Globo defende a Lava Jato porque, mais que Moro e Dallagnol, a força da Operação foi o Jornal Nacional

O porta-voz da família Marinho, dona da Globo, Merval Pereira, escreveu coluna criticando as recentes decisões do ministro do STF Dias Toffoli anulando delações da Lava Jato.

O cerne da indignação de Merval é o comportamento incoerente da Justiça brasileira, que até um tempo atrás glorificava a Lava Jato e suas revelações e hoje as condena; apoiava a prisão do presidente Lula em segunda instância e sua impossibilidade de concorrer às eleições de 2018 —em que era amplo favorito, segundo todas as pesquisas, com 20 pontos de vantagem sobre Bolsonaro a dois meses das eleições— e agora critica a prisão, a considera, como disse o ministro Toffoli, "um dos maiores erros judiciários da história do país".

Mas Merval para por aí e não dá o passo adiante que deveria dar, mas não pode: perguntar o que aconteceu para haver essa virada. Porque se fizesse isso, teria que admitir que a principal força da Lava Jato não estava nas provas —porque nunca houve prova contra Lula—, mas na opinião pública, manipulada pelo braço forte da Lava Jato, que nunca foi a dupla caipira Moro e Dallagnol, mas a Rede Globo, especialmente o Jornal Nacional.

Diariamente o povo era bombardeado pelo que seria o maior escândalo de corrupção da História, que o PT e Lula teriam montado um esquema na Odebrecht, na Petrobras, no diabo a quatro, para permanecer no poder e também para se enriquecer, com o triplex do Guarujá, o sítio de Atibaia, os dois patinhos e o barquinho de lata. Triplex e sítio que nunca foram do Lula, conforme já está —e sempre esteve— mais do que sabido.

Gilmar proibiu Lula de ser ministro de Dilma —o que poderia ajudá-la a evitar seu processo de impeachment, como admitiu o golpista Temer— porque lhe fora informada pela Lava Jato uma mentira, através de um áudio vazado ilegalmente, que Lula receberia o cargo para ganhar foro e não ser preso. Áudio este vazado pelo Jornal Nacional.

Portanto, quando a Globo defende a Lava Jato está defendendo a si mesma, porque não existiria a Operação, pelo menos na dimensão que houve, sem o Jornal Nacional e os demais veículos da Globo —sem desprezar o trio Folha-Estadão-O Globo, mais as revistas semanais, Veja à frente, que serviam apenas de pauta para o JN atacar.

A aparente incoerência da Justiça é simplesmente porque agora os ministros estão votando sem a pressão da opinião pública nos ombros, sem a enxurrada de mentiras e meias-verdades manipuladas, que foi exatamente como tudo começou, com uma reportagem de 2010 de Tatiana Farah em O Globo com a informação de que Lula e dona Marisa tinham um triplex no Guarujá, baseada em fofocas de operários do prédio, citada até na sentença condenatória de Lula por Moro como prova.

A campanha começou no Globo e se alimentou e explodiu no Jornal Nacional, da dupla Bonner-Kamel. E de um jornalista, Wladimir Neto, que hoje continua no JN, e que era o assessor informal da Lava Jato, orientava quando e como as ações deveriam ser divulgadas para causarem maior impacto no Jornal Nacional e na opinião pública.

A proporção para o contraditório, a defesa de Lula no JN, foi esta, exposta no vídeo abaixo: cinco anos atacando Lula e apenas 36" para anunciar sua inocência. Sem até hoje um mea-culpa.




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