Justiça britânica se nega a investigar evidências de que a CIA grampeou advogados de Assange, o que pode levar à sua liberdade

O juiz do Tribunal Superior Nacional da Espanha Santiago Pedraz afirma que a empresa de segurança espanhola UC Global grampeou ilegalmente conversas entre Julian Assange e seus advogados, quando o líder do WikiLeaks se encontrava refugiado na embaixada do Equador em Londres. O juiz Pedraz suspeita que essas gravações ilegais podem ter sido entregues a agentes dos serviços secretos dos Estados Unidos. A violação do sigilo entre cliente e advogado é fato gravíssimo o suficiente para anular todo o processo.

O repórter de El País José María Irujo teve acesso a um documento enviado pelo juiz Pedraz à justiça britânica em que o juiz solicita que possa tomar depoimentos dos advogados britânicos e dos médicos de Assange que foram espionados. Entre eles Gareth Peirce, 82, o famoso advogado britânico do filme Em nome do pai interpretado por Emma Thompson.

O juiz enviou essa ordem de investigação europeia (OEI) à justiça britânica há mais de dois anos. O OEI é uma ferramenta de cooperação judiciária para agilizar a cooperação entre juízes. No entanto, a justiça britânica, contrariando a tradição, até o momento não respondeu à solicitação, e segue ignorando uma circunstância que pode garantir a anulação do processo de extradição e a liberdade para Assange.

Os advogados britânicos, espionados na sede da Embaixada do Equador em Londres por ordem de David Morales (ex-militar espanhol proprietário da UC Global, a quem Pedraz pede para questionar), são os mesmos que agora defendem Assange no pedido de extradição para os EUA. 

Ao expor as supostas atividades ilícitas de David Morales ao Reino Unido, o juiz do Supremo Tribunal Nacional aponta diretamente as agências de inteligência dos EUA ou as autoridades daquele país como receptoras das conversas dos espiões, entre as quais advogados, médicos, jornalistas, diplomatas, parentes e amigos do ativista.

A demonstração de que os serviços de inteligência dos EUA souberam da estratégia de defesa do ciberativista australiano espionando seus advogados poderia anular a extradição ao questionar os métodos ilegais usados ​​pelos EUA para julgar Assange em seu país.

A investigação judicial sobre o diretor da UC Global e as atividades de sua empresa foi ordenada pelo juiz José de la Mata, a quem Pedraz substituiu, e começou semanas depois que o El País revelou  vídeos, áudios e relatórios mostrando que esta empresa espionava as reuniões de Assange com seus advogados e colaboradores. Morales supostamente enviou essas e outras conversas para os serviços de inteligência dos EUA.

Após a investigação deste jornal, Assange apresentou queixa contra Morales, que foi preso e acusado de crimes contra a privacidade, violação do sigilo das comunicações entre advogado e cliente, suborno e lavagem de dinheiro. Várias testemunhas protegidas depuseram contra Morales e afirmam que os EUA tiveram acesso a todo o material apreendido durante a espionagem de Assange e seus advogados. [El País]

Estranho que o Reino Unido siga acoelhado diante dos Estados Unidos, mantendo Assange preso sem cometimento de crime algum naquele país, apenas aguardando a decisão de um insólito pedido de extradição para que Assange seja julgado nos EUA por ter divulgado crimes de guerra cometidos por aquele país.

Por que a justiça britânica não atende à Ordem de Investigação Europeia emitida pelo juiz espanhol? Por que não acolher os documentos da Espanha que provam o grampo na embaixada do Equador violando ilegalmente o sigilo entre Assange e seus advogados e familiares?

Além do absurdo de se julgar alguém por divulgar crimes efetivamente cometidos, há agora a prova de que o julgamento é ilegal, com um lado sabendo secretamente as estratégias do outro.

Tudo deve ser anulado e Assange posto em liberdade, como deveria ter sempre estado, embora esteja há mais de 10 anos privado de sua liberdade, aquela palavra que o sonho humano alimenta, que "não há ninguém que explique e ninguém que não entenda", nos versos de Cecília Meireles no Romanceiro da Inconfidência.

#FreeAssange

 

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