quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A escolinha do professor Kamel

Na terça, o diretor de jornalismo da Rede Globo Ali Kamel, em artigo publicado no Globo (hoje reproduzido no Estadão), condenou a utilização do livro Nova História Crítica, adotado pelo MEC e escolhido por dezenas de milhares de professores de todo o Brasil. Mas, menos do que uma aula de história, o artigo de Kamel é uma aula do tipo de jornalismo que pratica e que denunciei aqui no Tico Tico no fubá da mídia golpista.

“Aí omito aqui, aí aumento lá,
Distorço tudo pra melhor manipular”.

Para quem não leu o artigo de Kamel, resumo. Ele começa de modo divertido, já pela escolha do título “O que ensinam às nossas crianças”. Pensei que Kamel fosse criticar a programação infantil da Globo, centrada no programa da Xuxa, cheio de desenhos educativos, informações culturais relevantes e incentivo ao consumo responsável, como no impagável anúncio de algum produto da Xuxa, em que as criancinhas cantavam alegremente “Eu tenho, você não te-em. Eu tenho, você não te-em”...

Mas estava enganado. Kamel nos informa, logo de início, que recebeu um livro das mãos do psicanalista Francisco Daudt. Deve ser amigo de Kamel. Talvez até seja seu psicanalista. Não sei. Mas, como num antigo slogan da Globo: Kamel e Daudt, tudo a ver. Porque o psicanalista é aquele que, em seguida à tragédia com o Airbus da TAM em Congonhas, escreveu um artigo na Folha que começava assim:

Gostaria imensamente de ter minha dor amenizada por uma manchete que estampasse, em letras garrafais, "GOVERNO ASSASSINA MAIS DE 200 PESSOAS".

Bom, o Kamel, em parte, fez a vontade dele, pois, logo de cara, a Globo convocou vários especialistas para testarem a hipótese de que a culpa da tragédia era do governo Lula.

Voltemos ao livro. Após a leitura, Kamel confessa que ficou horrorizado. Diz que o livro quer inculcar na cabeça dos jovens que o socialismo é a solução para todos os problemas. E escolhe trechos do livro que comprovariam sua tese. Omite todas as que vão de encontro a ela, mas que o autor do livro, o professor de História Mario Schmidt, mostra que estão lá.

Em resposta ao artigo de Kamel, publicada no Portal Vermelho, o professor nos informa o que Kamel omitiu. E então o artigo cai por terra, pois, pelo material divulgado pelo professor, seria possível escrever um artigo com sentido oposto ao de Kamel.

Por isso é que falei, no início, que, na tentativa de criticar um livro de História, o professor Kamel dá uma aula de seu tipo de jornalismo.

Já há algum tempo, ele vem tentando reescrever a História. Inicialmente, apenas a da Globo, que na versão Kamel não manipulou a edição do debate Lula-Collor, não escondeu a imensa manifestação da praça da Sé pelas Diretas etc.

Em sua visão peculiar da História, por exemplo, Kamel afirma que no Brasil não há racismo, mas pode passar a ter, a partir da política de cotas e das ações afirmativas do movimento negro.

Recentemente, publicou novo livro, em que afirma, a certa altura, que, de acordo com as informações do momento, foi legítima – mais que legítima, necessária – a invasão do Iraque pelos EUA. Bush teria usado apenas de seu científico direito de testar hipóteses, quando mandou bombardear e ocupar o Iraque, causando a morte de um milhão de iraquianos, até o momento.

Mas o que mais me intrigou no artigo de Kamel foi seu final. Ele diz que “algo precisa ser feito, pelo ministério, pelo congresso, por alguém”.

Quem ou o que seria esse alguém?

O leitor quer testar hipóteses?

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7 comentários:

  1. Anônimo20.9.07

    Olá Mello,

    Quanto ao Kamel, será que ele é autista?

    Delbert Almeida
    delbert@ig.com.br

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  2. Anônimo20.9.07

    Desculpe-me pelo comentário fora do tema em tela:

    É patético ter que ouvir a retórica de nossos congressistas contra a CPMF. Quanta indignação contra 0,38% de imposto! Enquanto isso a Receita Federal bate recorde de multas aplicadas em sonegadores, graças à CPMF!

    Será que eles estão também indignados com a extorsão cometida pelos nossos bancos quando cobram 3% de taxa em TODO pagamento comercial com débito em conta?

    Quando faço uma compra com débito em conta o dinheiro sai on line da minha conta e o comerciante paga sobre seu faturamento 3% de TUDO o que vende! O banqueiro explora a mão-de-obra alheia sem esforço!

    Será que o Ministério Público Federal está interessado em questionar essa extorsão judicialmente?!

    Delbert Almeida
    delbert@ig.com.br

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  3. Anônimo20.9.07

    Prezado,
    será coincidência que no mesmo dia do artigo do Kamel O Globo trazia matéria a respeito da reforma educacional na Venezuela?

    Marcelo

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  4. Anônimo20.9.07

    É como afirmo sempre e pra qualquer um, esses jornais e revista o Globo, Estadão, Folha e Veja só utilizo é pra limpar a bunda, só pra isso que vejo utilidade.

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  5. Li os trechos do livro citados por Kamel, bem como outros citados pelo autor do livro. Pescando trechos como fizeram ambos, é possível passar mensagens de sentidos inversos, como bem apontou você. Por isso melhor é examinar o todo. Contudo, critico a forma usada para escrever estas passagens. Por exemplo, seria melhor usar uma linguagem neutra para elaborar prós e contras do regime soviético para as diferentes camadas da população. Da forma escrita pelo autor desperta a emoção ao invés de somente a razão crítica.
    Está claro que o Sr. Kamel faz uso de sua posição privilegiada para tentar amplificar a opinião de setores da sociedade. O Srs Daudt, Kamel e outros que o acompanham certamente não possuem a mesma autoridade que centenas de professores que escolheram este livro. Faz uso desta posição de modo indevido, manipulando e omitindo, no estilo adotado pela emissora a qual pertence.

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  6. Não conhecia nem o tal Kamel nem o tal livro, mas fui seguindo os links sobre essa discussão toda. Tenho que discordar de você Mello, o texto dos livros é bem ruim mesmo e também fiquei com impressão de um viés ideológico mal disfarçado nessas passagens.
    Abraço,

    Elano

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  7. Anônimo20.9.07

    Elano,

    Veja este comentário que está no blog do Nassif (http://www.projetobr.com.br/blog/5.html)

    Enviado por: Maria Pascale Duarte Coelho

    Caro Nassif e demais colegas, fico absolutamente transtornada com a mediocridade do debate e a manipulação simbólica dos fatos. Imaginem a onipotência da Folha - com seu editorial - do Kamel e demais articulistas da grande imprensa que, além de mentirem, pois somente destacam do livro os pontos que para eles são ideologicamente oblíquos, não respeitam a opinião de 50 mil professores e consultores pedagógicos que aprovam o livro. Desconhecem a Associação Nacional de Pesquisadores em Educação - ANPED, que em conjunto com consultores independentes e o MEC faz as avaliações dos livros didáticos. Será que todo o pessoal responsável pela política de educação do país quer engabelar o estudande e reproduzir material didático de baixa qualidade para viabilizar uma revolução comunista? Me poupem dessa baixaria.

    Para mim o que fica cada dia mais claro é a intenção do Sr. Kamel de ser porta-voz da nova direita e de chamar os holofotes para a sua "sabedoria". E pior, a FSP entra no jogo sem quaisquer reflexão, informação ou senso crítico, apenas para jogar o jogo do Sr. Kamel e deturpar o cenário político-educacional do País. A ANPED está fazendo a sua 30 Conferência Nacional entre os dias 7 e 11 de outubro em Caxambú (MG), porque os holofotes da grande imprensa não se voltam para lá e descobrem o que estão pesquisando os brasileiros na área de educação? Isso sim seria informação. Cobrir é um dever da grande imprensa e do capital. O resto é fofoca e desinformação.

    Pascale
    20/09/2007 9:41

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