Para garantir espetáculo da operação que levou à morte do reitor, PF falou em R$ 80 milhões, mas suspeitas não passam de R$ 500 mil


Utilizando-se do padrão Lava Jato que a delegada Ericka Mialik Marena trouxe de Curitiba, a Operação Ouvidos Moucos, que acabou levando à morte por suicídio o reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, distribuiu releases à imprensa dizendo que a operação investigava repasses de R$ 80 milhões. O que não disseram é que apenas R$ 500 mil dos R$ 80 milhões estavam sob suspeita.

Os R$ 80 milhões eram para garantir o incrível e espetacular aparato, devidamente coberto pela mídia. Como iriam justificar a utilização de 105 policiais federais, 16 mandados de busca e apreensão, 7 mandados de prisão temporária e 5 mandados de condução coercitiva, além do afastamento de 7 pessoas das funções públicas que exercem, apenas por R$ 500 mil?

Só faltou o PowerPoint.

No mesmo dia, a Universidade Federal de Santa Catarina emitiu nota esclarecendo tudo, baseando-se na própria decisão judicial:


As informações de que a investigação apura eventual desvio de R$ 80 milhões são equivocadas. Segundo a própria decisão judicial, o valor sob suspeita de eventual irregularidade é de R$ 515.392,00 (quinhentos e quinze mil, trezentos e noventa e dois reais) relativos aos anos de 2011 e 2015, portanto anteriores à gestão do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, iniciada em maio de 2016.


Veja a nota completa  da UFSC:

Nota oficial da Administração Central da UFSC
A Administração Central da UFSC por meio da presente manifestação, reitera a posição expressa em nota pública divulgada na manhã desta quinta feira, 14 de setembro, quanto à operação da Polícia Federal que culminou na prisão do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo e outros quatro docentes da Instituição. Esclarecemos ainda que:
1. O objeto principal do inquérito policial são denúncias de possíveis irregularidades na gestão de projeto de educação a distância vinculado ao Programa UAB (Universidade Aberta do Brasil) financiado pela CAPES e executado na UFSC desde 2006;
2. As informações de que a investigação apura eventual desvio de R$ 80 milhões são equivocadas. Segundo a própria decisão judicial, o valor sob suspeita de eventual irregularidade é de R$ 515.392,00 (quinhentos e quinze mil, trezentos e noventa e dois reais) relativos aos anos de 2011 e 2015, portanto anteriores à gestão do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, iniciada em maio de 2016.
3. Do total de R$ 515.392,00, R$ 319.622,00 são referentes a pagamento de bolsas, objeto da investigação;
4. A própria CAPES, em sua página oficial, esclarece que a Polícia Federal investiga supostas irregularidades no programa Universidade Aberta do Brasil (UAB) junto à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que é executado desde 2006. A atual gestão tomou conhecimento, pelo corregedor da UFSC, das denúncias na referida instituição em maio de 2017. A CAPES solicitou acesso à apuração, mas não obteve resposta da corregedoria daquela universidade.
5. A Corregedoria Geral da UFSC, criada em abril de 2016, é órgão integrante da Reitoria, subordinando-se diretamente ao reitor em todas as matérias administrativas, na condição de secretaria especial. Todas as medidas adotadas pelo Reitor quanto a processos conduzidos no âmbito da Corregedoria limitaram-se às prerrogativas próprias da função de autoridade máxima da Instituição;
6. O reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo prestou todos os esclarecimentos requeridos em depoimento ao longo do dia à Polícia Federal, apresentando-se inteiramente à disposição das autoridades, bem como também foram realizadas todas as diligências necessárias nesta Instituição, razão pela qual aguardamos o retorno do reitor ao convívio acadêmico com a máxima brevidade;
7. Por fim, expressamos nosso respeito às instituições de estado, tenham elas status de apuração, investigação e correição, na defesa intransigente da autonomia universitária e da rigorosa apuração de irregularidades no estrito limite da observância dos princípios republicanos e democráticos.
Florianópolis, 14 de setembro de 2017

Pode-se pensar que, se não fosse tal aparato espetacular, o reitor talvez ainda estivesse vivo.


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