terça-feira, 27 de novembro de 2007

É no Brasil todo: - ‘Presa tem que dar’

O que estou vendo de surpresas, de ohs e ahs com o caso da menina no Pará... Por que o espanto? É uma barbaridade? Sem dúvida. Mas essa barbaridade é defendida diariamente nos editoriais, nos pitblogs, na imprensa indecente, nas seções de Cartas dos Leitores dos principais jornais e revistas do país.

É claro que ninguém diz com todas as letras que quer ver presas menores de idade trancadas com marmanjões em cadeias imundas no interior do Pará. O que se diz é “Não me falem em direitos humanos de presos, isso é papo de intelectual. Bandido tem que pagar”.

Não dizem como, mas imaginam. Ou melhor, nem imaginam, porque nem querem pensar nisso. Afinal, cadeia no Brasil, ainda em sua maior parte, é feita apenas para os PPP, pretos, putas e pobres. Então, pra que pensar numa melhoria de condições de vida nas prisões e presídios, se nós não iremos pra lá?

Tenho uma má notícia para quem pensa assim. É bom começar a se preocupar. Cada vez mais jovens de classe média, e até de “alta classe”, estão sendo presos. Só aí os pais desses jovens começam a ter contato com a realidade que nunca quiseram ver.

As revistas são feitas por homens, não importa o sexo do preso. Você, leitor amigo, já imaginou sua filha sendo revistada pelo policial ou carcereiro?

Mas não é apenas isso, caro leitor. Seus problemas não acabaram. Já imaginou “sua patroa” ou sua mãe sendo revistada por um deles também? Pois imagine, porque se uma delas quiser visitar o pimpolho ou a pimpolha na delegacia ou no presídio terá que passar por essa mesma revista.

É como diz o delegado titular da Divisão de Capturas da Polícia Civil do Rio (Polinter), Herald Paquete (sic) Espínola Filho:

- A lei não diz que a revista tem que ser feita apenas por mulheres. Não vou perder meu tempo comentando isso.

Na mesma reportagem de O Globo em que há a declaração do delegado sem tempo, Vera Lúcia Tostes, que é coordenadora da Pastoral Carcerária do estado do Rio e presidente do Conselho da Comunidade relata outros casos de maus-tratos, como a falta de absorventes, o que leva presas a usar até miolo de pão. Para obterem material higiênico ou ter proteção, presas têm relações sexuais com funcionários e funcionárias ou com outras presas.

É comum que jovens detidos para cumprir medidas sócio-educativas (na maioria das vezes, apenas presos mesmo) implorem para que suas mães não os visitem para que não sejam submetidas à revista degradante (preciso descrever?). Se alguém defende um tratamento mais digno para esses jovens e suas mães, pronto, lá vêm as matérias editorializadas, as Cartas dos Leitores descendo o pau “nesse pessoal que defende os direitos humanos dos presos”.

Depois se espantam com notícias como as do Pará. E com a tranqüilidade com que delegados tratam do assunto. No Pará, disseram apenas que não havia cadeia separada...

Se querem continuar como os três macaquinhos, com as mãos, os olhos e os ouvidos fechados, que o façam. Mas nos poupem do espanto hipócrita.

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2 comentários:

  1. Anônimo27.11.07

    Eu sempre digo: quem critica os direitos humanos o faz até que algo acontece com um conhecido, amigo ou parente. Aí a indignação muda de lado.

    Parabéns pelo post.

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  2. Anônimo27.11.07

    Caro Mello
    E sobre o instituto da prisão especial para detentores de diploma de curso superior? Porque o criminoso com curso superior merece ficar preso em melhores condições que aquele que não teve condições de estudar? O crime quando cometido por aqueles que tiveram acesso a uma melhor educação é mais grave que o do infeliz que não teve oportunidades na vida. A prisão especial deveria ser para delitos menores sem violencia, e não para pessoas especiais.

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