Hoje é aniversário do meu querido Rio. Eu deveria fazer uma postagem exclusivamente mostrando todas as belezas da cidade e meu amor por ela. Mas a primeira página do Globo de hoje me obrigou a esquecer a comemoração.
O jornal colocou lado a lado uma foto retratando a beleza do Rio, como teria sido visto por D. João VI, e uma outra, com a imagem daquilo que O Globo acredita que simboliza o Rio atual: um carro todo metralhado.
Esse é O Globo. Essa é a visão mesquinha desse jornal, que nasceu no Rio, tem sua sede no Rio e a maioria de seus leitores também.
Não estou querendo dizer que não há violência na cidade. Mas isso é uma parte do Rio, que absolutamente não o simboliza – a não ser para O Globo.
Isso me lembrou uma reportagem que assisti na Rede Globo, há dois anos. Falava sobre o que seria o Centenário do Palácio Monroe naquele ano. Seria, pois o Palácio fora demolido em 1976.
A reportagem completa, com as imagens do Monroe, pode ser conferida no site do RJTV. Nela, o repórter Márcio Gomes historia e lamenta a derrubada do Palácio:
O palácio não era grande. Uma construção compacta, quase circular, rodeado de colunas. Uma mistura de estilos: grandes janelas e esculturas. Teve várias usos: Câmara dos Deputados e Senado, antes da mudança para Brasília.
Na década de 70, durante o regime militar, começou a se questionar a utilidade do prédio. A cidade se dividiu, um grupo defendia a demolição: o chamava de “bolo de noiva”, até de “monstrengo”. Mas havia aqueles que percebiam a necessidade de preservar a construção.
Em 1976, o então presidente Ernesto Geisel decidiu: o palácio iria ser demolido... (...), Quando o Monroe foi demolido, não foi apenas o palácio que sumiu. Ele formava um conjunto perfeito, harmonioso, com outras construções do centro da cidade: o Teatro Municipal, a Biblioteca Pública. Um ambiente único - e o Monroe fazia parte disso.
“Ele fechava um espaço que era uma sala de visitas que é a Cinelândia. Você compunha com o Teatro Municipal de um lado e do outro lado ele, sem ter um grande vazio como é hoje”, comenta o arquiteto Roberto Magalhães.
Pedaços do Monroe acabaram se espalhando pelo Brasil. No Rio, no memorial a Getúlio Vargas, na Glória, estão peças de mármore que ficavam numa varanda, e hoje são apoios para mesa. Uma pequena lembrança... mas graças à computação gráfica, o palácio pode ressurgir, mesmo que por alguns instantes, só para matar a saudade de um Rio que não existe mais. [aqui eles ressuscitam o Monroe na computação]
Bela homenagem. Só faltou dizer uma coisa: um dos maiores responsáveis (para muitos, o maior) pela demolição do Monroe foi o jornal O Globo, que fez intensa campanha para isso, como mostra a imagem abaixo, que reproduz a comemoração do jornal. Esse mesmo jornal que acha que o Rio de hoje é um carro metralhado.