Hoje é Dia da Sogra. Ouvi comemoração por aí? Essa é inacreditável

Dia das mães, Dia dos pais, Dia das crianças, Dia dos namorados, todas essas datas são de festa para o comércio. Há promoções específicas, de acordo com a data, e as lojas de chocolate, perfume, brinquedos, lenços, meias e gravatas, atendem a todos, de acordo com o homenageado ou a homenageada da vez.

Mas ninguém liga para o Dia da Sogra, 28 de abril. Muitos nem sabem que ele existe. Não há uma mísera campanha tipo "Traga sua sogra ao cinema e ganhe ( ) um ingresso, ( ) uma pipoca, ( ) um diploma"...  Nem uma meia ou lenço... As sogras são comemoradas a seco. Ou nem isso.

Nem as floriculturas, que colorem até as mortes, promovem o Dia da Sogra com buquês especiais das flores preferidas por elas.

Até a criação da data é controversa. Aliás, até a existência do Dia da Sogra é controversa. Tanto é assim que já ouvia falar dele há anos, mas somente no ano passado ele foi oficializado aqui na cidade do Rio de Janeiro, onde moro.

 

LEI Nº 8.012, DE 24 DE JULHO DE 2023.

Inclui o Dia da Sogra no Calendário Oficial da Cidade consolidado pela Lei nº 5.146/2010.

Autor: Vereador Zico.

O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Faço saber que a Câmara Municipal decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica incluída no § 4º do art. 6º da Lei nº 5.146, de 7 de janeiro de 2010, a seguinte data comemorativa:

Dia da Sogra, a ser celebrado anualmente no dia 28 de abril.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

EDUARDO PAES

 

Ou seja, hoje, dia 28 de abril de 2024, é o primeiro Dia da Sogra oficial da cidade do Rio de Janeiro.

Sei que o folclore diz que os homens odeiam suas sogras. Não é minha experiência pessoal nem entre meus amigos. Não me lembro de ter ouvido de algum deles um "odeio a minha sogra". Tem gente que não gosta. Tem gente que nem fala no assunto. Tem gente que suporta. Mas, odiar...

Mas existe a lenda e, pela falta de comemoração da data no comércio, ela é uma realidade escondida, como aqueles segredos de família que ninguém comenta. Ou o comércio está perdendo dinheiro ao não explorar o Dia da Sogra.

Eu comemoro o Dia da Sogra há anos e sempre escrevo sobre ele. Prova disso é que vou me repetir aqui:

Há todo um folclore de que as sogras são umas bruxas, que elas enchem o saco etc. Não é a minha experiência. Muito pelo contrário. Embora eu deva frisar que três horas de viagem me separam da mãe de minha mulher. E que ela não gosta muito de viajar. Nem eu.

Minha sogra faz de tudo para me agradar, quando a visito. Se meu sogro prefere Antarctica e eu, Brahma [essa homenagem é antiga...], quando vou lá a cerveja é Brahma. Ela faz um doce de banana com creme e merengue simplesmente delicioso. E, por saber dessa minha opinião sobre ele, sempre prepara um antes da minha chegada. Sem contar o leitão pururucando no Natal e uma farofa de miúdos genial.

Se não bastasse toda essa mordomia, ela me chama de fi-inho — assim com essa prosódia do interior de São Paulo (ela mora em Lorena)... Só quem já perdeu a mãe sabe como é gostoso ouvir de vez em quando alguém chamá-lo assim.

Mas, quem me lê falando desse modo de minha sogra pode imaginá-la uma velhinha sem muito o que fazer, cerzindo meias ou bordando toalhas em ponto de cruz. Nada mais distante da realidade.

Minha sogra é comerciante, daquelas que acordam o galo e põem a galinha para dormir. Acorda cedo, dorme cedo, e passa o dia todo agitada, para lá e para cá, trabalhando sem parar, dando ordens, comandando, como um sargento durão. Ela tem uma musculatura compacta — que sinto quando a abraço — para proteger seu frágil interior. Foi assim que ela aprendeu a sentir e a se defender da vida.

Começou a trabalhar muito cedo, ajudando os pais — também eles pequenos comerciantes e criadores — no mercado municipal. Gente da roça, ignorante (no sentido da falta de escolaridade), com padrões rígidos de comportamento. Quem viu o filme Pai Patrão, dos irmãos Tavianni, sabe do que estou falando, tem ideia de como é dura a vida dessas pessoas.

Pois a de minha sogra sempre foi assim: uma vida para o trabalho, em função da família. Primeiramente, os pais dela. Depois, seu marido, filhos e netos. Envolve-se com a vida de todos mais do que deveria, não porque ela assim o queira, mas porque sempre é solicitada.

Passou por uma das maiores provações pelas quais um ser humano pode passar — a perda de um filho —, que lhe deixou marcas que ainda hoje não conseguiu superar. Eu me recordo do sofrimento dela naquela época.

Seu único filho homem (ela tem mais três filhas), Francisco entrou em coma, após uma cirurgia. Executivo em início de carreira numa grande multinacional, ele era seu orgulho.

Todo dia, após trabalhar a manhã toda — sabe-se lá com que forças — ela, assim que acabava o almoço, pegava um ônibus na Rodoviária de Lorena e ia até São Paulo visitar o filho em coma, cheia de esperança de conseguir enxergar pelo menos uma melhora. Uma viagem de mais de duas horas, sem contar o tempo gasto da Rodoviária de São Paulo até o hospital.

Depois da visita, o longo caminho de volta, agora sem a esperança da ida, já que o filho não melhorou jamais. Depois, vinha a noite de sono inconstante, para nascer um novo dia e com ele a esperança de ver o filho bom de novo, que não se concretizou.

Pensei que ela fosse morrer no dia do enterro do Francisco. Mas — é como eu dizia — ela é desse tipo de gente da roça, com uma forte ética do trabalho de sol a sol, da galinha que hoje é brinquedo e amanhã, alimento. A vida segue, Deus quis assim, os fregueses estão na porta.

Então, ela vai de novo para a loja (hoje de artesanato), fala pelos cotovelos, conta sua vida toda para qualquer um — principalmente para falar com orgulho das filhas, dos netos, da bisneta e até dos genros... E logo pede uma licencinha para ir lá dentro, “porque vem meu genro lá do Rio, e ele adora um doce de banana que eu tô preparando pra ele”. E termina dizendo ao freguês:

- Você não liga não, não é, fi-inho?

Ela diz isso pra todos, traidora. Como não amar uma mulher assim?





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