Folha lança projeto de checagem com patrocínio da 'indústria da mentira'

A Folha lança hoje oficialmente o projeto Checamos, com o objetivo de checar a veracidade das notícias e combater as fake news, a desinformação. 

O problema é que o projeto tem o patrocínio da "indústria da mentira", representada pela Philip Morris Brasil, produtora de tabaco, que mente no primeiro parágrafo de sua apresentação ao visitante de seu site:

"Bem-vindo à Philip Morris Brasil. Somos a segunda maior empresa de tabaco do país e temos o orgulho de oferecer produtos de qualidade para adultos fumantes brasileiros há 50 anos."

Qual a qualidade de um produto que é responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas por ano no mundo, sete milhões por uso direto do tabaco e mais de 1,2 milhão de mortes por fumo passivo? Esses são números da Organização Pan-Americana da Saúde.

  • O tabaco mata até metade de seus usuários.
  • O tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas a cada ano. Mais de 7 milhões dessas mortes são resultado do uso direto do tabaco, enquanto cerca de 1,2 milhão são resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo.
  • Quase 80% dos 1,1 bilhão de fumantes do mundo vivem em países de baixa e média renda.

No Brasil, houve época em que a propaganda do fumo era permitida. As indústrias do setor estavam entre os maiores anunciantes do país.

Os anúncios associavam o consumo de cigarros ao esporte, a um mundo de aventuras, à companhia de belas mulheres, "ao sucesso" — como dizia o slogan de uma das marcas mais famosas.

Tudo mentira. O consumo de cigarro leva o indivíduo ao enfisema pulmonar, a diversos tipos de cânceres, a doenças cardíacas e respiratórias.

Como é uma indústria poderosa, que emprega ainda muita gente, sobrevive como pode, cada vez mais bloqueada por leis, que sabem dos prejuízos causados à saúde dos cidadãos e ao sistema de saúde dos países, sobrecarregado por consumidores vítimas do tabaco.

Mas a restrição ao consumo de tabaco no mundo é cada vez maior. A Finlândia tem um projeto de abolir o tabaco no país até 2040. O plano tem duas frentes:

  • prevenir que cidadãos comecem a fumar
  • ajudar fumantes a largar o vício

 

Mundo sem Tabaco (e sem fake news)

 

No Dia Mundial sem Tabaco, 31 de maio, do ano passado, o diretor executivo da Fundação do Câncer, cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni, reconheceu que esse é um desafio imenso ainda.

“Porque a gente sabe que o Brasil é um grande produtor de tabaco, principalmente na Região Sul. E é difícil sensibilizar aquela população do cultivo de que é importante mudar a cultura para outros tipos de plantio. Sobretudo porque naquela região existem incentivos por parte dos governos locais. Fica difícil mudar uma cultura que vem, muitas vezes, de gerações de famílias que cultivam tabaco. É um trabalho que ocorre não só no Brasil, mas no mundo todo e a OMS pegou isso como uma bandeira importante no contexto todo do controle do tabaco”, disse o médico.

Além de causar dependência, o fumo provoca quatro vezes mais doenças coronarianas, acidente vascular cerebral (AVC); 12 vezes mais doenças de pulmão; no caso das mulheres, de 12 a 13 vezes mais câncer de pulmão; no caso do homem, mais 23 vezes câncer de pulmão. “A gente está cansado de saber o mal que o hábito de fumar traz para o organismo humano. Fora isso, a ideia este ano é chamar a atenção para o mal que faz para a natureza e a sociedade como um todo, a poluição que causa”.

A indústria do tabaco produz toneladas de lixo tóxico, com substâncias jogadas nos mais diversos lugares: ruas, praias, oceanos, rios. Um volume gigantesco de material não reciclável com um volume grande de substâncias tóxicas. Além de poluir nossos corpos, polui o meio ambiente, degrada a natureza.

Proibida de anunciar, a indústria se reinventa com os cigarros eletrônicos, que a Anvisa recentemente confirmou a proibição no Brasil, e com a busca de limpeza de sua imagem. 

Porque não é fácil admitir que você vive de fabricar produtos que vão causar mais malefícios que benefícios a seus utilizadores.


 
Associando a indústria ao combate à desinformação, a Philip Morris Brasil quer ligar sua marca a uma ideia positiva. Associar a marca à verdade, à informação correta. Quando a informação correta está contida, obrigatoriamente e por lei, nas diversas advertências nos maços de cigarro.

Encontrou a Folha, disposta a queimar o que resta de credibilidade de sua marca servindo de lavagem de imagem da indústria do tabaco.




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