Caso Robert De Niro abriu debate: Pode o patrão chamar a empregada de 'vadia' e 'idiota'?

A recente decisão do júri em Nova Iorque que inocentou o ator Robert De Niro, mas puniu sua empresa Canal Productions, levantou o debate sobre até onde pode ir a relação entre patrões e empregados e o que é considerado assédio ou não.

O ator foi processado por sua antiga funcionária Graham Chase Robinson por tratá-la como "esposa de escritório" pedindo dela tarefas incompatíveis com seu cargo como, por exemplo, coçar suas costas. O acusa também de ofendê-la chamando-a de "bitch" (puta, vadia). 

Em sua defesa, De Niro disse que isso aconteceu apenas duas vezes, num relacionamento profissional de 11 anos, e que a palavra estava fora de contexto. 

O júri ao que parece aceitou a argumentação do ator, tanto que o inocentou e condenou apenas sua empresa a pagar uma indenização de US$ 1,26 milhão à ex-empregada.

Mas, como assim, se a empresa não a chamou de "bitch" e, sim, De Niro?

O jornal britânico Independent lançou a questão: Is it sexist to call a female employee a b****? That depends, says De Niro judge and jury (É sexista chamar uma funcionária de "vadia"? Isso depende, dizem juiz e júri de De Niro).

O julgamento de Robert De Niro por discriminação de gênero levantou questões sobre o uso de linguagem sexista no local de trabalho.

A congressista democrata dos EUA Alexandria Ocasio-Cortez atribui a crescente aceitação de linguagem violenta baseada no gênero a Donald Trump, que tem um histórico bem documentado de comentários depreciativos contra as mulheres, e foi considerado responsável por violar a escritora E Jean Carroll num julgamento civil no início deste ano.

E o julgamento entre o aceitável ou não parece estar muito ligado ao fato de a pessoa ser famosa, como no caso De Niro.

Enquanto os advogados apresentavam moções ao tribunal antes de o júri ser enviado para deliberar, a advogada da Sra. Robinson, Alexandra Harwin, mencionou os “repetidos comentários misóginos” de De Niro.

O juiz do caso, Lewis Liman (um homem) correu em defesa do ator: 

“Isso é extremamente fraco, porque são episódicos durante um longo período e dificilmente levam à conclusão de que ele tem preconceito de gênero, especialmente tendo em conta este local de trabalho”.
O advogado trabalhista de Los Angeles James De Simone é radical. Para ele o patrão não teria direito nem de ligar para a casa de uma empregada. A ex-assistente de De Niro o acusou de ligar para ela às vezes de madrugada com demandas, aos gritos.

Mais uma vez, quase atuando como defensor do ator, o juiz Liman discordou das alegações de Robinson de que ela tinha sido frequentemente submetida aos acessos de raiva de De Niro, argumentando que um chefe que grita é apenas uma parte padrão de qualquer local de trabalho (sic).

Com a absolvição do ator, parece que a defesa do juiz foi eficiente.

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