Ao contribuir para o morticínio na pandemia, o Exército escreveu algumas das piores páginas de sua história


Do jornalista Bernardo Mello Franco, no Globo.
Todos os crimes do presidente

A CPI da Covid deve pedir o indiciamento de Jair Bolsonaro pela prática de 11 crimes. O presidente é o protagonista do relatório que será apresentado na terça-feira. Ele será apontado como responsável pelo agravamento da pandemia que já matou mais de 600 mil brasileiros.

Bolsonaro não inventou o coronavírus, mas se aliou a ele contra a população que deveria proteger. Ajudou a espalhar a doença, sabotou as medidas sanitárias, pregou o uso de remédios ineficazes e atrasou intencionalmente a compra de vacinas.

Enquanto o capitão negava a ciência, picaretas tentavam faturar com a tragédia. Eles atuaram no Ministério da Saúde, transformado num antro de negociatas, e no setor privado, onde operadoras de saúde fraudaram até atestados de óbito.

A barbárie teve o apoio de uma rede de desinformação. O bolsonarismo usou sua máquina do ódio para torpedear o distanciamento social, o uso de máscaras e a confiança nas vacinas. O objetivo era claro: desviar a responsabilidade pelas mortes e desgastar gestores que acreditaram na ciência.

O desgoverno não é produto só de negacionismo e irresponsabilidade. O presidente acelerou a circulação do vírus para tentar alcançar a imunidade de rebanho por contágio. Ele imaginou que isso apressaria a recuperação econômica e favoreceria sua reeleição em 2022. A estratégia provocou milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas.

Os crimes de Bolsonaro são muitos e serão detalhados no relatório da CPI. A lista irá da prevaricação no escândalo da Covaxin ao homicídio por omissão deliberada, passando por infrações sanitárias, uso irregular de verba pública e charlatanismo.

O relatório também apontará uma teia de cúmplices. Alguns deles ainda estão pendurados no primeiro escalão do governo, como os ministros Marcelo Queiroga e Braga Netto.

Embora a CPI tenha evitado confrontar as Forças Armadas, as investigações expuseram o resultado da militarização do Ministério da Saúde. Sob o comando de um general de divisão, a pasta maquiou dados oficiais, deixou testes apodrecerem e ofereceu cloroquina a doentes que precisavam de oxigênio.

Ao contribuir para o morticínio, o Exército escreveu algumas das piores páginas de sua história, ao lado do massacre de Canudos e dos horrores da ditadura militar.

Antes de chegar ao poder, Bolsonaro sonhava com uma guerra civil que matasse 30 mil brasileiros. A pandemia já multiplicou essa cifra por 20. Pesquisadores afirmaram à CPI que o governo poderia ter salvado cerca de 400 mil vidas. Bastava adotar políticas que o capitão insistiu em ignorar.

O presidente respondeu à tragédia com indiferença e deboche. Disse que não era coveiro, ironizou o sofrimento dos doentes e chamou de idiota quem clamava pela compra de vacinas. Em um ano e sete meses, foi incapaz de visitar um hospital para se solidarizar com as vítimas da pandemia. A perversidade não estará entre os crimes listados pela CPI, mas será lembrada por quem revisitar, no futuro, este momento sombrio do país.






Para receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp clique aqui

Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos



Recentes:


Assine a newsletter do Blog do Mello.
É grátis.