Endrick, um novo fora de série como Pelé, Garrincha, Maradona e Messi?

Sou Botafogo. Isso diz muito dessa crônica de futebol. Quem nasce sob o signo da estrela solitária sabe que há coisas que só acontecem ao Botafogo. E ontem foi dia do Endrick acontecer ao Botafogo, como a pedra no meio do caminho no poema do Drummond, e eu "nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas".

O primeiro tempo foi o de uma noite de glória. O time teve uma atuação irrepreensível, avassaladora, esmagou o grande time do Palmeiras, que simplesmente não viu a cor da bola e parecia anestesiado assistindo o Botafogo jogar. Parecia que o título já estava ali nas nossas mãos.

Terminou 3 a 0, mas poderia ter sido 4 ou 5 — perdemos dois gols feitos, um com Júnior Santos e outro com Victor Sá. Mas, me atrevo a dizer, se tivéssemos saído com 5 a 0 teríamos voltado ao final do segundo tempo derrotados por 6 a 5.

E não, não foi porque o juiz isso ou aquilo. Não foi porque nosso grande Tiquinho Soares perdeu um pênalti que poderia ter nos colocado em 4 a 1 e nocauteado o ímpeto da reação palmeirense. 

Nada disso. Ontem foi o dia em que os deuses do futebol decidiram que seria o dia do nascimento de um novo fora de série.

Deuses pagãos do futebol

Porque para tudo há o seu momento. No futebol também.  Há o momento em que um jogador de futebol passa a ser um bom jogador; o bom jogador, uma promessa; uma promessa, um craque; e, o mais sublime e raro desses, o momento em que o craque passa a ser um fora de série, um extra classe, um gênio, como Pelé, Garrincha, Maradona, Messi.

E, confirmando o ditado que diz que há coisas que só acontecem ao Botafogo, Endrick resolveu se revelar um fora de série exatamente ontem e exatamente em cima do meu Botafogo.

Aos quatro minutos do segundo tempo ele pegou a bola, saiu driblando todo mundo como se fossem pinos para baliza de auto escola, e fez um golaço. Não satisfeito, foi buscar a bola dentro da rede e voltou para seu time dizendo "passem a bola para mim", ou algo assim, como quem diz, me dá aqui que eu resolvo.

Foi ali que nasceu o fora de série. Naquele instante. Quando o jogador tem a exata consciência de que ele está um plano acima dos demais, que consegue sentir que se derem a bola pra ele, ele consegue fazer gols, virar o jogo e, se necessário, fazer chover, ventar, porque o fora de série é ungido pelos deuses do futebol, é uma força da natureza e não há nada a fazer quando ele está num de seus dias.

Ontem, Endrick estava em um de seus dias. 

Ainda seremos campeões. Temos três pontos de vantagem com um jogo a menos. E felizmente não teremos mais Endrick pela frente.

Meu coração alvinegro ainda está sofrendo com a dura derrota de ontem. Mas, como nas nossas cores contraditórias — o preto e o branco —, ao mesmo tempo consigo enxergar o Brasil campeão do mundo novamente, porque para isso são abençoados os fora de série, para brilhar e fazer brilhar seus times e suas seleções, como aconteceu com Pelé, Garrincha, Maradona e Messi, que elevaram seus times e suas seleções ao topo da glória.

Temos um novo rei do Futebol, e ele é brasileiro. Cabe agora a Endrick não perder sua majestade, manter a cabeça focada naquilo que parece seu destino já aos 17 anos.

E mais uma vez fica provado que há coisas que só acontecem ao Botafogo.

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