Milícias, ponto de encontro da execução de Marielle, da entrevista de Nem, das declarações do ministro e da farsa da intervenção no Rio

Twitter de Marielle

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Na noite desta quarta-feira, foram executados a vereadora do PSOL Marielle Franco e seu motorista, Anderson Pedro Gomes. Há notícia de que uma assessora teria se salvado e seu nome não estaria sendo divulgado por questão de segurança. Marielle fazia parte da Comissão da Câmara Municipal que fiscalizava a intervenção militar na segurança pública do Rio.

No domingo, a vereadora denunciou uma ação de PMs do 41º BPM (Irajá) na favela de Acari.

"Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando os moradores. Nessa semana, dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje, a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior", escreveu Marielle. [Fonte: O Dia]

No mesmo dia do assassinato de Marielle, foi divulgada uma entrevista do traficante Nem da Rocinha ao jornal El Pais (excelente entrevista, que vou comentar em outra postagem). Nem está preso num presídio de segurança máxima em Rondônia.

Na entrevista, Nem afirma que quis abandonar o tráfico, mas que foi dissuadido pela polícia:

“Minha mãe foi ameaçada pela polícia. Foram até a casa dela. ‘Ou você volta [para o tráfico] ou vai acabar mal pra ela’, eles me disseram. Não tive opção, precisei reassumir as coisas”, conta. [Fonte: El Pais]

No final do ano passado, o ministro da Justiça Torquato Jardim deu uma declaração curta e grossa sobre o crime no Rio de Janeiro:

"Hoje, os comandantes de batalhão [da PM] são sócios do crime organizado". [Fonte: O Dia]

Essa parceria entre policiais e traficantes tomou o Rio de Janeiro. Em 1998, havia apenas uma comunidade sob comando das milícias no Rio, Rio das Pedras. Hoje, são 165 comunidades espalhadas por 37 bairros.

No entanto, a intervenção militar decretada no Rio de Janeiro ignora as milícias, como antes as UPPs o fizeram. 

Desde que foi decretada a intervenção federal no Rio, os militares ainda não realizaram nenhuma ação em uma área sob influência dos milicianos. Sob a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), estabelecida em junho de 2017, o Exército realizou 20 operações em comunidades. Mas, novamente, nenhuma em área com a atuação de milicianos. [Fonte: G1]

Não à toa, Marielle considerava a intervenção militar uma farsa:

Marielle era contra a ação do governo federal. Em entrevista, ela disse que a intervenção militar era “farsa”. “E não é conversa de hashtag. É farsa mesmo. Tem a ver com a imagem da cúpula da segurança pública, com a salvação do PMDB, tem relação com a indústria do armamentismo”, disse a vereadora. [Fonte: Folha]

Sua execução, com cinco tiros na cabeça, mostra que eles não querem que esse tipo de pessoa com esse tipo de ideia continue a circular por aí. 

É só ligar os pontos e chegar a eles. Mas não há interesse nisso, como destaca o traficante Nem em outro ponto de sua entrevista:

De dentro de sua cela abafada o ex-traficante ficou sabendo com atraso e sem muita surpresa da intervenção federal no Rio de Janeiro. “Não acho que vá dar em nada. Os problemas do Rio não se resolvem com Exército ou polícia”, diz. De acordo com ele, tropas federais já ocuparam parcialmente a Rocinha por duas vezes durante sua gestão na favela, sem nenhum resultado concreto. “Você acha que não tem corrupção no Exército? Eu me lembro que alguns militares falavam pros nossos soldados: ‘poxa, não fica com fuzil na rua não, esconde isso porque depois a gente leva bronca do sargento”, diverte-se. Para Nem a intervenção é “mais do mesmo”, apenas outra ação com “finalidade eleitoreira”.
Ao falar sobre a violência do Rio, Nem fica em silêncio por um momento. Em seguida, dispara: “Você acha que os políticos não sabem como resolver o problema da violência?”. Em instantes responde à própria pergunta. “O problema é que eles sabem que não serão reeleitos se fizerem isso. Sabem que isso exige um investimento em educação e políticas sociais que não têm retorno na urna, no curto prazo, mas que é algo para o médio prazo, para daqui a dez ou 15 anos. A preocupação maior é o mandato, não é resolver nada”, desabafa.
Mariella Franco
RIP, Mariella


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