Julgamentos apressados

Acaba de acontecer aqui no Rio um episódio muito semelhante ao da Escola Base em São Paulo. Mas como a repercussão não está sendo nacional, a mídia finge que não tem nada a ver com isso.
Em 29 de novembro último, um grupo, a mando de um traficante, incendiou um ônibus e todos os que estavam dentro dele, matando cinco pessoas. No dia seguinte, uma jovem foi presa.
Nas primeiras páginas de todos os jornais e nas matérias dos principais telejornais, ela foi apresentada como a namorada do tal traficante e principal responsável pela chacina. Contra ela havia apenas o depoimento de uma menor, de 13 anos, que a reconhecera por foto, embora todos os sobreviventes não a tenham reconhecido.
Agora, após amargar mais de 30 dias de cadeia, ela é solta. Reconheceu-se que houve um engano.
Nesse intervalo, ela teve sua imagem espalhada por todo o país, tachada de monstro, ameaçada de morte.
A busca desenfreada por culpados, para satisfazer o apetite indignado da população, está na raiz deste fato - como de outros que diariamente a mídia divulga.
Há pouco, por exemplo, o presidente do Senado, senador Renan Calheiros (PMDM-AL), juntou-se ao coro dos indignados e defendeu a convocação extraordinária do Congresso:
- "Se o governo pensa no recesso para dar férias à crise, não vai contar comigo."
Veio a convocação. O senador está em casa, em Alagoas. O Congresso, vazio. Os congressistas com os bolsos cheios.