Constantino-Roriz: Dinheiro do dono da Gol continua dando o que falar

Da reportagem de Jailton de Carvalho e Gerson Camarotti, em O Globo:

O Ministério Público do Distrito Federal investiga o envolvimento do empresário Nenê Constantino, dono de empresas de ônibus e da Gol Linhas Aéreas, numa suposta farsa para camuflar a partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões entre o ex-senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) e outros investigados na Operação Aquarela. A suspeita surgiu após a descoberta de um depósito de R$ $1.931.155,60 que Constantino fez na própria conta bancária, no Banco do Brasil, no último dia 3. A operação financeira foi confirmada ao Globo por Constantino, que alegou que ficou com o dinheiro parado tanto tempo "por simples comodidade".

Para os investigadores, a manobra tem uma falha: a data do depósito. O cheque de R$ 2,2 milhões foi sacado em 13 de março, e o depósito, feito em 3 de julho - uma diferença de 112 dias. Nesse período, Constantino poderia ter lucrado R$ 72 mil, se tivesse aplicado o valor de R$ 1,9 milhão a uma taxa de 1%, rendimento médio no mercado de capitais.

- Estão tentando dar uma explicação para o destino do dinheiro (o cheque de R$ 2,2 milhões). Mas falta explicar por que alguém guardaria tanto dinheiro em casa por tanto tempo - disse uma das autoridades que investigam o caso.

O empresário Nenê Constantino confirmou ontem o depósito notificado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), e alegou que manteve parte do dinheiro em casa por tanto tempo por uma questão pessoal. Esta é a primeira vez que Constantino fala sobre o caso, desde que o escândalo veio a público.

- O dinheiro, por simples comodidade de minha parte, ficou guardado em espécie e devidamente contabilizado. No entanto, em função de toda a polêmica, para evitar distorções ainda maiores, resolvi depositá-lo em agência bancária do Banco do Brasil onde possuo conta corrente, o que fiz no último dia 3 de julho, num valor total de R$ 1.931.155,60", afirma na nota.

Desde o dia 1° de julho (na postagem que reproduzo a seguir) venho cobrando uma investigação mais ampla em cima de Constantino. Certamente, ele tem muito mais a dizer do que o fez até o momento.

Agora, o detalhe dos centavos no depósito mostra que se trata de um típico caso de gato escondido com o rabo de fora, não? Fico imaginando a cena:

- Mulher, pega aquela minha meia marrom lá no quarto. Dentro dela tem o troco daquele empréstimo pro Roriz. Deposita tudo na conta do BB, até os centavos...

A postagem do início do mês:

Que tal pedir ao dono da Gol para contar a história real (R$) do caso Roriz?

Tudo bem que o senador Roriz não tem lá uma reputação das mais respeitosas. Pelo contrário, suas administrações em Brasília foram cercadas de escândalos. A fantástica história da bezerra é mais uma história pra boi dormir do que outra coisa. Mas, e o empresário Constantino de Oliveira, presidente do Conselho de Administração da Gol? Se não se aceita a história de Roriz, por que não se investiga Constantino para que ele revele a verdade?

A suspeita de que os R$ 300 mil sejam dinheiro de corrupção não pode cair apenas para o lado do senador. Só há corruptos, se houver corruptores. Por que o cheque do Constantino, que era do Banco do Brasil, foi descontado no BRB? Por que Constantino – e não outra pessoa - “emprestou” o dinheiro a Roriz? É bom não esquecer que boa parte da fortuna da família vem de suas empresas de ônibus de Brasília, cidade que foi longamente administrada pelo atual senador.

Por que não se fala também que essas empresas devem milhões ao INSS? Que uma delas - a Viação Planeta – mudou de endereço (inclusive de estado) nove vezes num período de 18 meses, gerando relatório da Receita Federal com a seguinte afirmação:

"Emerge de todo o relatado que o ato de comunicação de mudança falsa de endereço da Viação Planeta visava beneficiar ilicitamente a devedora, visto que seria negativada em praça onde não tem sede nem negócio algum"

Isto sem contar as autuações por trabalho escravo nas Fazendas Colorado, no Pará, e Tabuleiro, na Bahia. Na primeira, foram encontrados 23 trabalhadores em condições de escravidão. Na segunda, um número mais de 12 vezes maior – 279.

Gostaria de saber os reais (com duplo sentido) motivos de pouparem o homem que financiou a bezerra de ouro, ou vou acabar pensando que agem assim porque não querem perder patrocínio da Gol.

Clique aqui e receba gratuitamente o Blog do Mello em seu e-mail