Estadão ataca Moro e Lava Jato em editorial. 'É isto a justiça?'. Traduzindo: Pra cima dos nossos não!


O contorcionismo do editorial do Estadão de hoje ("É isto a justiça?") é de dar torcicolo em girafa. O jornal que se destacou por ser o primeiro a dar os vazamentos da Lava Jato, quando eram direcionados a Lula, petistas ou peemedebistas sem muito poder, agora que os vazamentos e delações premiadas chegam ao coração do poder golpista, especialmente ao golpista-mor Michel Temer, o presidente que está enchendo as burras da mídia com publicidade [a imagem que ilustra a postagem é print da página do jornal], o Estadão critica vazamentos e eficiência das delações premiadas.

Ataca principalmente o juiz Moro e sua turma de procuradores da Justiça Premiada. Os homens do powerpoint de Lula, que não têm provas mas são movidos a convicções e que são defensores intransigentes da ética - embora Dallagnol, por exemplo, não veja nada demais em comprar imóveis do Minha Casa Minha Vida para especular.

As críticas começam por Moro [grifos meus]:

O juiz federal Sérgio Moro defendeu as delações premiadas, dizendo que, sem elas, “não teria sido possível descobrir os esquemas de corrupção no Brasil”. Segundo o magistrado, “a ideia é usar um criminoso menor para chegar ao maior, para pegar os grandes”. Quanto ao fato de os delatores terem sua pena abrandada ou até ganharem a liberdade, Sérgio Moro afirmou que “é melhor você ter um esquema de corrupção descoberto e algumas pessoas punidas do que ter esse esquema de corrupção oculto para sempre”, ou seja, “é melhor ter alguém condenado do que ninguém condenado”.
Trata-se de uma visão muito peculiar de justiça. Não se pode negar que as delações premiadas foram importantes para puxar o fio da meada que levou o País a conhecer o petrolão, maior esquema de corrupção da história nacional. O problema é que, atualmente, a julgar pelo que chega ao conhecimento do público, as múltiplas acusações feitas pelo Ministério Público contra figurões do mundo político estão baseadas somente, ou principalmente, nas delações, sem que venham acompanhadas de provas materiais suficientes para uma condenação. Quando muito, há provas testemunhais, nem sempre inteiramente dignas de crédito ou confiança. 

E não foi assim sempre? Até hoje já foram ouvidas mais de 100 testemunhas nos casos do triplex e do sítio de Atibaia e não apareceu nenhuma prova contra Lula, embora o ex-presidente venha sendo há anos crucificado, inclusive pelo Estadão?

Prossigamos, agora com ataque aos procuradores:




Criou-se um ambiente em que as delações parecem bastar. Se é assim, o objetivo não é fazer justiça, mas uma certa justiça. Aliás, ensinava o juiz Oliver W. Holmes que juiz não faz justiça, aplica a lei. Há tempos ficou claro que certos membros do Ministério Público têm a pretensão de purgar o mundo político daqueles que consideram nocivos. Para esse fim, basta espalhar por aí, por meio de vazamentos deliberados, que tal ou qual político foi citado nesta ou naquela delação para que o destino do delatado esteja selado, muito antes de qualquer tribunal pronunciar sua sentença.

Aí, após esses parágrafos, o Estadão chega aonde queria, no chefe (deles), o presidente por golpe Temer:

Foi exatamente o que aconteceu no episódio envolvendo o presidente Michel Temer. Em mais um vazamento de material em poder do Ministério Público, chegou ao conhecimento dos brasileiros uma gravação feita pelo empresário Joesley Batista com Temer na qual o presidente, segundo se informou, teria avalizado a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha.

E segue por aí criticando a Lava Jato por trabalhar com vazamentos e delações.  Argumentando que são necessárias provas (embora com Temer há as gravações, não só com Joesley, mas com Loures, o homem da mala - neste o Estadão nem fala).

Mas, só agora, Estadão? Ou essa reclamação toda é só porque foram pegos os seus - Temer, Aécio e a turma tucana de São Paulo?

Francamente. O nome certo do editorial deveria ser: Pra cima dos nossos não!


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