Minha primeira professora foi minha primeira paixão; depois foi Brigitte Bardot

Acredito que seja coisa comum apaixonar-se pela primeira professora. Porque dificilmente o primeiro professor é um homem. A minha se chamava, ainda me lembro o nome, Margarida Wanderley. Foi minha primeira paixão.

Mas não começou assim. Eu era tremendamente tímido. Ainda sou assim um pouco. E assistia às aulas quieto e espantado com aquele monte de crianças da minha idade, todas ouvindo a professora, tão jovem, morena, de fala tranquila.

Eu estava habituado apenas a brincar na pracinha do Jockey (eu morava na Gávea, quando criança), rodeado de meninas e com alguns amigos meninos, que, não sei o porquê, não costumavam brincar ali a não ser o Dênis, que morava no mesmo prédio que eu.

Depois foi Brigitte Bardot, com quem aprendi coisas que não se ensinam nas escolas. Aliás, namoramos BB e eu durante muito tempo, embora ela nada soubesse porque sempre quis que ela vivesse livremente sua vida sem o compromisso comigo...

Mesmo no período em que ela esteve no Brasil, mantive tudo às escondidas. Imagine o escândalo que seria se o mundo soubesse que a deusa de "E Deus criou a mulher" estava namorando um menino de calças curtas.

Mas tenho umas fotos dela dessa época, como esta, na praia de Manguinhos em Búzios, feita pelo fotógrafo Denis Albanèse. 


Aliás, BB era tão preocupada com a privacidade que fez um acordo com a imprensa brasileira. Os fotógrafos a deixariam em paz e Denis depois entregaria material a eles. E assim foi feito. Ele distribuiu as fotos livres de direito autoral.

Para esconder nosso namoro, tão secreto que nem ela sabia, Brigitte veio ao Brasil com o namorado Bob Zagury, um sujeito tão feio que logo após — e como eu não me resolvia, já que me apaixonei por um menina de minha idade que era a minha Bardot e se chamava Lúcia (outro dia conto) — BB abandonou o mundo dos homens e virou defensora de bebês foca no Alaska.

Mas, voltando à professora. Minha paixão por ela nasceu durante uma excursão que a escola promoveu ao Clube Piraquê, na Lagoa. Fomos num ônibus fretado, da Marquês de São Vicente ao Piraquê, numa viagem que me pareceu com o tempo de um longa-metragem, embora, em realidade, não dure mais do que vinte minutos.

A professora (ninguém a chamava pelo nome, só eu mastigava mentalmente Mar-ga-ri-da Wan-der-ley) contava histórias, mas, principalmente, nos pôs a cantar o alecrim dourado, que nasceu no campo sem ser semeado. E aí Foi meu amor, amor, amor, quem me disse assim...

Chegamos ao clube, mergulhamos pelo escorrega gigante (para nós) da piscina, até que aconteceu um incidente que decretou minha paixão fulminante pela professora.

Quando já estávamos nos aprontando para irmos embora, um aluno caiu na piscina dos adultos. Foi uma confusão. Ele não sabia nadar. E a professora saltou na piscina e o salvou. E eu me apaixonei.

Invejei não ser o menino que ela pegou nos braços e depois cobriu com uma toalha, enquanto fazia carinhos nele para que se acalmasse do susto.

Até hoje sinto falta desse abraço que não tive. Ficou a paixão pela professora e por seu gesto, ao mesmo tempo tão real e tão simbólico. 

Quando pensamos em quantas professoras e professores são apaixonados por sua profissão, ao ponto de arriscarem suas vidas (na minha visão de menino foi o que a professora fez ao saltar na "piscina funda", "de adultos") por seus alunos e vemos quão pouco são prestigiados...

No Dia dos Professores, sempre me lembro dela, salto na piscina imaginária e a abraço com força o abraço que, tímido e apaixonado, nunca tive coragem de dar.

Feliz Dia da Margarida Wanderley a todas as professoras e professores.

E salvem as focas.

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