Músico torturado, assassinado e desaparecido pela ditadura é tema do filme de estreia do Festival do Rio

"Atiraram no Pianista" (Dispararon al Pianista) foi o primeiro dos mais de 200 filmes que serão exibidos na versão 2023 do Festival de Cinema do Rio de Janeiro.

Com direção de Fernando Trueba e Javier Mariscal, mesma dupla de "Chico e Rita", animação que concorreu ao Oscar de 2012, "Atiraram no Pianista" é centrado na figura do músico brasileiro Tenório Júnior, um pianista muito prestigiado pela turma da bossa nova, que infelizmente estava no lugar errado na hora errada.

Em março de 1976, Tenório se apresentava com Vinícius de Moraes e Toquinho em shows na Argentina. No dia 18 de março, ele saiu do hotel e deixou o seguinte recado: "Vou sair para comer um sanduíche e comprar um remédio. Volto logo."

Nunca mais voltou. Seis dias depois houve o golpe militar na Argentina. Ao que parece, Tenório foi vítima da paranoia pré golpe, quando nos bastidores daquela que seria uma das mais violentas e sanguinárias ditaduras da História o terror já estava sendo implantado, com prisões e desaparecimentos.

No livro Operación Condor: Pacto Criminal, lançado no México em 2001, a jornalista Stella Calloni afirma que Tenório Jr. foi torturado por agentes brasileiros e argentinos, entre eles o major do Exército Souza Baptista Vieira. O executor teria sido Alfredo Astiz, ex-capitão de fragata da Marinha Argentina, também implicado no assassinato e desaparecimento forçado de dezenas de pessoas e condenado à prisão perpétua em 2011, por crimes contra a humanidade.

A animação conta parte da história de Tenório, da Bossa Nova e desse período da história da América do Sul, com ditaduras militares sangrentas a serviço dos Estados Unidos em seu combate ao fantasma do comunismo.

O filme estreia nos cinemas ainda este mês e o Festival do Rio vai até o dia 15 com intensa programação.

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