Minha primeira professora foi minha primeira paixão

Acredito que seja coisa trivial apaixonar-se pela primeira professora. Porque dificilmente o primeiro professor é um homem. A minha se chamava, ainda me lembro o nome, Margarida Wanderley. Foi minha primeira paixão.

Mas não começou assim. Eu era tremendamente tímido. Ainda sou assim um pouco. E assistia às aulas quieto e espantado com aquele monte de crianças da minha idade, todas ouvindo a professora, tão jovem, morena, de fala tranquila.

Eu estava habituado apenas a brincar na pracinha do Jockey (eu morava na Gávea, quando criança), rodeado de meninas e com alguns amigos meninos, que, não sei o porquê, não costumavam brincar ali a não ser o Dênis, que morava no mesmo prédio que eu.

Mas a minha paixão pela professora nasceu mesmo durante uma excursão que a escola promoveu ao Clube Piraquê, na Lagoa. Fomos num ônibus fretado, da Marquês de São Vicente ao Piraquê, numa viagem que me pareceu com o tempo de um longa-metragem, embora, em realidade, não dure mais do que vinte minutos.

A professora (ninguém a chamava pelo nome, só eu mastigava Mar-ga-ri-da Wan-der-ley) contava histórias, mas, principalmente, nos pôs a cantar o alecrim dourado, que nasceu no campo sem ser semeado. Foi meu amor,amor, amor, quem me disse assim...

Chegamos ao clube, mergulhamos pelo escorrega gigante (para nós) da piscina, até que aconteceu um incidente que decretou minha paixão fulminante pela professora.

Quando já estávamos nos aprontando para irmos embora, um aluno caiu na piscina dos adultos. Foi uma confusão. Ele não sabia nadar. E a professora (Mar-ga-ri-da Wan-der-ley) saltou na piscina e o salvou. E eu me apaixonei.

Invejei não ser o menino que ela pegou nos braços e depois cobriu com uma toalha, enquanto fazia carinhos nele para que se acalmasse do susto.

Até hoje sinto falta desse abraço que não tive. Ficou a paixão pela professora e por seu gesto, ao mesmo tempo tão real e tão simbólico. 

Quando pensamos em quantas professoras e professores são apaixonados por sua profissão, ao ponto de arriscarem suas vidas (na minha visão de menino foi o que a professora fez ao saltar na "piscina funda", "de adultos") por seus alunos e vemos quão pouco são prestigiados...

No Dia dos Professores, sempre me lembro dela (Mar-ga-ri-da Wan-der-ley), salto na piscina imaginária e a abraço com força o abraço que, tímido e apaixonado, nunca tive coragem de dar.

Feliz Dia da Margarida Wanderley a todos os professores e professoras.


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