Ataques a Anielle Franco agora, a Benedita em 2003 e a Orlando Silva em 2008 têm uma mesma origem: racismo

A ministra da Igualdade Racial Anielle Franco foi acusada nas manchetes de usar jato da FAB para assistir à final da Copa do Brasil entre São Paulo e Flamengo no Morumbi. 

Quem só lê as manchetes e chamadas da mídia corporativa (a imensa maioria das pessoas, que a única coisa que abrem para ler é cardápio de bar e restaurante, e muitos nem isso) tratou logo de "denunciar o abuso", quando o que houve foi uma viagem oficial para assinar um protocolo de ações antirracistas com a CBF, com a presença inclusive de outros ministros do governo.

Mas o ataque a Anielle tem origem tripla: por ser mulher, negra e irmã de Marielle.

Esse ataque me lembrou um outro, a Benedita da Silva em 2003. Benedita era ministra da Previdência no primeiro governo do presidente Lula, quando viajou à Argentina para encontros oficiais, mas também para um encontro religioso (a deputada é evangélica) e foi duramente atacada por isso.

Como o cargo dela estava na mira de muita gente, e o racismo estrutural na sociedade brasileira é violento, ela acabou não resistindo e saindo do ministério. O que foi uma tremenda injustiça. Benedita da Silva foi uma das principais responsáveis pela vitória de Lula naquela eleição. Trabalhei na comunicação da campanha dela junto com uma equipe do Duda Mendonça e sei que ela colocou a eleição de Lula à frente de sua campanha à reeleição ao governo do Rio. 

Um outro ministro de Lula, Orlando Silva, também sofreu um forte ataque por ter comprado, por engano, uma tapioca de R$8,90 com o cartão corporativo. Foi em 2007, mas o "escândalo da tapioca" estourou em 2008, sem levar em conta que o próprio ministro já havia percebido o engano em 2007 e o corrigido, devolvendo o valor à União.

Veja bem: não foi passear de jet ski no Guarujá, nem fazer motociata pagando gasolina e lanche para centenas de pessoas com o cartão corporativo, como fez o criminoso inelegível. Foi uma tapioca de R$8,90...e que já havia sido quitada antes do "escândalo".

O que têm em comum os três ministros, além de ser ou terem sido ministros de Lula? Todos são negros. Benedita e Anielle ainda com o "agravante" de serem mulheres.

Por isso é bom a gente sempre desconfiar ao ler essas denúncias de um aparente escândalo e ver o que pode estar por trás dela. Muitas vezes está ali incrustada a peçonha do racismo.


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