Vazamento de palestra do comandante do Exército objetiva barrar reformas nas Forças Armadas

A Folha publicou uma reportagem a partir do vazamento de uma palestra do atual comandante do Exército general Tomás Paiva, três dias antes dele assumir o cargo. O vazamento foi inicialmente divulgado pelo podcast Roteirices.

Segundo a matéria, a palestra do general Tomás Paiva, preparada com antecedência e apoiada em slides, dava um apanhado geral da situação política do país, do ponto de vista do Exército.

O que chamou a atenção da Folha e de muita gente que teve acesso ao que disse o general foi a parte em que ele afirmou que a eleição de Lula foi "indesejada". Ele comentava a existência de uma suposta irregularidade na eleição, que não houve, quando soltou a palavra.

"Não dá para falar com certeza que houve qualquer tipo de irregularidade [na eleição]. Infelizmente, foi o resultado que, para a maioria de nós, foi indesejado, mas aconteceu", disse.

"A diferença nunca foi tão pequena, mas o cara fala assim: ‘General, teve fraude’. Nós participamos de todo o processo de fiscalização, fizemos relatório, fizemos tudo. Constatou-se fraude? Não. Eu estou falando para vocês, pode acreditar. A gente constatou fraude? Não."

Que as Forças Armadas em sua maioria preferiam a vitória do infame presidente anterior é óbvio: se não houve melhoria para as Forças Armadas como um todo, houve para uma quantidade expressiva: dezenas de milhares de militares que se beneficiaram de boquinhas no governo. Sem contar as mordomias, aumento de soldo etc. As Forças em si vimos pelo ridículo desfile de 7 de setembro, com tanques soltando fumaça, parecendo saídos do túnel do tempo da II Guerra Mundial.

Mas até aí é do jogo. O comandante e a maioria das tropas pode não ter desejado a vitória de Lula, mas o presidente é ele e cabe aos militares guardarem suas opiniões políticas para si, porque eles não são armados pela sociedade para darem pitacos políticos.

Lula já avisou. Quem que participar da vida política deve abandonar a farda e disputar eleições.

Mas, por que houve o vazamento, se a palestra foi ministrada a oficiais do Comando Militar do Sudeste? Quem ali se atreveu a gravar e, mais adiante, a vazar o material, e com que objetivo?

Até que me deparei com estes parágrafos finais na matéria da Folha:

No fim da conversa, de cerca de 50 minutos, Tomás leu notícias sobre os planos do PT de promover uma reforma nas Forças Armadas. O comandante disse que é preciso conter as propostas petistas e preservar o Exército.

"Faz parte da cadeia de comando segurar para que isso não ocorra. Agora fica mais difícil, mas nós vamos segurar, porque o Brasil precisa das Forças Armadas. Da nossa postura, da nossa coesão, da nossa manutenção dos valores, da crença na hierarquia e disciplina, do nosso profissionalismo, depende a força política do comandante e dos comandantes de Força para obstar qualquer tipo de tentativa de querer nos jogar para o enquadramento", concluiu.

Duas das mudanças que estão em estudos e já em fase de propostas são uma mudança no Artigo 142 da Constituição, retirando o trecho que dá margem ao golpismo nas Forças, e outro que restringe a presença de militares em cargos políticos.

Há um terceiro, que é possível mas pouco falado: a formação dos militares. Eles não querem também que os civis se intrometam nisso. Apenas paguem. Acham que a formação que é servida e que nos deu os generais Heleno, Pazuello, Mourão, Braga Neto, sem contar o capitão ex-presidente, está bem como está e não deve ser mexida. 

Riscaram o chão e deram a mensagem a Lula, marcando o ponto que ele não deve cruzar. É o que desejam. Mas, será esse o interesse da sociedade?

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