, no mínimo, suspeito, já que o faz de modo destrutivo e erra mais que todos. Tentar destruir ou denegrir o ENEM, que seleciona alunos para as universidades públicas e mede em boa escala o grau de aprendizagem, é uma tolice. Tentam passar a idéia de que tudo é feito sem critério e sem cuidado algum. O e-mail da professora serve para mostrar que não é assim. Acho que até a NASA erra ... ou não? Se procurar legal, sou capaz de achar imperfeições até em dicionários famosos, mesmo sendo revisados por mais de uma pessoa.

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  12. Acredito firmemente que em uma sociedade democrática, os pontos fracos e fortes correspondem àquilo que o povo coletivamente valoriza ou relega a segundo plano. Ou seja, se temos educação de má qualidade, é porque infelizmente nossa sociedade não vê na educação um valor mais importante do que, por exemplo, a distinção social conferida pelo título acadêmico. Pois é um fato que nos últimos anos multiplicaram-se os números de cursos universitários no País, ao passo que na comparação com o nível educacional em outras nações, os índices brasileiros são vergonhosos, atrás de vizinhos como Chile e Argentina. Repito, a conclusão só pode ser uma - interessa mais ao cidadão médio ter um diploma do que efetivamente adquirir educação.

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