Militares são inimigos de meio Brasil?

Em sua coluna semanal na Folha, o sociólogo Celso Rocha de Barros lança essa pergunta de maneira retórica (todos sabemos a resposta), um ironia socrática.

Os últimos movimentos dos, como chamo aqui, generais de Bolsonaro responderiam evidentemente que sim à pergunta de Barros. 

Mas essa pergunta não abrange a real atitude dos militares, que não estão preocupados com a metade, pouco mais da metade ou mesmo com a totalidade da população —sua preocupação é apenas manter os milhares de cargos no governo, as benesses absurdas (de próteses penianas a toneladas de leite Moça suspeitas de suoerfaturamento) para as Forças Armadas, os acúmulos de soldo e salário, que estão levando os rendimentos de vários deles a mais de R$100 mil mensais. Manterem-se no poder, onde chegaram sem votos pelas mãos do "mau soldado" (no dizer de Geisel) expelido do Exército.

A coluna de Celso Rocha de Barros:

Há gente nas Forças Armadas tentando roubar a eleição para Jair Bolsonaro

Sou um cidadão brasileiro que vota na esquerda. Tenho uma pergunta para as Forças Armadas brasileiras: vocês são um exército que eu compartilho com meus compatriotas de direita, ou são o braço armado dos meus adversários nas eleições?

As Forças Armadas ainda são brasileiras, ou aceitaram o papel de braço armado da extrema-direita que Jair Bolsonaro lhes ofereceu? São o exército de uma república democrática ou uma milícia de direita sustentada com dinheiro público?

Pergunto pelo seguinte: está cada vez mais claro que há gente nas Forças Armadas do Brasil tentando roubar a eleição para Jair Bolsonaro.

É fácil identificá-los. Se um militar está dando palpite sobre urna eletrônica ou TSE é porque é um político bolsonarista infiltrado nos quartéis. Como todo político bolsonarista, quer dar um golpe de estado para roubar dinheiro público e matar trabalhadores, na bala, na fome ou por falta de vacina.

O ano de 2022, aliás, é especial para a ala golpista das Forças Armadas. Esse ano o escândalo Proconsult comemora seu 40º aniversário.

Ninguém nunca viu fraude na urna eletrônica, mas todo mundo já viu militares brasileiros tentando roubar uma eleição: foi em 1982, no Rio de Janeiro, quando a ditadura tentou fraudar a eleição para governador que Leonel Brizola havia ganho. Para fazê-lo, usaram uma empresa corrupta para contabilizar os votos, a Proconsult. Para comemorar os 40 anos do escândalo Proconsult, os bolsonaristas agora pedem "apuração paralela".

Como em 1982, é tudo bandidagem, é tudo roubalheira.

No dia de hoje, bem mais que a metade do povo brasileiro pretende votar contra Jair Bolsonaro. Cerca de metade dos brasileiros pretende votar em Lula. Pouco mais de 10% pretende votar em Ciro, Tebet, ou nos outros candidatos.

Os militares pretendem roubar a voz e os votos, o dinheiro e os direitos de mais do que metade dos brasileiros? Pretendem fazer isso e continuar sendo sustentados pelo imposto de 100% dos brasileiros?

No caso dos militares que criticam urna eletrônica e TSE, a resposta é obviamente sim. Eles querem roubar mais da metade do Brasil.

Em uma república funcional, o cidadão não pode ter um segundo de dúvida de que as Forças Armadas são politicamente neutras.

Se o Brasil entrar em guerra, eu tenho que me apresentar para lutar. Se na trincheira meu oficial me der a ordem de me jogar sobre uma granada para salvar meus camaradas de armas, eu tenho que pular para a morte. Se entre a ordem e o salto eu gastar um segundo pensando "por que ele não mandou um direitista saltar?", a bomba explode e a trincheira toda morre.

Se membros graduados das Forças Armadas continuarem seus ataques ao TSE, essa relação de confiança entre mais da metade do Brasil e os compatriotas a quem confiamos a guarda das armas da República demorará décadas para ser restaurada, mesmo se o golpe de Bolsonaro der errado.

Se os ataques ao TSE continuarem, a farda brasileira será reduzida a uniforme de um partido político especialmente vagabundo, o bolsonarismo. Para Bolsonaro, a farda é só o uniforme de um tipo de funcionário público que mela eleição quando a direita perde. Retomando a pergunta do começo do texto: eu gostaria de saber se ele tem razão.


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