Artigo da pré-candidata do PT ao governo do Rio Marcia Tiburi relaciona Lava Jato ao fascismo

Lula com Marcia Tiburi

Excelente artigo da artista plástica, professora de Filosofia e escritora Marcia Tiburi, também pré-candidata do PT ao governo do estado do Rio de Janeiro, publicado na revista Cult, que reproduzo a seguir.

Ao longo da história, não há movimento autoritário que não tenha contado com o apoio de considerável parcela de juristas e juízes. Hitler, por exemplo, não cansava de agradecer o apoio dos juízes alemães. Esse fenômeno da adesão de juristas a regimes autoritários, prontos para justificar as maiores violações aos direitos humanos, foi estudado e diversos livros foram publicados sobre o que entrou para a histórica como “os juristas do horror”.

No Brasil pós-golpe não é diferente. Não faltaram “juristas” para justificar a “legalidade” de um impeachment sem a existência de um verdadeiro crime de responsabilidade. Também nunca faltaram “juristas” para defender a “legalidade” do encarceramento de multidões, pessoas que não interessam aos detentores do poder econômico, em desconformidade com a Lei de Execuções Penais. Há, inclusive, “juristas” que defendem a “legalidade” de atos praticados por juízes de férias e em violação às regras de competência, que existem (e deveriam ser respeitadas) justamente para evitar arbítrios e violações à impessoalidade.

Mais grave: muitos “juristas” passaram – para agradar aos detentores do poder, inclusive aos interesses dos meios de comunicação de massa –  a defender a violação aos limites semânticos impostos pelas leis, como no caso da relativização do princípio constitucional da presunção de inocência.

Como na Alemanha nazista, “juristas” passaram a defender a necessidade de ouvir “a voz do povo” para decidir de acordo com a “vontade popular”. Se antes a “voz do povo” era identificada com a opinião do Führer, hoje, “a voz do povo” é a opinião dos próprios juízes, os Führer dos processos, que, muitas vezes, não passa da opinião dos grupos econômicos que detêm os meios de comunicação.

O exemplo mais significativo da ascensão do autoritarismo pela via judicial está no complexo de ações que passou a ser conhecido como “caso Lava Jato”.  No âmbito dessa operação, que também virou uma mercadoria e foi vendida pela propaganda do poder econômico como “a maior ação de combate à corrupção no Brasil”, diversos procedimentos se caracterizaram pela violação aos limites legais e éticos que definiam a democracia.

Em outras palavras, a pretexto de combater a corrupção, a Operação Lava Jato revelou-se um instrumento de corrupção da democracia. Os princípios e as regras constitucionais, que foram conquistas civilizatórias e serviam como garantia contra a opressão e o arbítrio, passaram a ser ignoradas por juízes, procuradores e ministros, sob os aplausos de uma mídia que, em grande parte, segue fielmente as lições de Goebbels.

Nesse momento, vale lembrar que o “combate à corrupção” foi uma das principais bandeiras do nacional-socialismo e responsável pela adesão popular ao nazismo, embora pesquisas recentes revelem que nazistas enriqueceram por vias ilegais. Os “moralistas” de lá, assim como os daqui, se revelaram uma fraude.

Ao longo da história do Brasil, o “combate à corrupção” sempre foi um exemplo de sucesso como arma política contra inimigos dos detentores do poder econômico (Vargas, Jango, Lula e Dilma), mas um fracasso do ponto de vista de diminuir ou recuperar os prejuízos causados ao erário público. Vários exemplos poderiam ser citados, mas basta acessar os dados que demonstram que todos os valores que seriam objeto de corrupção apontados pelos “juristas” que estão à frente da Lava Jato são bem inferiores aos prejuízos suportados pela economia brasileira em razão da maneira como foi conduzida a operação.

Em outras palavras, diante dos descuidos dos neoinquisidores brasileiros, os efeitos negativos da Operação Lava Jato para a economia são bem superiores à recuperação dos ativos. O Brasil se deu mal com a Lava Jato, mas muitos donos do poder econômico se deram muito bem.

Se fosse apenas um fracasso em termos de defesa dos interesses nacionais, a Lava Jato já seria um problema. Mas, ao desconsiderar sistematicamente a Constituição da República e a legalidade democrática, instaurar perseguições penais extremamente seletivas, manipular a opinião pública (aliás, estratégia admitida pelo juiz Sérgio Moro em um dos poucos, senão o único, artigo acadêmico conhecido de sua lavra) e violar direitos e garantias fundamentais, a Operação Lava Jato contribuiu decisivamente para o crescimento do pensamento autoritário e para a naturalização das ilegalidades estatais em nome de uma “boa intenção”, daquelas que enchem o inferno.

A Lava Jato transformou-se em uma ode à ilegalidade seletiva dos donos do poder. Dentre tantos exemplos, pode ser citado o vazamento ilegal – trata-se de um fato típico penal – das conversas do ex-presidente Lula e da presidenta democraticamente eleita Dilma Rousseff, por obra do juiz Sergio Moro, que – inacreditavelmente – continuou a julgar o ex-presidente, a vítima dessa conduta vedada pelo ordenamento brasileiro, com a – inacreditável – aquiescência de outros órgãos do Poder Judiciário.

A lógica que direciona a atuação na Operação Lava Jato é tratar tudo e todos como objetos negociáveis. Nesse sentido, viola a ideia iluminista da dignidade da pessoa humana. Pessoas voltaram a ser presas para delatar outras pessoas, como acontecia na idade média. Trocaram-se apenas as bruxas por políticos indesejáveis aos olhos dos detentores do poder. A verdade e a liberdade, valores da jurisdição penal democrática, foram transformadas também em mercadorias.

Em delações premiadas sem suficientes limites epistêmicos e legais, a verdade, sempre complexa, acaba substituída pela “informação” que confirma a hipótese acusatória e que já foi assumida como a “adequada” por juízes e procuradores. Trata-se de um novo fundamentalismo, que não deixa espaço para dúvidas, uma vez que trata a mera hipótese acusatória como uma certeza, ainda que delirante.  Pessoas são postas em liberdade ou tem a pena reduzida se falam aquilo, e somente aquilo, que os neoinquisidores querem ouvir.

A necessária luta contra a corrupção foi distorcida. Criou-se um mundo pelo avesso no qual os direitos e garantias fundamentais, condições para uma vida digna, passaram a ser vistos como impedimentos à eficiência punitiva e ao crescimento do Estado Penal.

Um mundo pelo avesso no qual cumprir a Constituição é visto com desconfiança ao mesmo tempo em que se celebram as pessoas que violam os limites democráticos. Resistir ao crescimento do autoritarismo é também resistir à lógica de um poder sem limites em um mundo em que a pós-verdade tornou-se tão aceitável quanto à restrição ilícita da liberdade.

Nesse contexto, figurar como réu em um processo pode significar apenas que alguém foi escolhido como objeto de ódio ou perseguição.


Clique aqui e passe a receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp
Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos

Assine a newsletter do Blog do Mello

Ipsos. Povo tira máscara de Moro. Depois de condenar Lula injustamente, sua rejeição saltou de 22% para 55%

Moro e Lula na Ipsos de julho

O povo já julgou e condenou Moro. 55% dos brasileiros rejeitam o justiceiro de Curitiba. É o que mostra a pesquisa Ipsos-Estadão de julho.

Mês a mês a rejeição a Moro aumenta e sua aprovação, que já foi de 69%, é de apenas 37% hoje.

Lula tem aprovação 50% maior do que a de Moro e rejeição menor. Mesmo com toda a campanha ininterrupta da mídia golpista contra ele.


Clique aqui e passe a receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp
Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos

Assine a newsletter do Blog do Mello

Falência da Abril e fim de Veja numa reportagem exclusiva do Blog do Mello em 2012. 'Serra é o chefe de tudo', diz Civita

Capa da Veja com Civita

No dia 17 setembro de 2012, publiquei aqui no blog a primeira parte de uma reportagem, com o título Os segredos do tucanoduto. Civita acusa: 'Serra me usou como um boy de luxo. Mas agora vai todo mundo para o ralo'.

Escrita ao estilo de Veja, a reportagem deu voz aos segredos de Roberto Civita, em que ele conta o envolvimento da Veja e da Abril com os tucanos e o acordo que havia entre eles, que levou à ruína do grupo.

Se quiser baixar o arquivo em pdf, clique aqui.





Clique aqui e passe a receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp
Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos

Assine a newsletter do Blog do Mello

Ciro não queria ser alternativa a Lula, mas a Alckmin. Agora, ficou sem alternativa

Ciro Gomes

A disputa de Ciro Gomes, ao contrário do que muitos pensavam, não era pelos votos da esquerda, de Lula. Ele sempre esteve de olho nos votos da direita. Enquanto enrolava pela esquerda, acenava para o Centrão e chegou a voltar atrás de um dia para outro em várias afirmações, quando criticado por DEM ou PP.

Ciro Gomes é político experiente e muito inteligente. Sabe que a eleição deste ano está polarizada. Se houver segundo turno, é Lula ou quem ele indicar de um lado. E alguém do outro. Por enquanto, é Bolsonaro. Mas ninguém acredita no Bolsonaro, tanto que ele não consegue um vice, embora lidere com relativa folga as pesquisas sem Lula. Sobram os outros de centro e direita, que Ciro queria representar.

Não deu. O Centrão centrou em Alckmin e Ciro ficou do tamanho que tinha.


Clique aqui e passe a receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp
Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos

Assine a newsletter do Blog do Mello

Aposentado faz visita como comprador ao 'tríplex do Lula no Guarujá' e desmonta farsa da sentença de Moro

Um quarto do triplex do Guarujá atribuído por Moro a Lula

Já que a imprensa não fez seu dever, Manuel Meneses, de Salvador, Bahia, um bancário aposentado, resolveu tirar a prova dos nove e fazer uma visita como comprador ao tal tríplex que o juiz Moro afirma ser de Lula e por isso o condenou à prisão.

O bancário tirou fotos do imóvel e deu sua opinião sobre ele, que resumo em seguida. A íntegra você confere no DCM.

  • “Quando se falava em elevador privativo, imaginava que fosse algo que levasse da garagem ao apartamento, mas não. É um elevador que leva de um piso a outro no tal triplex, como esses elevadores para cadeirante. Uma coisa mixuruca, que não custa muito”, disse. 
  • “Vi ainda que o piso que teria sido trocado não é porcelanato de primeira linha, é um piso de segunda linha. Não é o pior, mas também não é o de primeira linha."
  • Viu ainda no apartamento um fogão velho, uma geladeira, um escritório improvisado, beliches, uma piscina com tamanho de uma banheira — “duas braçadas e você chega de uma ponta a outra”.
  • Sobre os armários: “Tudo madeira compensada, MDF, algo assim, uma porcaria."  

É nesse tríplex que a sentença se baseia. Sem nenhum documento que prove que ele é ou foi de Lula ou alguém de sua família; sem que Lula ou alguém de sua família tenha morado lá um dia sequer; e que Lula teria "recebido como propina" por... "fatos indeterminados".

A farsa da sentença contra Lula começa pelo "tríplex de luxo do Guarujá", passa pela sentença e leva Lula à prisão política em Curitiba, para que ele não possa concorrer à presidência e devolver o Brasil aos brasileiros. 


Clique aqui e passe a receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp
Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos

Assine a newsletter do Blog do Mello

Cria de Severino Cavalcanti pode vir a ser novo presidente de fato do Brasil

Severino Cavalcanti e Ciro Nogueira. Foto José Cruz/ABr

Na ânsia de chegar ao segundo turno e tentar vencer Lula ou quem ele vier a indicar, Alckmin e Ciro brigaram até ontem pelos votos do chamado Centrão, apelido guloso no aumentativo da direita fisiológica.

Ciro perdeu mais uma. O Centrão escolheu Alckmin, mesmo com todos os acenos de Ciro Gomes ao DEM e ao PP. Com isso, o Chuchu, que já tinha bom tempo de TV, parte com seu agora latifúndio para desidratar Bolsonaro e chegar ao segundo turno com Lula ou o candidato do Lula.

Para conseguir o Centrão, Alckmin ofereceu mundos e fundos (nossos fundos...). A recondução de Rodrigo Maia à presidência da Câmara. Maia é aquele que disse que deputados não estão ali para fazer as vontades do povo. E disse também que é escravo do mercado. A presidência do Senado vai para as mãos de Ciro, mas não o Gomes, o Ciro Nogueira, aquele senador que tinha R$ 200 mil em dinheiro guardados em casa, como constatou operação da PF que vasculhou uma de suas residências.

Resumindo: como Temer hoje, Alckmin iria para a presidência, caso vença as eleições, refém do Centrão, num parlamentarismo que não ousa dizer o nome, sob comando de Ciro Nogueira, afilhado político do ex-deputado Severino Cavalcanti [os dois na imagem da postagem].

Quem não se recorda do folclórico Severino Cavalcanti, que caiu na presidência da Câmara numa briga pelo poder entre PT e oposição? Líder do chamado baixo clero, Severino era curto e grosso nas suas reivindicações ("quero uma diretoria da Petrobras, mas uma daquelas que fura poço").

Durou pouco, mas foi substituído por seu pupilo e sucessor, Ciro Nogueira, que quer a mesma coisa que ele, mas não comete a besteira de falar isso em público - só no privado, nos bastidores palacianos. É um Severino repaginado. Seu partido, o PP, tomou conta da Petrobras e, enquanto a mídia e Moro focam a corrupção dentro da Petrobras no PT, o PP é o partido com mais envolvidos nos esquemas da Petrobras.

E esse Severino repaginado pode ser o comandante do parlamentarismo que não ousa dizer o nome em que pode se transformar o país, com uma vitória de Alckmin.


Clique aqui e passe a receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp
Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos

Assine a newsletter do Blog do Mello

Estrela do PT, Maricá promove de hoje a domingo II Festival Internacional da Utopia


Maricá promove, de hoje a domingo, o II Festival Internacional da Utopia. O primeiro foi em 2016. No Festival vão se apresentar grandes artistas [confira na imagem]. Durante os quatro dias do Festival, vão acontecer mesas de debates sobre a situação do município, do estado e do país, à procura de novas soluções, tendo como foco a Utopia.

Nas mesas, debates com temas como: A conjuntura internacional e a crise do capitalismo; O Rio e seus desafios; A luta para superar a LGBTfobia no Brasil; Manipulação da mídia; De Dandara a Marielle – a luta das mulheres negras pelo o direito de existir.

Estrela ascendente do PT, a cidade de Maricá é comandada pelo partido há 10 anos. O ex-prefeito, Washington Quaquá, que governou a cidade por dois mandatos, é o atual presidente do PT do Rio de Janeiro. O atual prefeito, Fabiano Horta, era deputado federal do partido e administra a cidade há dois anos.

Maricá pode ser considerado um minilaboratório de políticas do PT. É a cidade do Vermelhinho, ônibus de qualidade e de graça para a população. Da Mumbuca, a moeda social, um vale para compras no comércio local destinado a famílias de baixa renda.

Mais informações sobre os shows e a programação das mesas de debates do Festival da Utopia, aqui, no site da prefeitura.


Clique aqui e passe a receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp
Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos

Assine a newsletter do Blog do Mello

Advogado de Lula: Decisão do TSE confirma que Lula pode ser candidato

Constituição rasgada

A negativa da ministra Rosa Weber nesta quarta em declarar o ex-presidente Lula inelegível reforça a tese da defesa de Lula, segundo seu advogado Luiz Fernando Pereira.

“O TSE, com a decisão de hoje, confirma a orientação segura sobre o tema. Confirma o que a defesa de Lula vem dizendo há quase um ano. Uma frase da decisão é emblemática: 'O Direito tem seu tempo, institutos, ritos e formas em prol basicamente da segurança jurídica, essencial'”. [Fonte: Folha]

Pereira afirmou que Lula é pré-candidato, vai ser o candidato do PT às próximas eleições e seguirá os ritos legais.

Disso tudo não temos dúvidas. A dúvida vem do lado de lá: seguirão as excelências excelentíssimas o rito legal ou mais uma vez será aplicado o "dispositivo Lula', aquele que diz que as leis se aplicam a todos, sem discriminação, exceto as referentes a Lula?...


Clique aqui e passe a receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp
Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos

Assine a newsletter do Blog do Mello

Janio de Freitas: Aécio, General Heleno e Sepúlveda. Retiradas e Retirados

Aécio coçando a cabeça

Janio de Freitas na Folha, hoje:

Retiradas e Retirados


O general foi rápido e firme, como convém a um general, quando divulgada a possibilidade de ganhar a vice de Jair Bolsonaro: “Estou preparado”, disse aos jornais. Disse, não. Como convém a um general em vésperas de tamanha honraria, o general bradou. Mas retumbante foi a resposta do seu partido, o PRP, que se recusou a endossar a composição. Uma pena.

São várias oportunidades que se perdem. Por certo chamado a entrevistas coletivas e eventos em nome da chapa, o general Augusto Heleno Pereira teria ocasião de falar aos cidadãos sobre o tempo em que foi auxiliar do general Cardoso no Planalto de Fernando Henrique.

Constatou-se então que o general Heleno era o mais frequente contato do juiz Nicolau dos Santos Neto, exclusive familiares. Como o general negasse por escrito, em carta, pude expor aqui a prova de sua ligação com o juiz mais tarde condenado e preso por corrupção, na obra do novo Tribunal da Justiça do Trabalho, em São Paulo.

O SNI estava extinto desde Collor e assim continuava, no dizer de Fernando Henrique. No entanto, Lalau passava ao general Heleno, com presteza sistemática, informações sobre os graúdos paulistas e seus negócios, os políticos, a imprensa. Entre outros temas. Era a preservação do policialismo, com todos os seus defeitos. E mais um: a falsidade da inexistência de espionagem interna.

Se dado a nostalgias, o general Heleno poderia ser tentado a esclarecer o eleitorado sobre um fato sempre omitido. Seu nome é acompanhado, muitas vezes, de citação ao comando que exerceu da Força brasileira no Haiti.

Sem referência, jamais, a que esse comando foi encerrado bem antes do prazo, por um motivo sem precedente: a ONU pediu que o general brasileiro fosse retirado do comando. A respeito, só ficou registro da chegada do general Heleno, abalado a ponto de chorar.

Assuntos não faltariam ao vice de Bolsonaro para interessar o eleitorado. Embora nenhum se compare à perda da oportunidade de mostrar aos eleitores que Bolsonaro não é único nas ideias e modos, não tem originalidade. É produto que foi fabricado em série.

Retirada lamentável também é a de Aécio Neves à reeleição para o Senado. Cogita candidatar-se, quando muito, a deputado. Vai-se a oportunidade de exibir-nos outra disputa com Dilma Rousseff, esta no estado de que foi governador. E onde fez obras inesquecíveis como o aeródromo de sua família e a Cidade Administrativa que move investigações de fraude e corrupção, com o próprio governador de então no papel central.

Como se fora moda, outra retirada chegou a ser notícia: a do ex-ministro do Supremo e hoje advogado Sepúlveda Pertence, irritado —o que não é novidade— com os outros defensores de Lula, formais ou espontâneos. Contraria-o que busquem a libertação plena de Lula, e não a sua proposta de obter a prisão domiciliar. Sepúlveda contestou, “por ora”, a notícia da sua retirada, condicionando-a a uma conversa com Lula.

Teses de defesa, é melhor tê-las demais. No caso, o interessado foi taxativo: uso de tornozeleira, como exigência para prisão domiciliar, é impensável. A opinião que Sepúlveda repele não é (só) de defensores, é de Lula. E ao defendido cabe dizer o que aceita ou não.

Neste ponto, me retiro. “Por ora”.

Clique aqui e passe a receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp
Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos

Assine a newsletter do Blog do Mello

Lula: 'Querem me calar. Aqueles que não querem que eu fale, o que vocês temem que eu diga?'

Lula escrevendo

Em artigo publicado na Folha hoje, o ex-presidente e pré-candidato do PT à presidência Lula faz esta pergunta e outras, mas também denuncia o golpe e os golpistas e traça uma análise dura e precisa do que o golpe está fazendo com o Brasil e os brasileiros.

Com uma visão clara do que está sendo feito e do que precisa ser modificado para que o país saia da crise, Lula mostra mais uma vez por que é o preferido pelo povo para ocupar a cadeira de presidente da República. E por que o prenderam. Por que querem calá-lo.

Afaste de mim este cale-se


Estou preso há mais de cem dias. Lá fora o desemprego aumenta, mais pais e mães não têm como sustentar suas famílias, e uma política absurda de preço dos combustíveis causou uma greve de caminhoneiros que desabasteceu as cidades brasileiras. Aumenta o número de pessoas queimadas ao cozinhar com álcool devido ao preço alto do gás de cozinha para as famílias pobres. A pobreza cresce, e as perspectivas econômicas do país pioram a cada dia.

  Crianças brasileiras são presas separadas de suas famílias nos EUA, enquanto nosso governo se humilha para o vice-presidente americano. A Embraer, empresa de alta tecnologia construída ao longo de décadas, é vendida por um valor tão baixo que espanta até o mercado.

Um governo ilegítimo corre nos seus últimos meses para liquidar o máximo possível do patrimônio e soberania nacional que conseguir —reservas do pré-sal, gasodutos, distribuidoras de energia, petroquímica—, além de abrir a Amazônia para tropas estrangeiras. Enquanto a fome volta, a vacinação de crianças cai, parte do Judiciário luta para manter seu auxílio-moradia e, quem sabe, ganhar um aumento salarial.

Semana passada, a juíza Carolina Lebbos decidiu que não posso dar entrevistas ou gravar vídeos como pré-candidato do Partido dos Trabalhadores, o maior deste país, que me indicou para ser seu candidato à Presidência. Parece que não bastou me prender. Querem me calar.

Aqueles que não querem que eu fale, o que vocês temem que eu diga? O que está acontecendo hoje com o povo? Não querem que eu discuta soluções para este país? Depois de anos me caluniando, não querem que eu tenha o direito de falar em minha defesa?

É para isso que vocês, os poderosos sem votos e sem ideias, derrubaram uma presidente eleita, humilharam o país internacionalmente e me prenderam com uma condenação sem provas, em uma sentença que me envia para a prisão por "atos indeterminados", após quatro anos de investigação contra mim e minha família? Fizeram tudo isso porque têm medo de eu dar entrevistas?

Lembro-me da presidente do Supremo Tribunal Federal que dizia "cala boca já morreu". Lembro-me do Grupo Globo, que não está preocupado com esse impedimento à liberdade de imprensa —ao contrário, o comemora.

Juristas, ex-chefes de Estado de vários países do mundo e até adversários políticos reconhecem o absurdo do processo que me condenou. Eu posso estar fisicamente em uma cela, mas são os que me condenaram que estão presos à mentira que armaram. Interesses poderosos querem transformar essa situação absurda em um fato político consumado, me impedindo de disputar as eleições, contra a recomendação do Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Eu já perdi três disputas presidenciais —em 1989, 1994 e 1998— e sempre respeitei os resultados, me preparando para a próxima eleição.

  Eu sou candidato porque não cometi nenhum crime. Desafio os que me acusam a mostrar provas do que foi que eu fiz para estar nesta cela. Por que falam em "atos de ofício indeterminados" no lugar de apontar o que eu fiz de errado? Por que falam em apartamento "atribuído" em vez de apresentar provas de propriedade do apartamento de Guarujá, que era de uma empresa, dado como garantia bancária? Vão impedir o curso da democracia no Brasil com absurdos como esse?

Falo isso com a mesma seriedade com que disse para Michel Temer que ele não deveria embarcar em uma aventura para derrubar a presidente Dilma Rousseff, que ele iria se arrepender disso. Os maiores interessados em que eu dispute as eleições deveriam ser aqueles que não querem que eu seja presidente.

Querem me derrotar? Façam isso de forma limpa, nas urnas. Discutam propostas para o país e tenham responsabilidade, ainda mais neste momento em que as elites brasileiras namoram propostas autoritárias de gente que defende a céu aberto assassinato de seres humanos.

Todos sabem que, como presidente, exerci o diálogo. Não busquei um terceiro mandato quando tinha de rejeição só o que Temer tem hoje de aprovação. Trabalhei para que a inclusão social fosse o motor da economia e para que todos os brasileiros tivessem direito real, não só no papel, de comer, estudar e ter moradia.

Querem que as pessoas se esqueçam de que o Brasil já teve dias melhores? Querem impedir que o povo brasileiro —de quem todo o poder emana, segundo a Constituição— possa escolher em quem quer votar nas eleições de 7 de outubro?

  O que temem? A volta do diálogo, do desenvolvimento, do tempo em que menos teve conflito social neste país? Quando a inclusão dos pobres fez as empresas brasileiras crescerem?

O Brasil precisa restaurar sua democracia e se libertar dos ódios que plantaram para tirar o PT do governo, implantar uma agenda de retirada dos direitos dos trabalhadores e dos aposentados e trazer de volta a exploração desenfreada dos mais pobres. O Brasil precisa se reencontrar consigo mesmo e ser feliz de novo.

Podem me prender. Podem tentar me calar. Mas eu não vou mudar esta minha fé nos brasileiros, na esperança de milhões em um futuro melhor. E eu tenho certeza de que esta fé em nós mesmos contra o complexo de vira-lata é a solução para a crise que vivemos.

Clique aqui e passe a receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp
Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos

Assine a newsletter do Blog do Mello