A morte e a outra morte do pequeno João

O caso da morte do pequeno João, de apenas seis anos, que teve o corpo arrastado por quatro bairros do Rio provocou comoção na cidade e no país inteiro.

Mas temos que tentar pôr a cabeça no lugar e não agirmos como loucos ou desesperados. Assim agem os bandidos.

Provavelmente, os três, que já estão presos e confessaram o crime, não tinham intenção de fazer o que fizeram. Nenhum deles tem passagem anterior pela polícia. Usavam uma arma de brinquedo. Enquanto fugiam com o carro que acabavam de roubar, não devem ter percebido que arrastavam e destroçavam o corpo do menino.

Mas a exploração da notícia pela imprensa é absolutamente nojenta. O sensacionalismo, a busca da emoção barata, com a exposição de desenhos e mensagens da criança, narrativas no diminutivo, tudo isso é um segundo crime cometido contra o menino.

Mas quem procura por detalhes da notícia descobre a causa principal da tragédia. Mais de 70% dos roubos de carro no Rio acontecem na Zona Norte da cidade, como o que vitimou João. Na Zona Sul, onde ficam Ipanema, Copacabana, Leblon, e é a área mais policiada, são apenas 2%. Os números falam por si.

Hoje o dia vai ser penoso. A morte do menino será explorada pela mídia sensacionalista até a exaustão, como já o foi ontem. Mas, amanhã é sábado, a uma semana do carnaval. Logo, a grande imprensa - jornalões, emissoras de rádio e TVs – vão tirar a máscara do sofrimento e vestir a máscara da alegria, conforme combinado com os patrocinadores. Para eles, a exploração da notícia é apenas o meio de que se utilizam para engrossar o faturamento, com o aumento de audiência ou de exemplares vendidos, o que se reflete num maior número de anunciantes. A notícia – como o gol para o Parreira – é apenas um detalhe.