‘Haverá um dia em que os pobres morrerão de fome e os ricos, de medo’

A partir dessa frase de Josué de Castro criei o título de um panfleto (como o identificou Gustavo Bernardo) a la Swift (não os enlatados, mas o escritor irlandês) que escrevi, em janeiro/fevereiro de 1998: “A Fome e o medo”. Foi publicado em dezembro de 1999.

Tento no livro mostrar que esse dia em que os pobres morrerão de fome e os ricos, de medo, já chegou.

Desempregados de vários tipos se juntam e formam uma empresa, a Demu – Desempregados do Mundo Uni-vos SA – para tentar uma negociação com os poderosos. Para serem ouvidos, seqüestram os familiares dos principais dirigentes dos grandes grupos multinacionais e lhes enviam uma proposta. O livro é essa proposta.

Segue abaixo um pequeno trecho. Se quiser fazer o download do livro, ele está aí à direita. É só clicar.

(...)... exis­tem vários de nós, como dizíamos, que adorariam pe­gar um de Vós (e fariam isso graciosamente, sem co­brar absolutamente nada, pelo simples prazer), pegar um de Vós, como dizíamos, e rea­gir, ter a oportunida­de de colocar as mãos, ambas, com todos os dedos, em Vosso pescoço, apertá-lo até sentir que Vossa Ex­celência, que é tão sufocante, começa a implorar por ar, que Vossos olhos se esbugalham apavorados, que Vossa garganta quer emitir um som desesperado, um pe­dido de socorro - agora tão inútil, extemporâneo, até ig­nóbil -, que todo Vosso corpo se contorce em convul­sões, enquanto a morte se aproxima de Vós, calma­mente, e ela não parece Vos ter respeito algum, ne­nhum medo na face da morte que se aproxima - e isso Vos desconcerta e apa­vora ainda mais - , e já não há cartão de cré­dito, promessa de emprego, aumento, dinheiro, pro­messa de felicidade, não há nada que afaste aquelas mãos de Vosso pescoço, não há nada mais que Vossa Excelência, que é tão pode­roso, possa fazer, a não ser tentar convencer, com Vossos uivos de sufoco, Vossos olhos esbugalhados, que tudo o que Vossas Excelên­cias, que são, como já dissemos, exce­lentes, tudo o que vêm fazendo foi sem querer, nunca houve ne­nhuma má intenção - foram apenas, como está escrito nas bulas de remédios, "efeitos colaterais indesejá­veis". Mas, infe­lizmente para Vós, é claro, as mãos em Vosso pescoço não concordarão com isto.(...)

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