Dr. Drauzio, sua paixão por Rita Lee e uma lição de vida

Não digo que ele seja uma unanimidade porque existem os bolsomínions, mas o médico Drauzio Varella é uma voz respeitada por A a Z nesse Brasil louco em que vivemos. No dia da morte de Rita Lee, ele estava numa live quando recebeu a notícia, que provocou nele a necessidade de falar sobre sua antiga paixão e pela finitude da vida.

"Eu era apaixonado por ela quando adolescente", disse Drauzio com o ar de tristeza resignada de uma pessoa que está acostumada a lidar com a morte de perto. Fabíola pede para ele contar mais detalhes, e ele diz: "Ela, primeiro, que ela era uma libertária. Ela não era simplesmente uma menina mais avançada do que o tempo dela. As coisas que ela falava e que ela fazia, a ação dela nos Mutantes, a música e no comportamento pessoal dela mesmo, foi tão revolucionário. Ela juntou tantas meninas que na época demorariam mais para entender o que era uma mulher, o que era a vida de uma mulher, qual era a importância da mulher, a definir a própria sexualidade, inclusive. Milhares, milhões de pessoas, e fazia isso com um talento tremendo, com músicas que a gente ouvia e saía pulando, né? Impossível ouvir e ficar quieto, mesmo um desajeitado como eu. Eu adorava, adorava. Eu tive o prazer de conhecê-la muitos anos depois. E aí eu confessei isso. Eu já tinha uns sessenta e tantos anos. Eu confessei esse amor que eu tinha por ela e pela Gal Costa, um amor que nunca foi correspondido. E ela foi muito simpática comigo. É uma pena mesmo..."

"Sabe, vocês são muito mais jovens, mas eu acho que a parte mais dura do envelhecimento não é você ter limitações físicas. Isso você pode até adiar com um pouco de sabedoria. É você sentir que as pessoas vão indo embora, as pessoas que você gosta, que você respeita. Vai um, depois vai outro, e você, se bobear, fica sozinho. Por isso é que não pode ficar sozinho. Você tem sempre que se estabelecer relacionamentos afetivos, etc., por gente mais jovem também, porque os da sua geração vão embora, se você tiver azar você vai até antes deles, se tiver sorte você fica sem eles. A vida é uma mutação permanente. É como você estar no palco de um teatro em que de repente muda o cenário, mudam os personagens, sai um, entra outro, vai embora aquele que você mais respeitava, com quem você gostava de contracenar, não tá mais aí. E isso de uma para outra. É muito triste. Tinha lido nos jornais a doença que a Rita tinha e sabia que a situação não seria fácil para ela. Mas na hora que vai embora mesmo, é muito... bate uma tristeza, né?" [Bruce William, no Whiplash]

Assista ao depoimento.


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