Reitor que se matou em SC foi vítima da Justiça 'ávida por holofotes' e um 'moralismo espetacular', dizem advogados e colegas


No corpo do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que se matou ontem atirando-se de um shopping na região central de Florianópolis, havia um bilhete com a seguinte mensagem: "Minha morte foi decretada no dia do meu afastamento da universidade".

O reitor morava a poucos metros da Universidade, que frequentava desde 1977, primeiro como estudante, depois como professor e reitor.

Da noite para o dia, por uma medida tomada por uma juíza a pedido da delegada da PF Érika Mialik Marena (importada da Lava Jato de Curitiba e que deu nome à Operação), Cancellier se viu preso, com direito a filmagem e reportagem no Jornal Nacional, e solto no dia seguinte, mas proibido de frequentar a Universidade e de entrar em contato com sua direção.

"A universidade era a vida dele. Ele vivia aquilo 24 horas por dia; morava do lado da USFC. Imagine: se atravessasse a rua, poderia ser preso", disse o advogado Hélio Brasil, que o defendia.
Segundo ele, o reitor ficou "muito transtornado" com a prisão e havia informado que estava sendo acompanhado por um médico psiquiatra.



Em entrevista recente ao "Diário Catarinense", o reitor disse que a prisão foi uma "humilhação completa" e que se sentia "exilado" da própria Universidade.
"Este afastamento é um exílio. Eu moro a três metros da universidade. Saio de casa e estou dentro da universidade. E não posso entrar na casa em que vivo e convivo desde 1977. As manifestações me dão conforto. O corpo está muito sofrido, mas a solidariedade conforta a alma", afirmou ao jornalista Moacir Pereira. 

Os advogados e colegas do reitor acusam diretamente o comportamente de parte da Procuradoria e da Justiça e a espetacularização da mídia.

Em nota, os advogados do reitor lamentaram a morte e disseram que "a injustiça sobre os ombros de uma pessoa inocente é um fardo por demais pesado e muito difícil de ser suportado". 
"Nem na época da ditadura militar ele tinha sido preso. Imagine alguém que sempre foi contra o arbítrio do Estado, acontecer um negócio desses", disse o advogado Hélio Brasil. 
"Que sua dolorosa partida sirva de reflexão para todos, especialmente àqueles ávidos por holofotes que, entorpecidos por ego e vaidade, extrapolam suas funções institucionais, e aos demais que divulgam e replicam notícias de maneira açodada e equivocada, destruindo carreiras, reputações e vidas", afirmaram os advogados do escritório Galli, Brasil, Prazeres.
A Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) declarou ser "inaceitável que pessoas de bem [...] tenham a sua honra destroçada em razão da atuação desmedida do aparato estatal". "É inadmissível que o país continue tolerando práticas de um Estado policial, em que os direitos mais fundamentais dos cidadãos são postos de lado em nome de um moralismo espetacular", informou a instituição, em nota.[Fonte: Folha]

Independentemente de se discutir culpa ou não do reitor nas acusações que lhe são imputadas, o que se critica é o método fascista e espetacularizante lançado pelo juiz Moro na Lava Jato e que vai se tornando norma no país, embora afronte garantias estabelecidas na Constituição, graças à omissão cúmplice e covarde do STF.

O reitor é a mais recente vítima, como aconteceu também com a esposa do ex-presidente Lula, Marisa Letícia, que teve sua intimidade violada e exposta em rede nacional de TV.


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