'Foi o trabalho da mídia que transformou o canalha em herói nacional'. Não haveria o golpe e suas consequências, se não fosse ela


Não estaríamos vivendo sob um golpe de Estado se não fosse o papel fundamental da mídia corporativa, Organizações Globo à frente. Desde o primeiro dia do primeiro governo Lula foi uma saraivada de ataques, uma desconstrução da imagem do PT e seus governos (que não eram só do PT, diga-se), que, falem o que quiserem falar, tiraram 40 milhões de brasileiros da linha da miséria, sem contar todas as outras realizações em todas as áreas - menos a da Comunicação, e por isso se perdeu.

Melhor do que eu explica o sociólogo Jessé Souza, um dos mais importantes pensadores sobre o Brasil de hoje, qual o papel e como agiu a mídia. Destaco algumas partes e depois você clica no link e lê o artigo todo, porque vale muito a pena.
O papel manipulador da mídia depende precisamente de que ela não seja percebida como um “ator social com interesses próprios”. (...). 
... foi a mídia que dignificou e sacralizou o incômodo mesquinho e venal da fração conservadora da classe média, primeiro com a necessidade de partilhar espaços sociais antes restritos a ela, como aeroportos e “shopping centers” e,  depois,  o “medo irracional” da competição por seus salários e prestígio social com a política de cotas sociais e bolsas nas universidades. 
O que aconteceu foi uma “sacralização moral” do ódio de classe – contra uma classe de “escravos modernos” desprezada, abandonada e percebida como mão de obra farta e barata para seu uso e abuso – que foi transformado em “indignação moral” contra a corrupção. 
Antes da criminosa manipulação midiática - que hoje atolou o pais em ódio e obscurantismo – esse ódio de classe não era de expressão “legítima”. Em uma sociedade ainda que superficialmente cristã como a nossa, quem odeia os mais frágeis e os mais fracos é um simples canalha. Foi o trabalho da mídia que transformou o canalha em “herói nacional”, ao conferir o pretexto, o discurso e o herói de carne e osso (o juiz Sérgio Moro) da grande farsa que possibilitou transmutar o ódio ao PT e a sua obra de combate à pobreza em cruzada moral contra a corrupção. 
(...) A classe média foi feita de tola e trocou a sacralização de seu ódio covarde e canalha contra os mais frágeis que ela explora por uma exploração agora sem precedentes de toda a população inclusive dela própria classe média. 
Agora ela vai ter que pagar caro pela universidade, pelo plano de saúde e agora também pela própria aposentadoria privada. E outras contas pesadas virão. Além disso, é ela que vai andar com medo nas ruas e que vai empobrecer de modo crescente. Essa é a conta da dignificação e sacralização do ódio que a mídia lhe proporcionou. 
(...) O silêncio sobre o papel da imprensa é o fundamento da continuidade da nova ordem. Uma imprensa que deu os motivos – todos falsos como vemos hoje – construiu a narrativa, criminalizou a política, justificou o ódio e até transformou sua marionete jurídica em herói nacional. Não existiriam Bolsonaros como ameaças reais sem esse trabalho prévio da imprensa. No entanto, (...) ela fez toda o trabalho sujo e ninguém ainda a responsabiliza por isso. Até quando? Leia a íntegra no Facebook do autor.