DELAÇÃO PREMIADA FLAGRA AGRIPINO MAIA. SENADOR TERIA RECEBIDO MAIS DE R$ 1 MILHÃO EM PROPINA




O Brasil é um país de modismos. E a moda da vez agora é a delação premiada. Funciona assim: o sujeito comete uma série de crimes e vai aproveitando a vida, numa boa, até que algo dá errado.

Durante um tempo, o sujeito ainda pensa ter o controle da situação - como acontece com Eduardo Cunha, (ainda) presidente da Câmara. E vai enrolando.

Até que não tem mais jeito, ele vê que vai entrar em cana (a menos que seja tucano, porque nosso Ibama judicial proíbe a prisão, ou mesmo um simples processo, de tucano) e segue a moda. Chama o "adevogado" e diz: - Dotô, quero fazer uma delação premiada.

Foi assim com George Olímpio, que montou um instituto para prestar serviços de cartório ao Detran do Rio Grande do Norte, entre 2008 e 2011.

Para manter o esquema, que o fazia ganhar uma parte de cada transação de compra e venda de carros no estado, Olímpio pagava propina a políticos. Entre eles, segundo a delação, o líder do DEM, senador José Agripino.

Numa reportagem do Fantástico de 2014, em parte reproduzida a seguir, o delator afirma que teve uma conversa com Agripino, no apartamento de senador, em que ele o teria chantageado para receber mais de R$ 1 milhão.

O encontro entre o empresário e o senador teria sido no apartamento de Agripino. “Subimos para parte de cima da cobertura de José Agripino e começamos a conversar e ele disse que, ele José Agripino disse: 'É George, a informação que nós temos é que você deu R$ 5 milhões para campanha de Iberê'", afirma o delator.


Iberê era o governador na época. “Eu dei R$ 1 milhão para campanha de Iberê. Ele disse: pois é, e tal, como é que você pode participar da nossa campanha? Eu falei R$ 200 mil. Disse: tenho condições de lhe conseguir esse dinheiro já. Estou lhe dando esses R$ 200 mil, na semana que vem lhe dou R$ 100 mil. Ele disse: 'pronto, aí vai faltar R$ 700 mil para dar a mesma coisa que você deu para a campanha de Iberê'. Para mim, aquilo foi um aviso bastante claro de que ou você participa ou você perde a inspeção. Uma forma muito sutil, mas uma forma de chantagem. R$ 1,150 milhão foram dados em troca de manter a inspeção”, diz o delator.

A reportagem entrou em contato com Agripino e o senador reconheceu que conhecia Olímpio, que o recebeu em seu apartamento, mas afirma que não lhe pediu nada. Mostrou documento registrado em cartório em que Olímpio se desmentia sobre a acusação.

Só que o documento é de 2012. Em 2014, dois anos depois, portanto, o delator resolveu entregar o esquema de vez e voltou a incriminar o senador Agripino Maia.

Na delação premiada, se o delator faz declaração falsa tem sua pena aumentada. Olímpio resolveu bancar e o caso do senador, graças à imunidade parlamentar, foi para Brasília.

Em março deste ano, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de inquérito para investigar o senador José Agripino Maia pelo crime de corrupção passiva. O inquérito foi instaurado e tramita em segredo de Justiça.




Clique aqui e receba gratuitamente o Blog do Mello em seu e-mail
imagem RSSimagem e-mail

Meu perfil no Facebook: Antonio Mello


Madame Flaubert, de Antonio Mello