quarta-feira, 25 de abril de 2007

Bancos demitem funcionários endividados, que ainda perdem direitos trabalhistas

Os grandes bancos caminham a passos largos para se tornarem as instituições mais odiadas do país. Se não bastassem as filas, os juros escorchantes, o atendimento distante - quando não ausente ou mal educado - as portas giratórias com seus vigias especialmente treinados para não saber como tratar o cliente (eles são tão incapazes e de tal forma a incapacidade é padronizada, que só pode ser fruto de muito treinamento)... Se já não bastassem esses atributos, uma reportagem publicada em O Globo mostra que os bancos demitem funcionários inadimplentes, baseados numa lei antiga ainda em vigor.

O artigo 508 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permite que os bancos demitam seus funcionários endividados, sem poder sacar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e sem direito aos 40% de indenização ou ao décimo terceiro salário.

Ou seja, lucram de todas as formas: em cima do trabalho dos funcionários, nas dívidas contraídas por eles e na hora da demissão, pois se livram de pagar o que seriam direitos.

Não é à toa que pesquisa do Instituto Datafolha sobre imagem das empresas colocou um dos grandes bancos (o Unibanco) ao lado das empresas de telefonia, como aquelas que as pessoas não só não indicam como fazem campanha contra.

Mas, enquanto o Banco Central continuar a tomar suas decisões tendo-os como conselheiros, a situação continuará tranqüila para eles e absolutamente intranqüila para os bancários e clientes.

Só que a situação está mudando. Novos ares estão soprando, e eles parecem irreversíveis. Bem ao seu modo, o presidente Lula vai esticando a corda e Henrique Meireles vai assistindo à queda de seus dominós, um após outro. Logo, o presidente do Banco Central será como uma daquelas bóias no meio do mar, flutuando, sem nada que o sustente. Então, ele pedirá o boné e voltará a trabalhar para os patrões, agora de forma declarada.

Quando os bancos, para manter lucro e competitividade necessitarem de funcionários e de boa imagem junto aos clientes, vai ser um Deus nos acuda, em busca de consultorias, treinamentos.

Por enquanto, eles continuam agindo como o Unibanco, que, segundo a reportagem, distribuiu aos funcionários um comunicado no qual informa que, "depois de três cheques devolvidos no período de um ano e meio, o bancário será demitido por justa causa, depois de duas advertências".

Não importa o tempo de casa. Não importa o que ele já rendeu para o banco. Endividado, ele será jogado na rua, sem FGTS, sem a indenização ou o décimo terceiro. Como sucata.

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6 comentários:

  1. Anônimo25.4.07

    Mello,

    Não gosto de defender os bancos e também sei que neste blog minha opinião a seguir pode vir a ser odiada. Mesmo assim, quero comentar seu post com um "outro lado".

    Primeiro, sobre a questão do endividamento. Como você sabe, todo produto de banco envolve dinheiro e quase todo bancário trabalha cotidianamente com somas que ele nunca vai possuir. O dinheiro não é do banco, é seu, meu e dos outros clientes.

    Embora a maioria dos "endividados" não tenham propensão ao crime, é fato que muitas das fraudes perpetradas por bancários relacionam-se com suas dívidas pessoais. São operações tapa-buracos: o fulano desvia um dinheiro para cobrir uma dívida, pensando que amanhã poderá repor. Mas continua fazendo dívidas e depois não só não consegue repor como ainda precisa realizar novos desvios.

    Repito: a maioria dos bancários endividados não vai fazer isso - mas quase todas as fraudes em bancos começam assim.

    Então, o Banco está protegendo o seu (dele) patrimônio e evitando uma série de dores de cabeça para os clientes. Entenda o que eu digo: os bancos cobram juros escorchantes e pagam salários baixos. Mas ainda assim, melhores que os equivalentes em outros mercados. Um caixa de banco ganha mais que o dobro de um caixa de supermercado e ainda tem benefícios que o do mercado não tem. E a diferença é ainda maior em outros níveis.

    Minha experiência pessoal diz que excesso de endividamento, pelo menos para aqueles que tem um salário minimamente decente, como é o caso, não está relacionado às entradas e sim às saídas. Eu acompanhei pessoas que em três ou quatro anos triplicaram o salário e continuaram endividadas. Enquanto outras, ganhando pouco, sempre se mantiveram em dia com seus compromissos. Todos devem lutar para ganhar mais, é claro, mas também devem saber controlar seus gastos. A maioria das situações de endividamento que vi referiam-se a consumos bobos, nunca a reais necessidades. Não era por doença na família (até porque os bancos provêem assistências médicas razoáveis), mas um carro acima das condições. Não era por um acidente ou desastre natural, era para viajar para algum resort. E o resto era para pagar juros absurdos de cartão e cheque especial.

    Então, se a pessoa é descontrolada, passou significativamente dos seus limites e, por outro lado, trabalha com MUITO dinheiro alheio, é evidente que o Banco tem que controlar a situação.

    Controlar não significa demitir por justa causa. Nos bancos que trabalhei, raramente chegava-se a tanto. Sempre que se descobria uma situação de endividamento, o funcionário era chamado para conversar e se propunham soluções, como a consolidação de dívidas em um empréstimo pessoal a juros "baixos" (mais baixos que o mercado, entenda-se). Ou seja, o cara quitava o cartão, os cheques especiais e outras dívidas e trocava por um empréstimo parcelado, pagando menos por isso.

    Alguns não aceitavam, porque as pessoas não vergonha de fazer dívida, mas de admitir que estão endividados. Outros aceitavam e passavam a se controlar melhor e já não tinham mais problemas. E outros aceitavam, mas logo aproveitavam a folga no orçamento para contrair novas dívidas.

    Ainda nestes casos, a decisão por uma demissão não era comum. O que acontecia, quase sempre, era continuar acompanhando o caso até que se resolvesse.

    Mas ainda assim, alguns casos eram bolas de neve, sem fim. Nestes casos, depois de várias tentativas de acerto, uma demissão poderia ocorrer. Acontece que esta demissão é uma chance para a pessoa - com a rescisão ela pode quitar suas dívidas. NUNCA isso ocorria por justa causa.

    Outra coisa é a emissão de cheques sem fundo - que não tem um ligação tão direta com a questão do endividamento. Endividados ou não, as pessoas emitem cheques sem fundo. Isto não é permitido por lei para um bancário. Todos os bancos tem a regra que você comenta do Unibanco. A lei é dura e pode estar errada, baseada na CLT. Lutemos para mudá-la, se for o caso. Mas é a lei. Se é de 1948, 2007 ou 1822, não importa. As leis "boas" destes anos, nós queremos que sejam cumpridas, né?

    A propósito, também nunca vi usarem este artigo da CLT para uma demissão por justa causa. Sim, para demissões, mas, como disse, é apenas a lei.

    A propósito, não vou começar um debate sobre o papel dos bancos. Não sou defensor deles, não tenho procuração, nem trabalho mais em banco. Apenas quis mostrar um outro lado DESTA questão específica.

    Abraço.

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  2. Anônimo25.4.07

    Concordo com o Luis Hamilton. Tem muita gente endividada e de cabeça quente pode meter a mão no dinheiro dos bancos. Eles tem que se proteger.
    Lúcia

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  3. Anônimo25.4.07

    Cadê o sindicato dos bancários? Eles só querem tumultuar e conseguir emprego no governo do apedeuta. Não viram a bagunça de ontem aqui em São Paulo? Uma greve que nem os metroviários sabiam para que.

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  4. Anônimo18.7.08

    Entendo e concordo com o Hamilton.

    RI MUITO do Ricardo!

    Apedeuta é a PQP! Se acha que consegue fazer melhor e mais limpo se candidate a Presidente, ô Ricadidinho!

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  5. Anônimo17.9.08

    boa noite sou bancario em BH e acho que vocês precisam ver como realmente funciona o sistema, as cobranças são fora do normal, a forma de um Gerente te chama atenção nem mesmo os meu pais me tratariam assim, por isso acho que essa chasse tem muito a melhorar. Ha sim so lembrando uma caixa ganha o dobro de uma caixa de supermercado, mas ele so auteticação mercadorias, os caixas dos banco abrem conta vem os produtos dos banco arruma as maquinas e sempre tem que inovar sua ideias para continuar em sua vaga se não e mandado embora e eles colocam outros.

    ate pensem bem....

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  6. Anônimo23.8.10

    Olhe, só quem trabalha em banco sabe o quanto é cobrado.
    Para se trabalhar em banco é necessário que se tenha bom relacionamento. Que seja bom em vendas. Que entregue seus resultados e metas pré-definidas (e que não são metinhas não... São metas absurdas)...
    Enfim... Tem que se vestir bem, andar em lugares sociais mais elevados... Coisa que não é fácil, com o salário que nós ganhamos.
    Digo nós, porque sou Gerente de Relacionamento do Banco Real e pra falar a verdade, para o que nós fazemos, para a cobrança que exercem sobre nossas cabeças, para a pressão psicológica e até mesmo para o preparo que temos que ter... Nós ganhamos muito abaixo do esperado. Meu salário bruto é R$2.200,00 - MEU AMIGO, EU SOU GERENTE DE RELACIONAMENTO VAN GOGH, E GANHO ESTA MERDA !!!!!!!
    E ainda se tiver dívidas, o banco me bota pra fora com uma mão na frente e outra atráz ???
    E O PIOR ... AINDA TEM GENTE QUE É A FAVOR DISTO ??????

    PELO AMOR DE DEUS - TENHAMOS MAIS UM POUCO DE BOM CENSO !!!!!

    ASSINA:
    BANCÁRIO INDIGNADO !

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