Juca Kfouri, Eliane Brum e Eleonora de Lucena defendem jornalismo, democracia e voto em Haddad

Juca Kfouri

Somente hoje, numa rápida apanhada e se a memória não me falha, três jornalistas declararam voto em Haddad, ao mesmo tempo em que defenderam o jornalismo e a democracia sob ataque e perigo com a ameaça Bolsonaro: Juca Kfouri, Eliane Brum e Eleonora de Lucena.

Kfouri começa pelo título, dizendo que "Segunda rodada eleitoral é a mais importante já vivida pelo Brasil". E não deixa dúvidas sobre sua escolha, quando faz até apelo por voto em Haddad, pela manutenção da democracia:
Por mais que pareça inútil, por mais que grande parte do país esteja com paredes nos ouvidos e tarja nos olhos, por mais que “Ele não” anuncie o que fará e haja quem acredite, até na mídia, poder controlá-lo, como os alemães imaginaram em relação a Adolf Hitler, fica aqui um apelo: não vote em Haddad, vote pela manutenção da democracia.
Faça oposição ao 13 já no dia 1º de janeiro, diga como o valente advogado, e sempre defensor dos Direitos Humanos, José Carlos Dias, que “só Bolsonaro é capaz de me fazer votar no PT”, mas impeça que o Brasil mergulhe na mais profunda das escuridões.

Na mesma Folha, Eleonora de Lucena, em página de Opinião, também defende voto em Haddad. Ela foi editora-executiva da Folha (2000-2010) e é copresidente do serviço jornalístico TUTAMÉIA (tutameia.jor.br).

Eleonora faz uma defesa da democracia e cobra dos que estão agindo de maneira pusilânime diante da maior ameaça à democracia brasileira. Seu artigo, que pode ser lido na íntegra no Tutaméia, também começa provocativo já no título, lembrando a Globo e seu papel vil durante a ditadura, sem citá-la: "Não adianta pedir desculpas [na Folha] ['perdão', no Tutaméia] daqui a 50 anos".
O momento dramático não permite omissão, neutralidade. O muro é do candidato da ditadura, da opressão, da violência, da destruição, do nojo.
É urgente que todos os democratas estejam na trincheira contra Jair Bolsonaro. Todos. No passado, o país conseguiu fazer o comício das Diretas. Precisamos de um novo comício das Diretas.
O antipetismo não pode servir de biombo para mergulhar o país nas trevas.

 (...) A defesa da democracia, dos direitos humanos, da liberdade está no cerne do jornalismo.
Não adianta pedir desculpas 50 anos depois.
No El País, a jornalista Eliane Brum, que está longe de poder ser considerada uma petista, pelo contrário, também defende de forma clara o voto em Haddad agora. Seu artigo [íntegra aqui] é endereçado já no título "Aos indecisos, aos que se anulam, aos que preferem não".

Quem acompanha esta coluna de opinião sabe também que eu costumo defender que votar em branco, anular o voto ou se abster é posição. Acredito que o “voto útil” ou o “voto crítico” também nos trouxe até este momento dramático. Sigo acreditando que anular o voto, votar em branco ou não votar é posição política legítima quando se trata de dois projetos dentro da democracia.
Mas tenho convicção de que, neste momento, quando o que está em jogo é a própria democracia, porque o projeto de Jair Bolsonaro nega os fundamentos democráticos, votar em branco, anular o voto ou não votar está fora do campo das possibilidades. Votar em branco, anular o voto ou deixar de votar não é posição neste momento, mas omissão. E omissão é um tipo de ação. Neste momento, o pior tipo de ação possível.
Não tenho mais o que dizer a alguém que vota num homem que faz apologia à tortura e aos torturadores, que incita o ódio e que quer acabar com uma parte da população brasileira. Minhas palavras nunca chegarão àqueles que acham possível ter um presidente como Jair Bolsonaro. Mas talvez minhas palavras possam chegar àqueles que odeiam o PT. E possam compreender, como eu mesma precisei compreender, que este não é um voto no PT. E que este voto, mesmo não sendo no candidato e no partido que desejaríamos, seja talvez o voto mais importante desde que recuperamos o direito de votar. É um voto pelos princípios da humanidade, é um voto pela vida dos mais frágeis, é um voto por seguir existindo neste país.

Como os três, muitos jornalistas e Associações de Jornalistas estão há tempos defendendo a democracia, alguns colocando em risco seus empregos. No entanto, políticos de expressão, grandes lideranças de quem se esperava um pronunciamento mais decisivo, estão silentes em cima do muro, à espera do caminhão de lixo da História.

O mesmo acontece com os grandes veículos de comunicação, a mídia corporativa, que, mesmo sob ataque, como a Folha, apoiam Bolsonaro com mais, ou menos, ênfase, ou não dão uma declaração peremptória em favor de Haddad para barrar a ameaça democrática que é Bolsonaro, à espera das migalhas publicitárias que possam vir de sua possível futura presidência.

A frase de Eleonora é definitiva sobre eles: "Não adianta pedir perdão daqui a 50 anos".



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