Folha publica denúncia contra Toffoli, mas nunca publicou uma linha sobre pedido de impeachment de Gilmar Mendes

A Folha da ditabranda é um jornal que tem lado, mas finge que não. Publica com destaque escândalos do governo federal e abafa - ou dá notinhas - quando o podre é do governo de SP, ou tucano em geral.

O mesmo acontece agora, no STF. O ministro Antonio Dias Toffoli, indicado pelo presidente Lula, é denunciado hoje pelo jornal por haver viajado ao exterior com duas diárias de hotel pagas por um advogado. Já Gilmar Mendes, indicado por FHC, teve protocolado um pedido de impeachment por inúmeras mordomias a mais que isso sem merecer uma única linha sequer da Folha.

Toffoli foi ao casamento de um advogado na ilha de Capri, Itália, e se hospedou no Capri Palace Hotel, cujas diárias variam de R$ 1.400 a R$ 13,3 mil, segundo o jornal.

O advogado festeiro, o pra lá de endinheirado criminalista Roberto Podval (uma prova de que o crime compensa, ao menos para os advogados dos criminosos), confirma o pagamento:

"Não paguei apenas para ele, mas para outros 200 amigos que convidei. A única coisa que paguei foi o hotel. Todo mundo, não apenas o ministro, teve direito a dois dias de hotel", disse o advogado ao jornal. [Fonte: Folha, para assinantes]

No entanto, outro advogado, Alberto de Oliveira Piovesan, entrou com um pedido de impeachment contra o ministro Gilmar Mendes com um leque muito maior de acusações, sem que a Folha tenha publicado nenhuma delas.

O Advogado Sergio Bermudes hospeda o Ministro Gilmar Ferreira Mendes quando este vem ao Rio de Janeiro, e que já hospedou-o em outras localidades, além de fornecer-lhe automóvel Mercedes Benz com motorista.

A citada reportagem informou também que o Ministro Gilmar Ferreira Mendes recebeu de presente, do mesmo Advogado Sergio Bermudes, uma viagem a Buenos Aires, Argentina, quando deixou a presidência do Supremo Tribunal Federal no ano passado (2010). E que o presente foi extensivo à mulher do Ministro, acompanhando-os o Advogado nessa viagem.

A citada reportagem informou ainda que o referido Advogado emprega e assalaria, acima do padrão, a mulher do Ministro. Evidente que no recesso do lar pode ela interferir junto ao marido a favor dos interesses do escritório onde trabalha, e de cujo titular é amiga intima (sempre segundo a citada reportagem). É o canal de voz, direto e sem interferências, entre o Ministro e o Advogado.

Vamos lá, Folha, nunca é tarde para mostrar que publica os dois lados. A pauta está aqui: Advogado não desiste e entra na Justiça contra Sarney, que arquivou impeachment de Gilmar Mendes.

Tem mais aqui:

Torturador e articulista da Folha, coronel Ustra vai a julgamento hoje por tortura e assassinato do jornalista Eduardo Merlino

É hoje, às 14h30, no Fórum João Mendes, centro da capital paulista, que o Tribunal de Justiça de São Paulo vai ouvir as testemunhas que presenciaram a tortura e morte do jornalista Luiz Eduardo Merlino.

A ação foi movida pela família do jornalista contra o coronel reformado do Exército Brasileiro, Carlos Alberto Brilhante Ustra, já reconhecido como torturador em outro julgamento.

Ustra, que recentemente teve artigo seu publicado na Folha, era comandante do centro de tortura do Doi-Codi (de 1969 a 1973), onde Merlino foi barbaramente torturado e assassinado em julho de 1971.

Curiosamente, a Folha não publica uma linha sequer sobre o julgamento. Será que está à espera de um novo artigo de Ustra para sua página?

Para saber um pouco mais sobre o julgamento, Merlino, Ustra e o que acontecia no Doi-Codi àquela época, leia Merlino X Ustra: Memória de um tempo não vivido, da sobrinha de Merlino, a também jornalista Tatiana Merlino, na Pública.

Leia também:

Presidenta Dilma, machismo por machismo, ouça Lupicínio Rodrigues

O machismo das corporações midiáticas (mas não apenas delas) quer que a presidenta (embora só a tratem por presidentE) faça uma faxina (seria assim com um homem?) no governo. Dilma, a Faxineira.

Mas, presidenta, isso, para além do machismo, é uma armadilha, brilhantemente desmontada por Lupicínio Rodrigues numa canção:

"Se eles julgam que a um lindo futuro só o amor nesta vida conduz,
Saibam que deixam o céu por ser escuro e vão ao inferno à procura de luz "

Eles querem levá-la ao inferno, presidenta, sob a luz dos refletores.

Carta aberta à Presidenta Dilma: É hora de enfrentar o tigre-de-papel-impresso

Presidenta Dilma, leu 'O medo que não ousava dizer o nome', de Timothy Ash, no Estadão?

Publicado no domingo, o artigo do professor Timothy Garton Ash (traduzido por Celso Paciornik) comenta o escândalo dos tabloides de Murdoch na Grã-Bretanha, especialmente do medo que eles provocavam em políticos, celebridades, policiais e até nos primeiro-ministros britânicos.

Selecionei uns trechos, presidenta, mas vale a pena a leitura do texto na integra. Repare que, se trocarmos os tabloides de Murdoch por seus congêneres brasileiros (Veja, Folha, Organizações Globo etc.), políticos, celebridades, policiais britânicos por brasileiros e os primeiro-ministros pelos presidentes brasileiros (a senhora inclusive) veremos que a crise de lá se parece muito, é quase um espelho da de cá.

Mas no alto da vida pública britânica circulam homens e mulheres com pequenos pingentes de medo nos corações, e o medo é inimigo da liberdade.

Esse era um medo que não ousava dizer o seu nome; uma covardia autocomplacente que se ocultava em silêncio, eufemismo e desculpa. Intimamente, políticos, consultores de imagem, relações públicas, figuras públicas e, agora se sabe, até quadros superiores da polícia disseram a si mesmos: não ataque Murdoch. Jamais vá contra os tabloides. Murdoch & Co. usaram intromissões vergonhosas, inescrupulosas e ilegais na privacidade tanto para vender jornais, excitando um público faminto por celebridades com detalhes íntimos, como para angariar influência política.

(...) Certa vez concluí que Rupert Murdoch era o segundo homem mais poderoso na Grã-Bretanha. Mas, se a medida final de poder relativo é "quem tem mais medo de quem", então seria o caso de dizer que Murdoch foi - no sentido estrito, básico - mais poderoso que os últimos três premiês da Grã-Bretanha. Eles tinham mais medo dele do que ele deles.

Considerem as evidências. Blair vira seu antecessor no cargo, John Major, e um líder trabalhista, Neil Kinnock, serem destruídos por uma imprensa hostil. Ele aprendeu a lição. Cortejou o mais que pôde esses barões da imprensa. Só quando estava prestes a deixar o cargo, após dez anos, ousou denunciar a mídia britânica por se comportar "como uma besta feroz".

Na semana retrasada, soubemos que o sucessor de Blair como primeiro-ministro, Gordon Brown, acredita que registros médicos, bancários e, talvez, fiscais de sua família foram invadidos. Brown conta que foi levado às lágrimas quando Rebekah Wade, então editora do Sun, outro tabloide de Murdoch, lhe telefonou para dizer que o jornal ia revelar que Fraser, filho de Brown de 4 anos, tinha fibrose cística. Apesar disso, alguns anos depois Brown foi ao casamento de Rebekah - que, no momento em que isto é escrito, é Rebekah Brooks, ex-braço direito de Murdoch na News International, o ramo britânico da News Corp. A Feiticeira Morgana do jornalismo britânico era simplesmente poderosa demais para um primeiro-ministro em busca de reeleição esnobar.

David Cameron superou Blair na paparicação aos barões da imprensa em geral e de Murdoch em particular. Pior, ele contratou Andy Coulson, ex-editor do News of the World, como seu assessor de comunicações. Não me lembro de ter encontrado algum jornalista britânico que acreditasse que o ex-editor fosse tão inocentemente desinformado, como alega, sobre o que seus repórteres estavam para fazer. Mas Cameron ignorou todas as advertências.

O mais chocante foi a polícia metropolitana de Londres ter engavetado uma investigação que devia ter feito com o maior empenho. Ela não contou a milhares de pessoas, cujos nomes apareceram nas anotações de um detetive particular usadas pelo News of the World, que seus telefones tinham sido grampeados. Somente uma tenaz reportagem investigativa do Guardian e do New York Times forçou a reabertura da investigação policial.

O primeiro-ministro Cameron agora promete um inquérito público, presidido por um juiz conceituado. Talvez a coisa mais importante que ele terá de determinar é por que a polícia agiu como agiu. De novo, a explicação mais provável se resume a medo. A polícia tinha medo de pôr em risco sua confortável relação com os jornais de Murdoch, que a ajudaram em seus inquéritos e a elogiavam pelos esforços de combate à criminalidade. Alguns policiais eram pagos pela imprensa de Murdoch. Autoridades de peso agora dizem que seus próprios telefones foram grampeados. Na falta de evidências fortes em contrário, a única conclusão razoável é que a polícia temia ser malhada, em vez de incensada, pela besta feroz. De modo que ela também dobrou os joelhos.

Só nos falta descobrir que um juiz conceituado foi espionado, vencido ou intimidado. Seguramente que não, gritamos. Isso não! Mas quantas vezes antes não acreditamos ter chegado ao fundo e depois ouvimos batidas vindas de baixo?

Na Inglaterra, ainda há dúvidas sobre juízes. Logo, certamente o nome de algum deles aparecerá. Aqui, nem essa dúvida temos, como mostra o já famoso caso Veja do grampo sem áudio.

É hora de agir. É hora de enfrentar o tigre-de-papel-impresso. A presidenta é a pessoa mais indicada para isso. Quem enfrentou a ditadura militar, suportou a tortura, enfrentou um câncer e chegou ao cargo máximo do país tem que dar o primeiro passo, porque O poder dos cartéis midiáticos não permite a informação livre e põe em risco a democracia no Brasil.

Itaú lucra R$ 16,3 bilhões, demite mais de 7 mil, furta R$ 245 milhões de clientes do Rio e diz que é Feito para Você


Antes que o poderoso banco envie seus advogados para me processar, esclareço que uso o verbo furtar no sentido que lhe dá o dicionário Aurélio:

Apoderar-se de (coisa alheia móvel); subtrair fraudulentamente (coisa alheia); roubar.

É disso que o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF/RJ) acusa o Itaú, e também o Santander e o HSBC.

De acordo com o MPF,(...) o Itaú-Unibanco é alvo de três ações por tarifas cobradas dos clientes do Unibanco: R$ 100,8 milhões em comissão sobre operações ativas, R$ 80,4 milhões por comissão de manutenção de crédito e R$ 64 milhões por multa por devolução de cheques.

As ações civis públicas, movidas pelo procurador da República Claudio Gheventer, pedem a restituição do dobro dos valores cobrados indevidamente com juros e correção.

Além dos ressarcimentos, o ministério quer o pagamento de indenizações por danos morais coletivos entre R$ 5 milhões a R$ 30 milhões. Os recursos serão destinados ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, para projetos de recomposição de danos ao consumidor e ao meio ambiente, entre outros.

Antes de entrar na Justiça, o MPF enviou recomendações para que os bancos fizessem o ressarcimento aos clientes. "Em razão do não acatamento das recomendações encaminhadas pelo MPF, foram propostas ações civis públicas, a fim de que a Justiça determine o ressarcimento das tarifas cobradas indevidamente", disse o procurador. [Fonte]

Segundo o Sindicato dos Bancários, o Itaú lucrou R$ 13 bilhões líquidos em 2010 e mais R$ 3,35 bilhões só no primeiro trimestre deste ano.

Mesmo com esse lucro absurdo, monstruoso, aviltante, escorchante, indecente etc. o Itaú teria demitido mais de 7 mil funcionários.

E ainda dizem que o Itaú é feito para você. É ruim, heim!

Em depoimento na Associação Brasileira de Imprensa, jornalista denuncia assédio e pressão que sofrem repórteres da Rede Globo

Ainda outro dia, fiz uma postagem aqui que dizia que Cinco meses antes da morte de Tim Lopes, repórter da Globo denunciou ameaças na Folha. Diretor da Globo duvidou.

O tal diretor era da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger:

Segundo o diretor da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger, a emissora só tomou conhecimento das ameaças que Cristina Guimarães teria sofrido ao ser notificada pela Justiça. "O suposto problema não foi comunicado à TV Globo. Ninguém na redação estava sabendo de nada. Ela simplesmente não veio mais trabalhar e só entendemos o porquê quando recebemos a notificação judicial", disse Erlanger.
Segundo ele, a TV Globo "tem tradição em jornalismo investigativo" e dá proteção a seus jornalistas quando eles sofrem ameaças, concedendo férias ou enviando-os para trabalhos no exterior.
Erlanger disse duvidar das ameaças. "Dos quatro produtores que participaram da série de reportagens, ela não seria a única a ser perseguida; é muito estranho", afirmou.

Estranho mesmo é o diretor não acompanhar os telejornais da emissora, já que o Jornal Nacional de 22 de agosto de 2002 denunciava o desaparecimento de um funcionário da Globo, que já teria sido sequestrado anteriormente em outubro de 2001, portanto, antes da declaração de Erlanger à Folha (em janeiro de 2002).

Do Jornal Nacional: "Em outubro do ano passado, Carlos Alberto [o funcionário da Globo] desapareceu durante dois dias. Relatou, depois, na mesma delegacia, que foi sequestrado, levado para a Rocinha e interrogado sobre nomes dos participantes da reportagem Feirão das Drogas. Carlos Alberto não tinha essas informações e contou que foi libertado sem sofrer maus-tratos físicos".

Estranho também é Erlanger afirmar que a repórter Cristina Guimarães (12 anos de Rede Globo, sendo seis deles no “Jornal Nacional”, depois de passar pelos núcleos do “Fantástico” e do “Globo Repórter”) não teria comentado nada com a emissora.

Não é o que Cristina afirma em depoimento em sessão especial do Conselho da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no dia 9 de julho de 2002:

No dia 12 de setembro [de 2001], no auge do atentado contra o World Trade Center, (...) A... , que é assistente de estúdio e mora na Rocinha, me empurrou para a parede e disse: “Cristina, quero falar contigo: vocês pegaram muito pesado e os traficantes já botaram em cima da mesa um monte de dinheiro para nós, moradores da Rocinha, dizermos quem fez as imagens. Por conta do que você fez, 15 pessoas já foram presas”. Entrei na redação, fui direto na Márcia Monteiro, minha chefe [no Jornal Nacional]. E disse: “Márcia, minha cabeça está a prêmio, os meninos, o A... , me disse agora que negou, na Rocinha, que conhecesse quem fez a matéria. Disse que tinha vindo uma equipe de São Paulo e que ele desconhecia o assunto.” Ela disse para que eu não esquentasse a cabeça, e argumentou: “Você já fez tantas matérias de denúncia, porque vai ficar medo agora?”

O depoimento completo de Cristina Guimarães na ABI foi publicado pelo Direto da Redação, em 17 de julho de 2002, e o reproduzo a seguir. Nele, é possível verificar o assédio e a pressão a que são submetidos os repórteres da casa e também o crédito que a Rede Globo dá à palavra de seus funcionários (em destaque num box):

Repórter acusa a Rede Globo

A jornalista Cristina Guimarães, da Rede Globo de Televisão, prestou depoimento em sessão especial do Conselho da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no último dia 9 de julho sobre a ação trabalhista que move contra a emissora sob o argumento de que esta não lhe deu proteção de vida quando passou a ser ameaçada por narcotraficantes da Rocinha depois de fazer a matéria “Feira das Drogas” veiculada no “Jornal Nacional” em agosto de 2001. Naquela ocasião Cristina trabalhou em parceria com o repórter Tim Lopes - assassinado mês passado na favela de Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão – e com ele dividiu o Prêmio Esso de Jornalismo do ano passado. Cristina trabalhou 12 anos na emissora, sendo seis deles no “Jornal Nacional”, depois de passar pelos núcleos do “Fantástico” e do “Globo Repórter”.

Atualmente Cristina está afastada do dia-a-dia da profissão, vive escondida fora do Rio de Janeiro e depende da ajuda da família e dos amigos para se manter. Segundo ela, as ameaças dos narcotraficantes da Rocinha começaram pouco depois da matéria “Feira das Drogas” ir ao ar. Ela pediu providências aos seus chefes na Globo mas como nada foi feito, segundo ela, apesar de reiteradas gestões, decidiu se afastar da emissora e processá-la. Ela relatou que por causa da matéria “Feira das Drogas” foram identificados e presos 18 traficantes na Rocinha e 11 no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio.

Equipada com uma micro-câmera Cristina Guimarães filmou traficantes vendendo drogas publicamente dentro das favelas da Rocinha e da Mangueira; dando continuidade a série de reportagens veiculadas no “Jornal Nacional” que começou com uma matéria de Tim Lopes mostrando a “Feira das Drogas” no Complexo do Alemão. Agora no início de junho, no mesmo Complexo do Alemão, numa outra reportagem investigativa – esta sobre sexo e drogas em bailes funk – Tim Lopes foi aprisionado, torturado e morto pelos traficantes da quadrilha de Elias Maluco.

CRISTINA GUIMARÃES - Vou tentar ser o mais clara possível. A minha estória começa no dia 08 de agosto de 2001 quando a Márcia Monteiro chegou para mim, na redação da TV Globo, e perguntou se havia visto a matéria do Tim Lopes sobre a venda de drogas no Morro do Alemão. Disse que sim, que era uma coisa que todos já conheciam, a feira das drogas, e era um trabalho muito arriscado tentar mostrar isso ao público, já que era tão comum. Ela me disse que queria que eu fizesse outras matérias, que continuasse a reportagem sobre as feiras de drogas. Disse a ela que seria muito perigoso porque os traficantes já sabiam que aquilo tinha sido denunciado, que eles estariam com o pé atrás e com certeza com muito mais olheiros. Ela olhou para a redação e disse que a única pessoa que poderia fazer, além do Tim, seria eu. E já que o Tim estava de férias... Expliquei a ela que teria que fazer uma cirurgia no dia 13 de agosto e como o Tim tinha tido uma semana para fazer a matéria, eu só teria três dias, portanto seria bem complicado. Na verdade, eu estava com medo...

- ...Nós, jornalistas, temos a obrigação de dizer a verdade... De passar a verdade... A verdade é que na hora, qualquer dos produtores e jornalistas na redação, estaria sofrendo perigo porque já havia sido mostrada a feira. Mas ela me disse que não, que eu era a pessoa mais competente para fazer isso e que ela e o César (Seabra) estariam me mandando fazer a matéria. E que eu teria que fazer a mesma coisa que o Tim fez. O Tim levou uma semana para fazer o Morro do Alemão: ele fazia as imagens, voltava, mostrava para o César e para Márcia. Se não estivessem boas, ele voltava lá e fazia novamente. Essa era a minha obrigação. Por isso eu entrei três vezes na Mangueira e duas vezes na Rocinha.

No mesmo dia 8 pedi um motoqueiro ou um motorista para que pudesse ver se estava acontecendo a feira; e o C... foi comigo, ele foi designado para ir comigo. Nós demos uma volta pela Mangueira e vimos que a feira continuava. Voltei para a redação e disse que só faria a matéria se fosse com um motoqueiro, porque de carro era muita ‘bandeira’. Não é fácil, não tenho cara de favela... Mas na hora do nosso trabalho a gente não pensa nisso... Eu marquei para o dia 9 começar a matéria Era até o dia de jogo do Brasil. Saí da redação por volta das 14, das 14h40m, com um motoqueiro que estava com medo, o G..., porque o motoqueiro que tinha sido designado para sair comigo era o P... . Mas o P... começou a chorar, dizendo que não iria, que ele conhecia as pessoas da Mangueira, que era um perigo para mim e para todo mundo depois da matéria feita pelo Tim... Mas o G... foi obrigado a ir comigo. Montei a micro-câmera – que monto e desmonto, assim, todo o equipamento, toda a base... Porque... As quatro vezes que estive no Irã-Iraque... Fazendo... Eu montava o equipamento de telecomunicação da Mendes Júnior... E montava também os equipamentos de telecomunicação da Odebrecht... Então eu estive duas vezes no Iraque, estive duas vezes no Iraque no acampamento, pela empresa Micro Mídia – que era uma contratada da Mendes Junior e da Odebrecht. Falei com eles novamente que era muito perigoso, mas eu iria. Já que não tinha mais ninguém na redação para fazer. As duas pessoas do ‘Jornal Nacional’ que faziam investigação éramos eu e o Tim. Esporadicamente saía (inaudível)... Nós entramos na favela na hora do jogo do Brasil e eu parei em um botequim, numa birosca, a 30 metros da boca. Em frente a escola municipal que existe na Mangueira. Fiquei fazendo lá a “feira das drogas”, durante duas horas e meia e, na saída, como estava muito apavorada e nervosa - eu e o G... resolvemos parar em um bar em frente a UERJ, para fazer hora para que a Márcia não mandasse que voltássemos de novo. Chegamos na redação por volta das oito horas, o “Jornal Nacional” já estava no ar, e mostrei o que nós tínhamos feito. E a Márcia disse que precisava de outra... De outra... Favela... Precisava de mais imagens porque nas imagens que eu tinha feito os traficantes estavam muito distantes. Que eu tinha que ir até a “boca”.

No dia seguinte, marquei para sair às 14 horas, mas o G... não apareceu. Ele passou mal e depois soube que ele foi até obrigado a assinar advertência por não ter ido trabalhar. Quem foi escalado foi o K... , Z... K... . Nós voltamos na favela da Mangueira, subimos novamente, mas só que desta vez subimos com a moto do K... . Paramos em frente a birosca, ficamos tomando cerveja até que eu criei uma coragem que não sei de onde tirei, que hoje também não tenho, para chegar até a ‘boca’. É nesse momento, que até está editado na matéria, que o traficante me expulsa do local, dizendo que na “boca” não se pode beber. Nós... Nesse momento... Eu e o Z... pensamos que íamos morrer. Estávamos no meio da “boca” e o cara olha para você e diz que na “boca” não pode beber e grita desce! Desce! Você já se imagina defunto, ou alguma coisa parecida. Nós descemos, voltamos para a birosca a 30 metros, eu permaneci na favela mais duas horas e meia para não dar bandeira. Para que os traficantes não ficassem desconfiados de nosso movimento. Paramos novamente no boteco em frente a UERJ, nosso ponto de encontro, liguei para a Márcia Monteiro. E ela mandou um motoqueiro resgatar a fita. Esse motoqueiro era o P... , levou a fita para a redação e eles me cobraram a outra favela. Porque sem outra favela não tinha matéria! Que o Tim já tinha feito o Alemão! Que eu tinha que fazer duas! Para mostrar que a venda continuava! (...) Eu ia para a Cidade de Deus, porque sabia que lá teria outra “feira”. Mas o K... argumentou que se fossemos para a Cidade de Deus, ficaria muito escuro - já estava escurecendo - que fossemos então para a Rocinha. (...) Assim que entrei na Rocinha, vimos eles. Eles ficam exatamente na Via Ápia, ali na entrada. Nós paramos a moto em frente a sorveteria, fizemos as imagens todas... Passou-se a negociação... Eu fui comprar uma meia para poder disfarçar... Sentei no bar, fiquei mais duas horas e pouco na Rocinha. Quando chegamos na emissora o “Jornal Nacional” já tinha terminado. Eu levei a micro-câmera... A micro-câmera é uma caneta, mas o gravador é pequenininho, fica dentro de uma pochete onde tem um visor. Eu entrei na redação, pedi para o K... esperar e fui até o César Seabra e a Márcia Monteiro, mostrar as imagens. Eles acharam que as imagens estavam muito escuras e que eu teria que fazer de novo. Era sábado, eu estava de plantão e até estrilei: Eu até estou de plantão, mas o que já tem já vale! Vocês já tem tudo! Já vale! Não posso ficar assim me expondo dessa maneira! Eles me disseram: “Não, não, não esquenta a cabeça. Você já derrubou tanta gente vai ter medo agora de um traficantezinho. Amanhã você volta, você pega as sete e depois, quando terminar, você volta que no domingo eu te dou folga. Você vai operar na segunda”.

Pois bem, retornei a emissora às sete da manhã de sábado, dia 11 de agosto. E fiz tudo que tinha que fazer. Fui para... Esperei o K... chegar, ele se atrasou porque também estava com muito medo - já que a esposa dele e a sogra moravam na Rocinha... Mas voltamos... Voltamos a Rocinha e ele me deixou em frente a sorveteira... E desta vez nós entramos pela Marques de São Vicente, não pela auto-estrada Lagoa-Barra. Ele me deixou bem em frente a Via Ápia, porque não tinha movimento. E até estranhou porque não tinha venda... Nós estávamos estranhando porque não tinha venda... Quarenta minutos depois, vi a favela inteira correr para o asfalto e fui para o asfalto também, ver o que era. Era uma batida com um carro importado onde tinham duas meninas muito nervosas porque tinham batido ali, em frente Rocinha. E a polícia estava lá. O Z... voltou, me encontrou e avisou que a polícia estava cercando a favela.. E disse para sairmos pelo outro lado, sair pelo valão. Fomos em direção ao valão. Nesse meio tempo vem a sogra, a esposa dele e a policia. Nós entramos num boteco perto do valão e liguei imediatamente para o Marcelo Moreira. Mais ou menos entre três e meia e quatro horas da tarde. Avisei: Marcelo a policia está aqui, não tem “feira”, está muito perigoso porque... Isto aqui vai dar merda, desculpem o termo. Ele me respondeu: “Não, você tem que terminar isso, sem as duas favelas não adianta, não vai ter matéria”. Eu respondi: Olha, vou operar, cara, o que já tem (de imagens) - já é o suficiente. Ele respondeu de novo: “Não, não. Fique aí que a policia vai sair e vai recomeçar a “feira”. Fiquei. Avisei ao motoqueiro, muito zangada, que teríamos que ficar mais tempo lá. Nós ainda rodamos a favela durante um bom tempo, agora com a esposa do K... que fiz de escudo, pois estava grávida. Ficou parecendo que ela era minha amiga já que era moradora... Era! não é mais! Voltamos para a sorveteria em frente ao ponto de venda de drogas e ficamos lá até oito horas da noite. Retornei a redação extremamente zangada. Larguei o equipamento na UTJ e a fita na mão do Marcelo (Moreira) dizendo que era aquilo que se tinha, não poderia fazer mais. Porque ia operar. E fui embora.

Só retornei a emissora no dia 12 de setembro, no auge do atentado contra o World Trade Center. E assim que entrei naquele corredor imenso, o A... , que é assistente de estúdio e mora na Rocinha, me empurrou para a parede e disse: “Cristina, quero falar contigo: vocês pegaram muito pesado e os traficantes já botaram em cima da mesa um monte de dinheiro para nós, moradores da Rocinha, dizermos quem fez as imagens. Por conta do que você fez, 15 pessoas já foram presas”. Entrei na redação, fui direto na Márcia Monteiro, minha chefe. E disse: “Márcia, minha cabeça está a prêmio, os meninos, o A... , me disse agora que negou, na Rocinha, que conhecesse quem fez a matéria. Disse que tinha vindo uma equipe de São Paulo e que ele desconhecia o assunto.” Ela disse para que eu não esquentasse a cabeça, e argumentou: “Você já fez tantas matérias de denúncia, porque vai ficar medo agora?” Naqueles dias, naquela coisa do World Trade Center, todo mundo estava preocupado com aquela matéria (“Feira das Drogas”).

Recomecei a trabalhar, continuei fazendo minhas matérias, produzindo minhas matérias. Mais ou menos um mês depois, fiz uma outra matéria de denúncia – a de um garoto, assistido da Defensoria Pública, contra o coronel Lenine. Que ele, garoto, fazia o pagamento de propinas do Celsinho da Vila Vintém para o coronel Lenine. Fui sem equipamento na Defensoria porque só queríamos saber a verdade, se o garoto estava falando sério ou não. Entrei na Defensoria Pública, estavam todos sentados, os defensores, o garoto ficou olhando para o meu rosto o tempo todo. Depois de meia hora ele perguntou se poderia falar comigo. Eu disse que sim. A defensora que trata das crianças presenciou tudo e outros defensores também. “Tia, você estava na Rocinha, com uma bermuda azul marinho e dois celulares? Eu falei que você era ‘bandeira’ e a sua cabeça está tão a prêmio, quanto a minha. Só falo com você porque estamos mortos e você é uma mulher de coragem.” Naquele dia ficamos até as cinco horas da manhã na emissora. Não sei se vocês se lembram, mas o Lenine foi exonerado, depois voltou. Aquela bagunça toda... Cheguei na redação, chamei a Márcia e disse que ia tomar providências, porque o garoto tinha me dito isso. A Márcia Monteiro disse: “Não, não tem problema!” E fiquei cada vez mais apavorada.

No dia 20 fui para Belém fazer uma matéria para o “Fantástico” sobre prostituição infantil. Eu e o Fernando Molica. No meio dessa coisa até me ligaram porque estavam escrevendo a matéria ‘Feira das Drogas” para o Prêmio Esso... Quando voltei, no dia 25, eu estava de plantão. Voltei dia 24 de outubro porque nos dias 25 e 26 estava de plantão na redação.
No dia 25 a tarde eu abri a “Folha de São Paulo”, na Revista da TV, e havia uma nota dizendo que um funcionário da Rede Globo havia sido seqüestrado para dizer quem tinha feito as imagens da matéria “Feira das Drogas”. Não conheço esse menino, nunca o vi, mas cheguei na segunda-feira e perguntei ao Ricardo Rodrigues e a Márcia Monteiro. Primeiro ao Ricardo: “Você viu isso aqui?” E ele: “Ah! Cristina, eu vi sim. Tanto que saiu no JB e no Dia”. Falei com a Márcia, mas ela disse que era invenção, que esse menino no mínimo tinha dado um “banho” no tráfico - que ele estava inventando a história... Eu já não estava mais em condições de saber o que era verdade e o que era mentira... E como é que esse garoto, se tivesse mesmo dado um “banho” tráfico, continuava sendo funcionário da Rede Globo já que outros foram mandados embora por ficarem pegando “baseadinhos”?

O tempo passou e comecei a ficar em estado de choque... Porque você fala com uma pessoa que é da sua chefia, fala com outro, que também é da chefia. e ninguém te dá ouvidos? Acha que só porque você fez duzentas e tantas matérias, ou porque você é isso, ou aquilo, que você vai se defender? Que você pode, que a TV Globo pode tudo? Pode? Ao sermos jornalista é muito importante passarmos a verdade... Mas não somos heróis! Ninguém aqui é dono da verdade ou super herói! Esse rapaz foi seqüestrado a 50 metros da porta da TV Globo! Eu tenho aqui o depoimento dele, porque logo depois que entrei na Justiça do Trabalho... Eu não estou pedindo indenização... Não estou pedindo nada! Estou pedindo os meus direitos porque não fui protegida! Até hoje eu não sou protegida! Não estou pedindo nada mais do que acho que seja meu direito! O direito de uma pessoa que ficou sabendo que a sua vida está em jogo através da nota em um jornal de outro Estado! (pausa, voz embargada).

Bem, depois de tantas iniciativas e tentativas para que alguém me escutasse – eu procurei a minha advogada - e exatamente do escritório dela, mandei um e-mail para o Schoreder(Diretor de Jornalismo da Rede Globo) que está aqui e que quero que depois vocês leiam. Nele descrevi tudo o estava me acontecendo. E ele respondeu, pedindo desculpas de estar numa reunião de acionistas, de não me responder antes, mas que seria marcada uma reunião com outro departamento para tomar ciência do meu assunto...

Muito triste eu fiquei, felizmente outras pessoas me ouviram e eu consegui me afastar (inaudível)... É muito doloroso para mim dizer que me afastei do que eu mais gostava de fazer... (pausa) Eu amo ser jornalista! Mas não vou ser mais... (voz embargada) (pausa) Desculpem (pausa)... Não posso mais contar a verdade porque as pessoas me chamam de maluca... Fui embora, tive o apoio do governo americano e inclusive está no site americano toda essa minha história confirmada.

Quando eu soube no dia 2, quando uma repórter do JB ligou para mim, que o Tim tinha desaparecido... Não dá para ter idéia... Se vocês pudessem pensar 30 segundos o que se passou na minha cabeça... Não dá para ter idéia... Eu me senti... Durante algum tempo - eu me senti muito culpada... Porque, eu podia ter gritado mais... Talvez se eu tivesse ido para a porta da TV Globo... Talvez não tivesse acontecido tudo isto... O Tim sabia de tudo isso porque ele recebeu os documentos. É muito triste para mim saber que nós jornalistas - pessoal que trabalha na televisão, no rádio - viramos reféns também... Reféns de uma verdade que está ai... Eu agora aguardo a sentença do juiz do trabalho, não moro mais no Rio – e se depender de mim, nem mais no Brasil eu quero ficar... Sou uma pessoa disposta a contar isto porque esta é a minha verdade... E quando você tem uma verdade, você morre por essa verdade. E mais triste ainda você fica quando vê que um amigo seu morreu (pausa)...[Leia a íntegra no Direto da Redação]

Inside Job, na íntegra e com legendas em português. Não deixe de assistir este documentário, Oscar de 2010




Já falei desse documentário sensacional aqui (Por dentro do jogo sujo do mercado: como agem, como manipulam, como quebram empresas e países. E como lucram!), aqui (Como é que alguém ainda leva a sério as agências de classificação de risco?) e aqui (Em Portugal economistas e professores vão à Justiça contra manipulações das agências de classificação de risco).

Agora, consegui uma versão online com a íntegra do documentário que mostra como foi a crise que abalou o mundo em 2007, cujos efeitos ainda agora explodem na Europa e permanecem nos EUA.

Se você ainda não o assistiu, não deixe de fazê-lo.

E se o caso do News of the World ocorresse aqui no Brasil, o que aconteceria?

A resposta é: Nada. Desde o fim da Lei da Imprensa, sem que se tenha colocado nada no lugar, os cidadãos estamos absolutamente desprotegidos, ante o poder avassalador das corporações midiáticas.

Graças a figuras como o deputado Miro Teixeira (Miro Teixeira pensa que todo brasileiro é deputado) estamos nas mãos das fichas falsas, dos grampos sem áudio, dos vazamentos seletivos de informação, das mentiras e calúnias deslavadas, sem nada que nos proteja - a não ser o Judiciário moroso, corrupto, remado por advogados acumpliciados com ministros do STF, como denunciou o advogado Piovesan, autor de um pedido de impeachment de Gilmar Bacamarte Mendes (Advogado pede impeachment de Gilmar Mendes por 'relações perigosas' com advogado da Globo, de Dantas...e de Gilmar Mendes).

Por isso, o escândalo dos grampos do mais que centenário tabloide inglês não daria em nada no Brasil.

Como nunca aconteceu nada com os diretores de jornalismo de O Globo, TV Globo, Folha, Estadão etc.

E nada acontecerá enquanto não percebermos que temos que agir, não só nos blogs e redes sociais. Temos que ir às ruas para exigir uma Ley de Medios aqui no Brasil. Já.

Ah, só mais um detalhe. Segundo soube, as corporações midiáticas brasileiras só estão cobrindo o caso do News of the World (e mesmo assim, de leve, com mãos de gato) porque:

Rupert Murdoch deve dar com os costados no Brasil mês que vem. O velho homem de imprensa estaria vindo conversar sobre a criação de um jornal de circulação nacional. Com a maioria acionária de um brasileiro, como exige a legislação, obviamente. [nota de junho deste ano][Fonte]

Espaço para esse jornal há. Murdoch percebeu. Mas nosso empresariado, nada. O PT, nada. Como já perguntei aqui (O poder relativo da blogosfera versus o poder impositivo da 'grande imprensa'. Que fazer?), por que não é feito?

Alô, Mino Carta, Ricardo Teixeira pra Rei Momo é sacanagem! Que tal primeiro-ministro da Itália?

Depois que abandonou a blogosfera, Mino Carta anda falando demais com seus botões e deixando de lado o jornalista para dar lugar a um italiano resmungão.

Um dos mais inovadores e inquietos jornalistas do Brasil, Mino resolveu - a partir do caso Battisti - se transformar num velho ranzinza, em vez de curtir il taccuino del vecchio.

Em editorial na sua CartaCapital, Mino escala Ricardo Teixeira como Rei Momo. Se ainda fosse do Bixiga ou da Bota, mas, aqui do Rio, agradeço e truco: acho que o pilantra bufão, arrogante e mau-humorado que preside a CBF ficaria melhor como primeiro-ministro da Itália - um Mussolini, ou, mais apropriadamente, um Berlusconi, que têm muito mais a ver com ele.

Mas esse não foi o único equívoco de Mino. Ele chamou de "ótima [a] reportagem de Daniela Pinheiro da revista Piauí" (leia a reportagem aqui). Uma reportagem típica da revista de banqueiros, com subliteratices que quase glorificam ou tornam apenas patético uma figura que chegou a declarar, quando da CPI da CBF, ‘Se o relatório for aprovado, nós estamos fodidos’.

E Mino ainda escreve que "a personagem[Ricardo Teixeira], [é, foi] talhada inexoravelmente para encostar a vasta barriga no banco de algum botequim do arrabalde, a rescender a sardinha frita e bebida derramada".

Mino, jamais tipos como Teixeira seriam encontrados num ambiente desses, frequentados por grandes jornalistas e brasileiros do maior quilate, nunca por pilantras e vigaristas como ele.

De resto, faço minhas suas palavras no editorial, quando afirma:

Desde a posse de Dilma Rousseff, a revista permite-se chamar a atenção da presidenta em relação aos efeitos que a organização e a realização da Copa terão aqui e lá fora, tanto mais ao se levar em conta o ano eleitoral. O prestígio do País e do seu governo está em jogo desde logo e estará até lá. O papel determinante reservado a Ricardo Teixeira neste enredo não induz a bons presságios.

Mas, Rei Momo é o cazzo! Ou seja, Berlusconi.

É proibido que grupo que possua concessão de rádio/TV seja dono de jornal no mesmo mercado. Nos EUA

As regras que restringem a propriedade cruzada no setor de comunicações nos EUA estão em vigor desde o Radio Act de 1934. A norma original proibia que nenhum grupo que controlasse emissora de rádio e/ou televisão poderia também ser dono de um jornal no mesmo mercado.

A mais recente “flexibilização” dessas regras havia sido estabelecida pela FCC em 2008 e considerava os índices de audiência das emissoras e o número de veículos independentes [que não faziam parte de uma rede/network] já existentes no mercado. Essa “flexibilização” só era válida para as vinte maiores áreas de mercado dos EUA (210 no total) e apenas, no caso de canal de televisão, se a emissora não estivesse entre as quatro de maior audiência e, ainda, se restassem, pelo menos, outros oito veículos independentes [cf. http://www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=view&id=7514 ].

Após protestos generalizados de organizações da sociedade civil, a “flexibilização” foi derrubada pelo Congresso americano e, agora, também pela Justiça.

Trecho de artigo no professor Venício Lima publicado na Carta Maior. Clique aqui para ler a íntegra.

Já aqui no Brasil, O poder dos cartéis midiáticos não permite a informação livre e põe em risco a democracia no Brasil:

Esta é a principal luta que estamos travando. E a principal luta que temos que travar. Porque só há uma maneira de combater o império, combatendo seu braço comunicacional, a mídia corporativa.

Não há lugar no mundo capitalista em que os veículos de comunicação estejam a favor da comunicação livre. Eles manipulam, ocultam, distorcem, difamam, e ainda se dizem defensores da liberdade de informação, quando tudo o que fazem é desinformar, alienar, golpear os governos que não rezam de acordo com suas cartilhas.

Podem escolher o país. As oligarquias midiáticas, pautadas pelo império estadunidense, defendem sempre as mesmas causas, em qualquer lugar do planeta.

Escrevi aqui uma vez uma metáfora que continuo achando válida. O que é o sequestro de uma ou várias pessoas comparado ao sequestro da realidade de todo um país?

Quem acompanha o Brasil pelos jornalões, pelas emissoras de TV – em especial pela Rede Globo – tem sua realidade sequestrada. Sem um mínimo de senso crítico, essa pessoa acredita que está diante da verdade, que o que lhe afirmam Veja, Folha, Estadão, O Globo, a Rede Globo, é um retrato fiel da realidade.

Aí se desenvolve a síndrome de Estocolmo, quando a vítima se identifica e/ou tenta conquistar seu sequestrador (e basta ler os comentários nos pitblogs para entender o que digo).

Por mais que se tente mostrar a essas pessoas que a realidade lhes foi sequestrada, elas resistem, defendem seus pitblogueiros e seus veículos do coração. Isso acontece mesmo que a realidade os desminta, como nos casos do trágico acidente de Congonhas, do caos aéreo patrocinado e agora da falsa epidemia de febre amarela, que provocou uma absurda correria da população aos postos de vacinação para se prevenir de uma epidemia que só existia na mídia.

A cegueira é tão grande, que levou a enfermeira Marizete Borges de Abreu, de 43 anos, a se vacinar duas vezes contra a febre amarela, ainda que ela não fosse viajar para uma das áreas de risco, ainda que ela tivesse restrições físicas (lúpus - caso em que a vacina não deve ser tomada), ainda que ela soubesse (como enfermeira) que não se deve tomar mais de uma dose da vacina por vez (outra dose só em dez anos).

Com sua realidade sequestrada pela mídia, Marizete vacinou-se duas vezes num prazo de uma semana e veio a falecer, vítima de falência múltipla dos órgãos.

Por isso, quando se fala de sequestro, deve-se salientar que ambas as formas de sequestro são condenáveis, mas a população desinformada pela mídia corporativa só toma conhecimento de uma, enquanto é manipulada pela outra.

Cabral engorda cofrinho do PIG: 'Após crise, Cabral dobra gastos com publicidade'

Reportagem de Wilson Tosta e Alfredo Junqueira para o Estadão:

Diante da crise política e de imagem ligada a denúncias de proximidade excessiva a empresários com interesses no Estado - que o atingiram em junho -, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), mais que dobrou as verbas oficiais destinadas ao setor de publicidade e imprensa em 2011.

Em dois decretos publicados após as acusações, Cabral elevou de R$ 55,7 milhões para R$ 120,7 milhões a autorização para gastos com Serviços de Comunicação e Divulgação da Subsecretaria de Comunicação e Divulgação - elevação de 116,75%. Até ontem, foram empenhados R$ 75,6 milhões e liquidados R$ 67 milhões. O governo nega relação desse aumento com a crise. [Íntegra aqui]

Terá sido simples coincidência que após essa injeção de recursos investigações sobre governo Cabral tenham subido a serra e batido à porta de uma prefeitura do PT?