O amor através dos pêssegos, em 5 tempos

Primeiro tempo

— Olha, amor, o que eu comprei pra você...

— Pêssegos! Eu adoro pêssegos!

— Sei disso. Por isso comprei. Meia dúzia, pra você se fartar.

— Não, pega um pra você,

— Prefiro que você coma. Estão tão caros!...

— Então não precisava ter comprado, amor...

— Claro que precisava!... Gosto de ver sua felicidade...

Segundo tempo

— Vi na feira e trouxe pra você.

— Pêssegos?

— É. Não vai comer?

— Daqui a pouco.

— Mas você adorava...

— Ainda gosto. Mas é que eu tomei café agora...

— Só unzinho...

— Tá booommm...

Prorrogação

— Comprou pêssego?

— Está muito caro. Você não acredita.

— Mas pelo menos uns dois ou três.

— Da última vez ainda perdeu um. E a gente não tá em tempo de desperdiçar nada.

— Não é desperdício. Eu gosto.

— Mas deixou um.

— (rindo) — Pra você.

— Não mente. Você sabe que eu não como.

Pênaltis

— Estava pensando aqui na época em que você gostava de pêssegos...

— Pois é, eu gostava tanto. Enjoei.

— E eu passei a gostar.

— O que é a vida... A gente passa tanto tempo junto pra acabar trocando os gostos...

— Eu não posso nem com o cheiro mais... Muito doce, enjoativo.

— Mas eu comprei pra mim...

— Então come pra lá!...

Fim de jogo

— Sabe, amor, o que me deu vontade?...

— Sou eu, a enfermeira...

— ... pêssego. Há quanto tempo eu não como pêssego... Eu amo pêssegos...

— Aqui eles não têm pêssego...

 — Quando você for à feira, traz pra mim?

— (para outra pessoa) — Agora ele só está assim. Só fala em pêssego e me chama de amor...

— Fala a verdade, não brinca. Eu estou até sentindo o perfume dos pêssegos...

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