Militares se curvaram a Bolsonaro por ideologia e oportunismo

A presença de militares no governo anterior foi superior até à época da ditadura. Dezenas de milhares de cargos, sem contar as mordomias e os jabutis que permitiram a vários oficiais salários mensais de centenas de milhares de reais, enquanto brasileiros morriam aos milhares de COVID  e outros disputavam osso na fila das sobras de açougue.

Bolsonaro os colocou no governo para não ser impichado ou eles colocaram Bolsonaro no governo para voltarem ao poder sem usar a força das armas?

Pode-se discutir o chamado "efeito Tostines", quem veio primeiro ou quem cavalgou quem (em minha opinião, Bolsonaro os cavalgou), mas o jornalista Alvaro Costa e Silva, o Marechal, foi cirúrgico no fecho de sua coluna de hoje na Folha, quando escreve que militares "se curvaram a ele [Bolsonaro] por ideologia e oportunismo".

A coluna:

Os cúmplices de Bolsonaro

O almirante Bento Albuquerque não está com a memória boa. Esquece o que falou, confunde as coisas, mistura alhos, bugalhos e muambas. Em depoimento à PF, ele deu mais uma versão sobre as joias recebidas na viagem à Arábia Saudita em 2021.

Diz agora que o pacote feminino (par de brincos, colar, anel e relógio confeccionados com pedras preciosas que brilham de cegar e com valor avaliado em R$ 16,5 milhões), retido na Receita Federal e alvo de uma força-tarefa governamental para que fosse liberado, era um presente da ditadura saudita ao Estado brasileiro —assim como o conjunto masculino (abotoaduras, caneta, relógio, anel e um tipo de rosário, todos da marca suíça de diamantes Chopard, avaliados em R$ 400 mil), que entrou ilegalmente no país e foi entregue a Bolsonaro.

O ex-ministro de Minas e Energia afirma no depoimento que "apenas supôs" serem os presentes para o ex-presidente e a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Uma suposição bastante convicta, como mostra um vídeo gravado em Guarulhos pelo circuito interno de segurança da Receita. Nele Bento Albuquerque diz claramente, como quem dá uma carteirada, que as joias iriam para Michelle. Outro convicto era Bolsonaro, que logo incorporou o mimo árabe a seu acervo pessoal – mas terá de devolvê-lo por determinação do TCU.

O general Augusto Heleno também precisa tomar fosfosol. Diz que nunca teve conhecimento do acesso ilegal na Receita de dados sigilosos de desafetos de Bolsonaro nem se lembra de ter recebido em encontros clandestinos os operadores da devassa. Tampouco devia saber que a Abin, sob sua responsabilidade, usou um programa secreto para monitorar cidadãos.

A cada novo escândalo fica mais evidente que Bolsonaro, ao promover seus crimes e ataques à democracia, não agiu sozinho. Sempre agiu ao lado dos militares que se curvaram a ele por ideologia e oportunismo —aquela em menor grau do que este.

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