Os fatos ocultos

(Esta é a transcrição da maior parte da reportagem de Raimundo Rodrigues Pereira, com a colaboração de Antônio Carlos Queiroz, publicada na edição de número 415, da revista Carta Capital, data de capa de 18 de outubro de 2006)

OS FATOS OCULTOS

A mídia, em especial a Globo, omitiu informações cruciais na divulgação do dossiê e contribuiu para levar a disputa ao 2º turno

1. Pode-se começar a contar a história do famoso dossiê que os petistas teriam tentado comprar para incriminar os candidatos do PSDB José Serra e Geraldo Alckmin pela sexta-feira 15 de setembro, diante do prédio da Polícia Federal, em São Paulo. É uma construção pesada, com cerca de dez pavimentos, de cor cinza-escuro e como que decorada com uma espécie de coluna falsa, um revestimento de ladrilho azul brilhante, que vai do pé ao alto do edifício, à direita da grande porta de entrada. Dentro do prédio estão presos Valdebran Padilha e Gedimar Passos, ligados ao Partido dos Trabalhadores e com os quais foi encontrado cerca de 1,7 milhão de reais, em notas de real e dólar, para comprar o tal dossiê. Mas essa notícia é ainda praticamente desconhecida do grande público.

É por volta das 5 da tarde. A essa altura, mais ou menos à frente do prédio, que fica na rua Hugo Dantola, perto da Ponte do Piqueri, na Marginal do rio Tietê, na altura da Lapa de Baixo, estaciona uma perua da Rede Globo. Ela pára entre duas outras equipes de tevê: uma da propaganda eleitoral de Geraldo Alckmin e outra da de José Serra.

Com o tempo vão chegando jornalistas de outras empresas: da CBN, da Folha, da TV Bandeirantes. E a presença das equipes de Serra e Alckmin provoca comentários. Que a Rede Globo fosse a primeira a chegar, tudo bem: ela tem uma enorme estrutura com esse objetivo. Mas como o pessoal do marketing político chegou antes? Cada uma das duas equipes tem meia dúzia de pessoas. A de Serra é chefiada por um homem e a de Alckmin, por uma mulher. As duas pertencem à GW, produtora de marketing político. Seus donos foram jornalistas: o G é de Luiz Gonzales, ex-TV Globo, e o W vem de Woile Guimarães, secretário de redação da famosa revista Realidade, do fim dos anos 1960. Entre os jornalistas, logo se sabe que foi Gonzales quem ligou para a Globo, avisando do que se passava na PF.

E quem avisou Gonzales? Foi alguém da Polícia Federal? Foi alguém do Ministério Público, de Cuiabá, de onde veio o pedido para a ação da PF? Uma fonte no Ministério da Justiça disse a Carta Capital que as equipes da GW chegaram à PF antes dos presos, que foram detidos no Hotel Ibis Congonhas por volta da 6 da manhã do dia 15 e demoraram a chegar à sede da polícia. Gente da equipe da GW diz que a empresa soube da história através de Cláudio Humberto, o ex-secretário de imprensa do ex-presidente Collor, que tem uma coluna de fofocas e escândalos na internet e que teria sido o primeiro a anunciar a prisão dos petistas.

Pode ser que sim, o que apenas leva à pergunta mais para a frente: quem avisou Cláudio Humberto? Mesmo sem ter a resposta, continuemos a pesquisar nessa mesma direção: a de procurar saber a quem interessava a divulgação da história do dossiê e como essa divulgação foi feita. Para isso, voltemos à região do prédio da PF duas semanas depois.

2. É 29 de setembro, vésperas da eleição presidencial, por volta das 10h30 da manhã. Sai do prédio da PF na Lapa de Baixo o delegado Edmilson Pereira Bruno, 43 anos, que estava de plantão no dia 15 e foi o autor da prisão de Valdebran e Gedimar. Ele convida quatro jornalistas para uma conversa: Lílian Cristofoletti, da Folha de S.Paulo, Paulo Baraldi, de O Estado de S.Paulo, Tatiana Farah, do jornal O Globo, e André Guilherme, da rádio Jovem Pan. Bruno quer uma conversa reservada e propõe que ela seja feita a cerca de um quarteirão dali, na Bovinu's, uma churrascaria. Um dos jornalistas argumenta que ali "só tem policial". O grupo acaba conversando perto da Faculdade Rio Branco, que não se avista da frente da PF, mas é também ali por perto. Ficam na rua mesmo. O delegado não sabe, mas sua conversa está sendo gravada.

Bruno diz que quer passar para os jornalistas cópia das fotos do dinheiro apreendido com os petistas, que estavam sendo procuradas há muito, por muita gente. Leva um CD com as imagens; 23 fotos; e três CDs em branco para que eles copiem as imagens de modo a que cada um tenha uma cópia. Fala que eles devem dizer "alguém roubou e deu para vocês", para explicar o aparecimento das fotos. Diz que ele próprio vai dizer coisa parecida a seus chefes na PF, que os jornalista é que roubaram: "Doutor, me furtaram. Sabe como é que é, não dá para confiar em repórter". Recomenda que as fotos sejam editadas em computador com o programa Photoshop para tirar detalhes, como o nome da empresa na qual as cédulas foram fotografadas,a fim de despistar a origem do material.

Algumas pessoas têm a fita de áudio com a conversa do delegado Bruno com os quatro repórteres. Mais pessoas ainda a ouviram. Uma delas é o repórter Luiz Carlos Azenha, que tornou público vários de seus trechos no seu site pessoal na internet "Vi o mundo, o que nunca você pode ver na tevê" ( http://viomundo.globo.com/ ). Azenha, que é repórter da TV Globo, não quis dar entrevista a Carta Capital. Pediu para que se procurasse a emissora. Para o que mais interessa ao desenrolar da nossa história, dos trechos da fita, deve-se destacar a preocupação de Bruno em fazer com que as fotos chegassem no dia ao Jornal Nacional. "Tem alguém da Globo aí?", pergunta ele. Um dos quatro responde: "Não é o Tralli? O Tralli está muito visado", Bruno diz, referindo-se a César Tralli e ao incidente, conhecido de muitos, de esse repórter da TV Globo ter podido acompanhar, praticamente disfarçado de Polícia Federal, a prisão de Flávio Maluf, filho de Paulo Maluf.

Mas a preocupação principal de Bruno é a que ele reitera nesse trecho: "Tem de sair hoje à noite na TV. Tem de sair no Jornal Nacional".

3. As fotos são divulgadas, como veremos no capítulo seguinte, com imenso destaque, no dia 29, vésperas das eleições, repita-se, no JN. Mas não apenas no JN. Veja-se a Folha de S.Paulo, por exemplo, Lá também a divulgação foi, pelo menos na opinião de alguns, espetacular: "Que primeira página mais linda, a de 30/9. É por isso que eu não consigo me separar da Folha", escreveu o leitor Euclides Araújo, no dia seguinte. "A glosa, a irreverência, a fina ironia falaram mais alto, mostrando aquela montanha de dinheiro em cima e, embaixo, Lula, sendo abraçado por uma mão morena e cobrindo o rosto, como se fosse um meliante, conduzido ao distrito, tentando esconder a identidade. O que eles querem, o Pravda ou o Granma? Valeu, Folha!"

A Folha publicou, com grande destaque na primeira página, a foto na qual o dinheiro está empilhado de forma que as notas apareçam com a frente voltada para cima, que é a que mais dá a impressão da "montanha de dinheiro" citada pelo admirador do jornal. E não divulgou que as fotos lhe tinham sido passadas por um policial visivelmente emprenhado em fazer com que elas tivessem um uso político claro, de interferir no pleito de 1º de outubro.

A Folha também tinha a fita de áudio, que foi levada por sua repórter. A editora-executiva do jornal, Eleonora de Lucena, não quis responder por que omitiu as informações dessa fita, a nosso ver tão relevantes. Alguns dos quatro repórteres que receberam as fotos do delegado Bruno, ouvidos para esta matéria, disseram em defesa da tese de que o áudio não deveria ser divulgado, com o argumento de que o jornalista deve preservar o sigilo da fonte, com o que concordamos. Mas perguntamos a Eleonora: por que ela não deu a informação de que se tratava de uma intervenção política no processo eleitoral, publicando os trechos da fita de áudio, que tornam isso explícito, mas sem citar o nome da fonte?

O mais curioso, para dizer o mínimo, é que a Folha publica, junto com as fotos do dinheiro, uma matéria ("Imagens foram passadas em sigilo à imprensa") na qual conta o que o delegado Bruno disse depois, na tarde do mesmo dia 29, ao conjunto de jornalistas, na frente da PF. No texto, assinado pela repórter do jornal que recebeu as fotos de Bruno pela manhã, se diz: "O delegado Bruno disse, ontem, em coletiva à imprensa, que o CD com as fotos havia sido furtado de sua sala, na PF - e que ele estava sendo injustamente acusado de ter repassado o material aos jornalistas". Pergunta-se: qual é o sentido de publicar uma informação que a jornalista sabia que é evidentemente mentirosa e, no caso, ainda ajudava o policial a tentar enganar a própria imprensa?

O Estado de S.Paulo do dia 30 publica a mesma foto, das notas em posição de sentido. E com um texto, assinado por Fausto Macedo e Paulo Baraldi, ainda mais incrível, também para dizer o mínimo. O texto é praticamente uma diatribe contra o PT e em defesa de José Serra. Diz que a publicação das fotos é a abertura "de um segredo que o governo Lula mantinha a sete chaves". Diz que o dinheiro vinha de quem "pretendia jogar Serra na lama dos sanguessugas". É também uma espécie de defesa do delgado Bruno, em favor do qual são ditas algumas mentiras. O texto diz que as fotos foram feitas por "um policial da Delegacia de Crimes Financeiros (Delefin)", na sexta-feira dia 15 de setembro. E que o delegado Bruno comandou uma perícia nas notas, a serviço da Polícia Federal, na sala da Protege AS, Proteção de Transporte de Valores, em São Paulo. De fato, como se saberia no mesmo dia 30 em que o texto de Macedo e Baraldi sai publicado, as fotos foram feitas pelo próprio delegado Bruno, depois de enganar os peritos que analisavam as notas, dizendo-se autorizado pelo comando da PF. Pela infração, o delegado está sendo investigado por seus pares.

4. Tanto o Estado como a Folha dividem a primeira página do dia 30 entre a notícia das fotos do dinheiro e uma outra informação espetacular: a da queda do Boeing de passageiros da Gol com 154 pessoas, depois de um choque com o Legacy da Embraer, o jatinho executivo a serviço de empresários americanos. No dia 29, no Jornal Nacional, da Globo, no entanto, não há espaço para mais nada: a tragédia do avião da Gol não entra; o noticiário eleitoral, com destaque para a foto do dinheiro dos petistas, é praticamente o único assunto.

É uma omissão incrível. O Boeing partiu de Manaus às 15h35, hora de Brasília. Deveria ter chegado a Brasília às 18h12. Quando o JN começou, a notícia do desastre já corria o mundo. No site Terra, por exemplo, às 20h10 uma extensa matéria já noticiava que o avião da Gol havia desaparecido nas imediações de São Félix do Araguaia, na floresta amazônica; e a causa apontada era o choque com o avião da Embraer.

Qual a razão da omissão do JN? A emissora levou um furo, como se diz no jargão jornalístico, ou decidiu concentrar seus esforços no que lhe pareceu mais importante?

Qualquer que seja o motivo, o certo é que a questão da divulgação das fotos mobilizou a cúpula do jornalismo da tevê dos Marinho. Como vimos, Bruno fora informado pelos jornalistas que Bocardi, da TV Globo, estava entre os jornalistas diante da PF no dia 29. Bocardi é Rodrigo Bocardi, repórter da TV Globo, que atendeu Carta Capital com muita má vontade. Disse que a matéria acabara sendo apresentada por César Tralli e não por ele; e não quis dar mais informações. De alguma forma, no entanto, tanto a fita de áudio como a conversa de Bruno com os jornalistas quanto ao CD com imagens do dinheiro foram passados à chefia de jornalismo do JN em São Paulo e de lá foram levadas a Ali Kamel, no Rio.

Kamel é uma espécie de guardião da doutrina da fé, o Ratzinger da Globo, como dizem ironicamente pessoas da organização dos Marinho, que criticam o excesso de zelo deste que é um editor em última instância de todo o noticiário político da emissora carioca. A crítica lembra o papel do cardeal Joseph Ratzinger, atualmente papa Bento XVI, no papado de João Paulo II.

Compreende-se por que a decisão sobre o que fazer com o áudio e com as fotos tivesse de ser tomada pelas mais altas autoridades da emissora. Se divulgasse o conteúdo exato das duas informações, a Globo estaria mostrando que o delegado queria usar a emissora para os claros fins políticos que manifesta e que a emissora tinha feito a sua parte nesse projeto. A saída de Kamel - aparentemente, segundo relato de terceiros, ouvidos por Carta Capital, já que ele mesmo não quis se manifestar - foi a de omitir qualquer referência à existência do áudio: "Não nos interessa ter essa fita. Para todos os efeitos, não a temos", teria dito Kamel. A informação complicava a Globo. A informação sumiu.

(Comentários sobre este artigo devem ser feitos na postagem que fez o link para cá)

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A importância do funcionário público

Uma das causas que deflagraram os conflitos que eclodiram em São Paulo na semana passada foi o vazamento de informações de uma CPI. Um técnico de som vendeu para advogados dos bandidos o áudio de tudo o que foi discutido numa sessão que deveria ser secreta da CPI do Tráfico, onde delegados informavam medidas que seriam tomadas contra líderes do PCC. O técnico de som confessou sua participação e informou inclusive por quanto se vendeu: R$ 200 reais.

As medidas contra ele, os advogados corruptos e os bandidos já estão sendo tomadas. Mas o caso é bom para se levantar uma outra questão, que não se discute, e está na raiz da maior parte dos problemas do país: a privatização do serviço público.

Antigamente, os funcionários públicos eram respeitados, tinham bons salários. Só eram admitidos mediante concursos – sempre disputadíssimos. Com a onda neoliberal que varreu o mundo, extinguiram-se cargos, incentivaram-se demissões voluntárias, aposentadorias precoces, aviltaram-se os salários, desmontou-se um trabalho de anos.

A mão-de-obra passou a ser terceirizada, em nome de uma suposta economia, com a alegação de que isso daria maior agilidade e eficiência à máquina burocrática. O que se verifica é o exato oposto. Funcionários desmotivados, descompromissados, com salários aviltados, reunidos em grandes empresas fornecedoras de mão-de-obra – muitas delas de propriedade de políticos, inclusive ex-ministros.

Abra-se a caixa-preta dessas grandes empresas e vai-se chegar à raiz da maior parte dos casos de corrupção e desvio do dinheiro público. Um artigo de Luís Nassif dá números a essas megaterceirizadoras:

Grande parte dos gastos operacionais de Furnas era com uma terceirizadora de mão-de-obra, a Bauruense, com 2.000 funcionários, e que chegou a faturar R$ 800 milhões em três anos apenas com seu contrato de Furnas. A Bauruense é a quarta terceirizadora paulista em tamanho e cresceu na área pública a partir do governo Álvaro Dias, no Paraná, de onde nasceu sólida amizade do ex-governador com os irmãos Daré, donos da empresa.

Em Brasília, a terceirização na área federal é comandada pela Confederal (do ex-ministro das Comunicações e deputado federal Eunício de Oliveira). Em São Paulo, pela Tejofram (14 mil terceirizados) e pela Gocil (mais de 8.000). E são sempre as mesmas. Mesmo sendo um setor altamente rentável, não aparecem concorrentes para disputar espaço e derrubar preços.


Somem-se a isso os milhares de cargos públicos à disposição dos políticos para nomeações a cada legislatura, a cada nova troca de comando no executivo, e tem-se o caos. De um lado, funcionários públicos concursados desmotivados, não só por terem seus salários corroídos nos últimos anos, mas por não terem um plano de metas nem campanhas motivacionais internas, como as que são feitas nas grande corporações privadas. Com isso, estão, em geral, desmotivados, por sentirem-se desprestigiados. De outro lado, o imenso efetivo de terceirizados, que não se sentem comprometidos com os locais onde trabalham, pois na verdade “não pertencem” àquele local, estão ali de passagem.

A imagem que me vem à cabeça é a de um exército de mercenários. Teoricamente poderia ser até a melhor solução para uma guerra emergencial, mas jamais como solução definitiva para um país. É necessário um exército regular, com treinamento e motivação constantes, para vencer a guerra maior, aquela que é travada no dia-a-dia.

Mas não é isso o que se vê. Pegue-se a raiz de toda a crise do mensalão, e ali estava a distribuição de cargos, a partilha da máquina do Estado entre os partidos. Cassar um ou outro deputado (nem isso fizeram) não resolverá o problema.

O que é preciso é acabar com as nomeações políticas, aceitar a terceirização apenas para pequenas e pontuais contratações, e estabelecer que o funcionalismo público é quem deve cuidar da máquina pública. Entra governo, sai governo, todos têm que trabalhar com os mesmos funcionários de carreira, admitidos após rigorosos concursos, treinados e motivados, como acontece nas grandes empresas. Mas com um grande diferencial em relação a estas, a estabilidade no emprego, para que não dependam dos humores dos poderosos da vez.

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Globo e Miriam Leitão querem que energia custe três vezes mais caro no interior (completo)

Artigo escrito especialmente para o Blog do Mello por um especialista em energia, que não quer se identificar.

Todo mundo sabe que a Miriam Leitão entende de tudo: economia, transportes, política, saneamento, escândalos com amantes de políticos, nada escapa à sabedoria e à "lógica cristalina" dessa jornalista fabulosa, que tem a exclusividade de fazer comentários nos jornais, rádios e TVs do grupo Globo.

Quando um assunto é meio cabeludo, como “energia”, ela arruma uns "especialistas", que geralmente são funcionários de empresas multinacionais e consultorias especializadas em privatização.

Os “pareceres” de Dona Miriam Leitão sobre qualquer assunto guardam entre si uma coisa em comum: todos dizem que o Lula está errado ou não previu alguma coisa a respeito do assunto antes. Mesmo que seja antes de 2002.

Nesse artigo de hoje sobre a forma como o Brasil consegue fornecer energia para as regiões isoladas, a Dona Leitão insurge-se contra a CCC, conta de combustíveis fósseis, criado em 1994 pelo então presidente FHC, que todos sabemos é o ídolo da nossa "sabe-tudo".

O curioso é que só agora, quando o Lula é o presidente, é que a Dona Leitão descobriu a "injustiça do CCC" e quer acabar com ela.

Ela faz igualzinho ao que os tucanos fizeram como a CPMF, que era “boa, indispensável, justa e necessária” enquanto os tucanos punham a mão nela, mas virou um "câncer" quando o Lula é que a destinava aos programas sociais e à sobrevivência dos hospitais.

Ela agora vê um “apagão na lógica” porque na região norte do Brasil ainda se usa óleo diesel nos geradores de energia. E vem com uma solução milagrosa, óbvia, que o governo federal não estaria enxergando, mas só ela, a "poderosa Madame Leitão", está vendo: "usar energias renováveis na região Norte”. Ora vejam! Como não pensamos nisso antes?

Viram só? A solução estava ali, esperando ser descoberta e todos os técnicos e empresas estavam desatentos, apenas preocupados com seus cartões corporativos, não tinham atinado para essa solução milagrosa...

Só mesmo a Dona Leitão, com sua astúcia e capacidade suprema poderia nos trazer a solução...

Ah, que sorte nossa, possuirmos uma compatriota assim tão brilhante e inteligente! Nem os americanos descobriram formas de levar energia aos países que ocupam e dominam nos cinco continentes, mas a Dona Leitão descobriu!

Então vamos lá, desmentir mais essa impostura, criada pela Miriam Global Leitão, jornalista que recebe grana para aborrecer todos os dias os brasileiros com sua voz anasalada, sua cantilena agourenta e de cheia de pessimismo.

As dimensões do Brasil fazem nossos problemas serem gigantescos. De sul a norte o Brasil tem 4320 km. A mesma distância de Lisboa a Atenas na Grécia. O Brasil é maior do que toda a Europa Ocidental. Até 1808 não tínhamos nem imprensa. Até 1888, um terço de nossa população era escrava. Os fazendeiros e nobres, donos de escravos, durante séculos impediram o crescimento e o desenvolvimento do país. Não queriam o crescimento, pois isso poderia acabar com seus privilégios, entre eles o da escravatura. O Brasil era apenas uma estreita franja de cidades no litoral. Só com a criação de Brasília o Brasil descobriu o Brasil. Se não fosse Brasília, não existiriam Rondônia, Mato Grosso, Acre, Tocantins, Goiás e nem mesmo muitas áreas do interior de São Paulo e Minas. Muita gente foi contra a construção de Brasília, entre eles o jornal o GLOBO, que tentou várias vezes derrubar o presidente eleito, Juscelino Kubitschek como derrubou João Goulart. JK é odiado pela mídia tal como Lula, pois teve a ousadia de cumprir a constituição e construir uma nova capital em três anos, elevando a auto-estima dos brasileiros, contra toda a campanha de difamação, pessimismo e anti-patriotismo movida pela mídia.

Acontece que um país com o tamanho da Europa Ocidental não se constrói do dia para a noite. Levar energia a todos os estados brasileiros foi outra façanha de JK, que criou Furnas, CHESF e outras grandes empresas estatais que construíram nossas hidroelétricas. Mas as enormes distâncias, que são uma vantagem de nosso imenso Brasil, atrapalham muito a construção de obras de infra-estrutura. Estradas, pontes, linhas de transmissão, hospitais, escolas, tudo isso é muito difícil de construir naquelas condições. Mesmo assim muito esforço foi feito e hoje o Brasil pode se orgulhar de possuir o maior sistema interligado de energia do mundo. Restaram no entanto 2500 pequenos sistemas isolados, que levam energia aos milhões de brasileiros que teimosamente, dia e noite, constroem o Brasil do interior, mantendo-o brasileiro, pois que senão são eles lá, aquilo já estava nas mãos dos gringos há muito tempo....Aquele é um Brasil que progride a passos largos, construído por pioneiros e pessoas de todas as raças que levam progresso e bem estar a regiões isoladas de tudo e de todos.E onde, por isso mesmo , até hoje o ministério do trabalho encontra gente pobre vivendo como escrava de gente rica.Para desespero aliás de muitos senadores do DEM, como Kátia Abreu, porta-voz e defensoras dos modernos escravocratas do Pará e do Tocantins.

Pois bem. Esses brasileiros que moram nessas regiões, onde não existem estradas mas só enormes rios e pantanais e florestas precisam de energia para viver, para produzir e conservar leite, ovos, carne ,madeira, soja, milho e todo tipo de riquezas. Seus filhos precisam de luz elétrica para estudar à noite, para terem segurança, para terem água potável, fazer sua higiene, etc.

Então, para que todos esses milhões de brasileiros tivessem energia, os vários governos municipais, estaduais e federais foram instalando grupos diesel durante os últimos sessenta , cinqüenta anos, pois não havia forma de manter um mínimo de condições de sobrevivência sem eles.

O diesel era um combustível barato até quando o Bush resolveu atacar os países árabes para aumentar as reservas de petróleo sob o controle da sua família, que é do ramo petroleiro, à custa é lógico de centenas de milhares de mortos civis e de jovens norte-americanos ( a maioria negros e latinos, é verdade).

Por uma questão de isonomia no tratamento de cidadãos, não importa em que lugar eles se encontrem, o governo federal , no tempo de FHC criou a CCC, que é cobrada de todos os demais consumidores que moram dentro da área atendida pelo sistema interligado, e que banca a diferença entre o custo da energia entre essa região e as regiões atendidas pelos 2500 sistemas isolados.

E é esse subsidio à energia nas regiões do interior, que faz com que as famílias e industrias paguem quase o mesmo valor que nós aqui na cidade que a Globo, através da Miriam, a entendida em tudo, quer acabar, sem criar nenhuma forma de financiamento em seu lugar. Tal como fizeram com a CPMF lembram? Só para criar dificuldades ao povo e ao governo, para favorecer eleitoralmente aos seus aliados tucanos.

Ela quer que se acabe com a CCC e que os brasileiros que moram em regiões isoladas paguem integralmente e sozinhos pelo diesel usado para produzir energia elétrica que consumirem, apesar de não terem culpa de os governos anteriores não terem construído redes por dentro da floresta para levar energia a todo o Brasil.

Como descoberta salvadora, nossa “iluminada” colunista-sabe-tudo vem com essa de energia solar, que custa pelo menos dez vezes mais para ser produzida que o diesel, mas cuja tecnologia é dominada pela British Petroleum, dona da Shell e de muitas empresas que pagam verbas a jornalistas mercenários através da Fundação Ford, a pedido da CIA.

Simples assim. Prestação de serviços de publicidade disfarçados de “artigos de economia”. Básico.

Agora, é preciso que os planos de Dona Leitoa e da GLOBO para acabar com a CCC e triplicar o preço da energia nos estados do Norte e do Centro-Oeste sejam bastante divulgados entre as populações dessas regiões para que o povo possa dar o troco que eles merecem: zero de audiência na TV e zero votos nas eleições de 2008 aos seus candidatos do DEM e do PSDB.

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Os candidatos do teste

Candidato A - Abraham Lincoln

Candidato B - Franklin Roosevelt

Candidato C - Winston Churchill

Candidato D - Adolph Hitler

Entrevista: Cortázar na TVE, 1977




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Como se constroem as notícias

Por Marina Amaral em 22/10/2005

Íntegra da reportagem publicada na edição especial "Corrupção", da revista Caros Amigos (http://carosamigos.terra.com.br/) – gentilmente enviada ao OI pela autora; texto citado no programa Observatório da Imprensa na TV (nº 349, 18/10/05) pela professora Marilena Chaui, em sua análise sobre os processos de construção da notícia. Intertítulos da redação do OI. [ver remissões no pé desta página]

Bairro de elite de uma grande cidade brasileira. Convite para almoço. O apartamento, decorado com obras de arte verdadeiras, é sofisticado e aconchegante, como a mesa farta a cargo da cozinheira com muitos anos de casa. A conversa não fica atrás: o assunto é política, temperada com sexo, dinheiro, negócios escusos, traição. Basta lançar o nome de um rico ou poderoso no ar e a ficha vem no ato: "Fulano? Esse começou a vida em tal lugar etc. e tal".

Nosso homem respira e transpira informação. "Tudo em off", ele avisa no começo da conversa, condição de sobrevivência para o tipo de trabalho que faz. Sua especialidade: "Gerenciador de crises, assessor de imprensa, lobista", diz, o que na prática significa produzir notícias do interesse de seus clientes, políticos e empresários (às vezes representados por escritórios de advocacia ou agências de publicidade) que buscam projeção ou reversão de prejuízos causados por denúncias na mídia.

"A informação é a moeda de troca"

Ele explica que a função do lobista que atua na imprensa é influenciar jornalistas à imagem e semelhança dos lobistas contratados para trabalhar no Congresso, esses com a missão de "sensibilizar" parlamentares. Também há pontos comuns entre seu trabalho e o do assessor de imprensa convencional, a principal diferença está no modo como atua: em vez de mandar releases e disparar telefonemas burocráticos, o lobista da comunicação se converte em "fonte" dos jornalistas, oferecendo notícias, dando a "ficha" de personalidades emergentes na imprensa, repassando as últimas sobre o assunto em voga. A reputação de homem bem-informado que sempre tem algo a oferecer aos jornalistas é a alma do negócio.

"Toda fonte é lobista e todo lobby envolve dinheiro", afirma, referindo-se aos que, como ele, são consultados diariamente pelos jornalistas e colunistas em busca de novidade. "A fonte passa informações porque é a melhor maneira de interferir nas notícias, esteja ela a serviço dos interesses de seus clientes ou de seus próprios negócios. Os maiores lobistas são os políticos. Os senadores Jorge Bornhausen e Antônio Carlos Magalhães, por exemplo, que estão entre as grandes fontes dos jornalistas políticos brasileiros, têm interesses empresariais, não apenas políticos. O Bornhausen é lobista da Febraban, o ACM defende suas empreiteiras, suas construtoras."

"E os jornalistas confiam no que eles dizem?" Ele dá sua explicação: "A informação é a moeda de troca com o jornalista. A fonte não pode mentir nem passar notícias não comprovadas sem deixar claro que não tem certeza do que está dizendo, e o jornalista jamais pode revelar a fonte. É uma relação de confiança mútua. Há coisas que não há como checar, uma pista falsa pode atrasar muito uma matéria, têm de confiar e pronto. E eles conhecem os interesses das fontes, publicam também os assuntos que sugerimos. Mas não há nada de errado nisso, porque as fontes com credibilidade passam informações verdadeiras e que realmente são notícia. O lobista, como o jornalista, tem a vertigem da notícia". "Sempre é assim?", insisto. Ele responde: "Todo jornalista um dia vai ouvir da fonte: ‘Eu preciso que você me faça um favor’. Isso significa que a fonte precisa "plantar" uma nota, que pode ser uma meia-verdade ou quase uma inverdade, e aí cabe ao jornalista decidir o que faz".

"CPI é que nem suruba"

A maioria dos lobistas trabalha em parceria com as colunas de política de Brasília, de gente como o ex-secretário de Comunicação de Collor, o jornalista Cláudio Humberto, ou ex-publicitários como Ucho Haddad e Giba Um. Aqueles que têm maior "sintonia" com a fonte recebem de presente as notas mais quentes, aquelas que antecipam escândalos e dão peso às colunas, que atuam na fronteira entre o boato e a informação. Algumas são escritas em linguagem cifrada com o objetivo de "avisar" políticos e empresários de que tem gente na "cola" deles, o que quase sempre significa emprego para mais um lobista, encarregado de "desaparecer" com a informação antes que ela ganhe as colunas políticas e sociais dos jornais, de maior credibilidade.

"Eu leio jornal e sei direitinho quem está trabalhando pra quem, quem está ‘plantando’ contra quem. Um dos piores erros do PT foi a plantação de notícias de um dirigente contra outro, abriram o flanco para a mídia, acreditaram que tinham na mão gente que eles não controlam de fato", diz nosso homem, que incluiu também a Internet entre suas ferramentas de trabalho. Todos os dias, ele envia e-mails com informações que favorecem seus clientes a 90.000 endereços usando remetentes frios e provedores de fora do Brasil. "E isso funciona?" "Faz um barulho danado", ele responde, explicando que compensa a falta de credibilidade do anonimato postando apenas "as matérias que já consegui publicar em veículos respeitados".

Enquanto conversamos, o celular toca sem parar. Colunistas políticos, repórteres da grande imprensa, clientes ou amigos interessados no desenrolar do escândalo do "mensalão" são recebidos com a piada sobre os três ternos que o vice Alencar mandou fazer (um preto, para o caso de suicídio do presidente, um azul-marinho, para posse, e um cinza, para o primeiro dia de trabalho). Aos colunistas, ele passa notas quase prontas; aos repórteres dos jornais e das semanais indica fontes dispostas a botar lenha na fogueira – a amante de fulano, a secretária de sicrano, a ex-mulher de beltrano. Também dá dicas de histórias que, garante, valem uma checagem: a sugestão do dia é investigar uma empresa de informática que o filho do presidente abriu no Brás, assunto que apareceria na mídia três semanas depois. Aos clientes, alguns de capitais distantes, reserva a análise de conjuntura antecipada pela piada dos ternos de Alencar: "Sim, o presidente Lula vai cair". Seguido da explicação: "CPI é que nem suruba, depois que começa, ninguém controla".

"Todo governo é corrupto"

Se depender dele, a suruba continua. Para quem vive de informação, como bem sabem os donos das empresas de comunicação, escândalos e campanhas eleitorais são os grandes momentos de ganhar dinheiro tanto pelo que se divulga como pelo que se deixa de divulgar. Também é um ambiente favorável para abafar outros escândalos e relevar pecadilhos como sonegação de impostos, concorrência desleal, e outros tormentos jurídicos. "E como o lobista se informa?", pergunto, perplexa com a quantidade de notícias que ele tira da cartola a cada telefonema.

"Depende do meio em que ele circula", explica. "Eu trabalho principalmente com o meu círculo de amigos. Entrei na política aos 18 anos, fui assessor parlamentar, secretário de prefeito, fiz muitas campanhas eleitorais. Você tem idéia de quantos dossiês circulam em uma campanha eleitoral? Então, as eleições passam e os dossiês ficam, a gente acaba sabendo de tudo. Também fui assessor de imprensa e lobista de grandes empresas, venho acumulando informação há décadas. Conheço todo mundo que interessa, circulo nos lugares certos, levanto a ficha de qualquer um na hora em que quiser. Sei exatamente para quem ligar conforme o caso", diz, sem esconder o orgulho profissional.

E nesse caso? Ele acredita na corrupção do PT? "Todo governo é corrupto, não há como ganhar eleição sem caixa dois e quem está no governo faz o caixa no governo, com o dinheiro público que escoa por três ralos: obras públicas, propaganda e informática. As empreiteiras tiveram seu auge no governo militar, perderam com as privatizações e a redução de obras nos últimos anos, e entraram no ramo dos serviços públicos, daí os escândalos nos contratos de lixo, por exemplo, de tantas prefeituras. Mas agora o grosso do caixa dois dos partidos vem dos contratos de publicidade – esse Marcos Valério, por exemplo, operava para os tucanos mineiros desde 1997. A informática é o filão mais recente de grandes contratos públicos e está se tornando um grande formador de caixa. O PT aderiu ao esquema dos contratos de publicidade superfaturados, das propinas nas estatais, de conseguir dinheiro nos bancos investindo naqueles que colaboram com o partido a bolada dos fundos de pensão", opina. [sic]

"Os arapongas estão assanhados"

Mais uma ligação, mas dessa vez nosso homem não passa informação, recebe. A fonte é o repórter de uma revista semanal envolvido em polêmica entrevista com aquela que seria apresentada como testemunha-chave da CPI dos Correios. No próximo telefonema, a informação recebida segue seu caminho, repassada a outro jornalista: "Sim, a ‘testemunha’ vai confirmar, não tem outro jeito, as três fitas gravadas com a entrevista estão no cofre da editora há nove meses, se o repórter for convocado a depor, as fitas serão entregues aos membros da CPI".

O que pode parecer um vazamento de informação é na verdade prestação de serviço a dois amigos: o que fez a entrevista – cuja autenticidade vinha sendo questionada pelo longo tempo em que ficou "na gaveta" e por ter sido desmentida anteriormente pela entrevistada – e o que recebeu a notícia, aparentemente em primeira mão. Pergunto quanto do seu trabalho é pago, já que perde tanto tempo fazendo favores aos amigos. "Noventa por cento", revela para em seguida corrigir, com humor: "Agora, o percentual caiu, porque não estou ganhando nada para ajudar a derrubar o governo, é trabalho voluntário".

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Foi na segunda visita que fiz a seu apartamento, já com a CPI dos Correios a pleno vapor, que ele me mostrou até onde ia seu empenho como "voluntário". Com a televisão ligada no depoimento de um dos acusados de operar o "esquema do mensalão", ele se comunicava com alguém que estava na CPI através de um de seus três celulares. "Os arapongas estão assanhados, a Polícia Federal também, um dos meus telefones está grampeado", explica.

"Nada pelos pobres"

Antes de testemunhar mais uma tarde de seu trabalho, peço autorização para escrever sobre o que presenciei em minha outra visita e perguntar mais sobre a sua profissão. Explico que, mais do que as informações sobre o escândalo, o que me interessa é mostrar de que modo circulam as informações, como os escândalos que caem nas graças da imprensa são alimentados com tanta rapidez. Ele concorda, desde que sua identidade seja preservada. Vai até o computador, abre o correio eletrônico e me chama para ver uma mensagem recém-enviada a um assessor parlamentar de um deputado da oposição, com quem falava no celular quando cheguei.

Para minha surpresa, é um e-mail enorme, contendo dez perguntas dirigidas ao sujeito que depõe nesse mesmo momento na CPI, acompanhadas de detalhes sobre a vida do "alvo" sustentando o questionário. O patrimônio, os contatos, as viagens de avião (acompanhadas dos prefixos dos jatos), os nomes que teriam sido indicados pelo acusado para ocupar cargos públicos, as empresas que teriam contribuído com o caixa dois, está tudo ali, de bandeja. "Dinamite pura, hein? Esse governo cai", comemora.

"E por que derrubar o governo?", pergunto, começando a duvidar que tanto empenho seja realmente "voluntário", como ele diz. A resposta não poderia ser mais surpreendente vinda de um homem que se declara de direita e que ganha dinheiro como lobista profissional: "Porque o Lula foi uma decepção, não fez nada pelos pobres, se vendeu ao FMI".

"Não estava maduro"

Ele acha graça ao perceber minha expressão de descrença. "Você pode não acreditar, mas, mesmo sendo de direita, defendo a necessidade de existir um partido de esquerda, um partido que esteja fora do esquema, como era o PT antes de assumir o governo. Claro, o PT roubou muito menos do que os outros governos. Em uma única jogada, o governo Fernando Henrique ganhou três vezes mais, comprando ações lá fora da Petrobras, por exemplo, dias antes de comunicar ao mercado a exploração de mais um campo de petróleo, vendendo os papéis logo depois de fazer o anúncio oficial da descoberta, o que triplicou o valor das ações. Cada notícia de que uma estatal seria privatizada era precedida da mesma operação: o Sérgio Motta anunciava que a empresa seria leiloada, as ações subiam vertiginosamente, e eles vendiam no primeiro dia da alta. Nada de tentar ganhar mais e se arriscar ao flagrante. Os caras sabiam o que faziam. O PT, não, o PT não sabe nem pode roubar. A esquerda tem de ser franciscana, não pode se corromper, tem que fazer como os partidos comunistas europeus, administrar as prefeituras e ser oposição em âmbito federal. Quem quer ser governo tem de conhecer o esquema, ter aliados reais, cúmplice de muitos negócios. O PT não sabe nem como operar: imagine esse Delúbio, que é um caipirão goiano, um sindicalista militante do PT, e esse outro Silvinho, que não consegue nem falar português decentemente, operando esquema! Isso aí é coisa pra quem sabe, pra Sarney, ACM, Sérgio Motta. Estava na cara que eles iam ser apanhados."

Comento que a imprensa parece escolher sempre a hora de um escândalo eclodir. Afinal, em setembro do ano passado, o Jornal do Brasil já havia publicado a história do "mensalão" e a Veja uma matéria falando das divergências financeiras entre PT e PTB. Por que, a exemplo da entrevista com a testemunha feita por seu amigo repórter, o escândalo levou nove meses para explodir? Por que as mesmas informações não provocaram aquele frenético fluxo de notícias do qual ele faz parte, como tantas outras "fontes", lobistas, aquilo que ele chama de "mercado" da informação?

"Porque o escândalo ainda não estava maduro", ele diz, um tanto enigmaticamente. "Veja, no caso Collor foi a mesma coisa, um jornalista de uma revista semanal já havia seguido o PC, antecipado tudo que se diria depois, publicado a matéria, e mesmo assim o caso só ganhou força com a entrevista do Pedro Collor, seis meses depois. Era o momento de o Collor cair, já não interessava mais mantê-lo ali."

"Não são movidos a propina"

"Não interessava a quem?", insisto, mesmo sabendo a resposta. "Não interessava a quem dá as cartas de fato, aos donos do poder, do dinheiro, do esquema. O governo do PT estava se tornando uma ditadura pior que a dos milicos, tentou enquadrar a imprensa com aquele conselho de ética, usa a Polícia Federal para fazer terrorismo, invadindo escritórios de advocacia, prendendo empresários trabalhadores por sonegação, por caixa dois, coisa que todo mundo faz neste país, até porque a carga tributária impede o trabalho cem por cento honesto", justifica. "Eles não merecem confiança, são bolcheviques, roubam para a causa. Claro, tem gente ganhando pra si também, mas não é essa a cabeça deles, pensam que estão acima do bem e do mal, que têm o monopólio da ética. São arrogantes, tratam todo mundo como se fossem melhores do que os outros, só podia acontecer isso mesmo", comenta.

Antes de me despedir, uma pergunta: "Você disse que lobby sempre envolve dinheiro. E no caso dos jornalistas isso não rola?"

Ele defende os companheiros de trabalho: "Hoje em dia é muito raro, os jornalistas são sérios, o que querem é informação. Claro, um colunista que tem o patrocínio de determinada empresa não vai escrever contra ela, assim como os donos de jornais e revistas têm suas preferências políticas. Não são movidos a propina, mas têm seus aliados. No governo FHC houve uma quantidade enorme de escândalos abafados".

"Pode anotar, o Lula já era"

Vai até uma gaveta, tira uns papéis e empilha na mesa. "Olha, tudo isso aqui me foi entregue na última campanha por um político do PFL", conta. Dou uma olhada nos papéis. Há denúncias contra o filho de FHC que teria ganhado dinheiro como lobista durante os governos do pai, um dossiê contra um ex-ministro que seria sócio oculto de empresas que atuavam no setor que fiscalizava, documentações de transações suspeitas envolvendo membros de governos anteriores e empresas privadas, notícias de desvio de dinheiro que teria sido feito por familiares e assessores de governantes.

"Isso ficou parado porque o político para quem eu trabalhava não quis usar, e eu sabia que não interessava à grande imprensa, claramente a favor dos tucanos", explica.

Cito o nome de um repórter, apontado como "contratado" de um grande grupo privado para plantar matérias do interesse do cliente na revista em que trabalha, cujo dono também é acusado de vender matérias de capa a empresários em dificuldades. Acrescento que há conversas gravadas e e-mails por trás das denúncias publicadas por outra revista semanal, essa fora de seu círculo de relações. Ele afirma ser amigo de ambos os denunciados e acrescenta, irônico: "Foi nessa revista que saiu? Então não faz mal. Essa ninguém lê". Ele sentencia isso, embora a tiragem de ambas as revistas – denunciada e denunciante – seja praticamente a mesma.

O telefone toca mais uma vez. Ele pede um momento ao interlocutor, e me acompanha até a porta. Mas não resiste a antecipar a novidade com que brindará mais esse jornalista: "Vão pegar a filha do presidente agora, um contrato dela com uma empresa sustentada por um banco estadual federalizado. Pode anotar, o Lula já era".

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Grandes Fontes

Os trinta nomes mais quentes da agenda dos colunistas

1) Antoninho Marmo Trevisan, consultor e empresário.

2) Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay), advogado.

3) Antônio Carlos Magalhães, BA/DF, senador e empresário.

4) Aristóteles Teles Drummond, RJ/DF, jornalista.

5) Benjamin Steinbruch, SP/DF, empresário.

6) Carlos Brickmann, SP/DF, jornalista.

7) Cláudio Lembo, SP, advogado e vice-governador de São Paulo.

8) Eugênio Staub, SP, empresário.

9) Gilberto Kassab, SP, deputado, vice-prefeito de São Paulo, empresário.

10) Gilberto Mansur, SP, jornalista.

11) Hélio Costa, MG, jornalista, ministro das Comunicações.

12) João Carlos Di Gênio, SP/DF, empresário.

13) Jorge Bornhausen, SC/DF, senador e empresário.

14) Jorge Rosa, DF, jornalista.

15) Jorge Serpa, RJ, empresário.

16) José Carlos Aleluia, BA/DF, deputado.

17) José Carlos Azevedo, DF, ex-reitor da UnB.

18) José Agripino Maia, RN/DF, senador e empresário.

19) José Aparecido de Oliveira, MG/DF, ex-embaixador em Portugal.

20) José Serra, SP, senador, prefeito de São Paulo.

21) Luiz Fernando Artigas, DF, assessor parlamentar.

22) Luiz Fernando Emediato, SP, jornalista.

23) Marco Maciel, PE, ex-vice-presidente, senador.

24) Mário Rosa, DF, jornalista, assessor de imprensa.

25) Mauro Salles, SP, publicitário.

26) Paulo Marinho, RJ/DF, assessor de imprensa.

27) Ruy Nogueira Netto, SP, assessor de imprensa.

28) Silvestre Gorgulho, MG/DF, jornalista.

29) Tão Gomes Pinto, SP/DF, jornalista.

30) Tasso Jereissati, CE/DF, político e empresário.

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