O Cristo da Via Crucis e o Cristo Ostentação

Estudei em colégio interno católico. Uma coisa tão antiga que não tenho notícia de que ainda exista. Mas não é sobre o fim da época em que se internavam crianças em escolas que eu vou escrever, mas sobre a Semana Santa e as palavras daquele que é o centro dessa celebração, Jesus Cristo.

Não sou católico e hoje me digo um ateu, graças a Deus, um ateísmo que um amigo classificou como “de alma pura”. Mas os ensinamentos do Cristo estão em mim.

E eles não vieram tanto do que aprendi nas aulas de Religião do colégio interno, mas do filme que passavam na Semana Santa narrando a Via Crucis.

Era um alvoroço e uma alegria na nossa rotina entediante no colégio. Durante a Semana Santa, assistíamos a um filme em capítulos narrando a saga do Cristo. 

O sofrimento de Jesus, que conhecíamos da Bíblia e das aulas de Religião, era mostrado em cores e sons, que assistíamos em arregalado silêncio — o que era prova da força daquelas imagens e sons, já que muitos de nós estávamos ali, internos por nossos pais, para sermos “corrigidos” de rebeldia e hiperatividade.

Naquela época, não se mostrava o rosto de Jesus nos filmes. Ele só nos era mostrado de costas ou à distância, e só ouvíamos suas palavras e ensinamentos.

Por elas, aprendi que somos todos iguais, que devemos nos amar e amarmos uns aos outros. Que devemos ser solidários, dividir e acolher os mais necessitados. Sem preconceitos de qualquer tipo, pois somos todos irmãos, filhos de um único e mesmo Deus.

Que a fome não é só de pão.

E que devemos condenar veementemente os que se aproveitam dos templos para explorar os outros, como Ele mostrou ao expulsar os vendilhões do templo.

Já o Cristo Ostentação de hoje é o oposto: discrimina, persegue, prega o enriquecimento. Seus pastores têm aviões, mansões e vivem nababescamente, enquanto os fiéis vivem pobres e ainda têm que sustentá-los com dízimos ou rachadinhas, muitas vezes tirando da própria mesa.

Esses pastores do Cristo Ostentação estão representados no Calvário, nas cruzes ao lado de Cristo.

Como sabemos, Ele os perdoou.

Eu, que sou apenas humano, não.

Feliz Páscoa.

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