Por que liberdade de Assange é uma vitória com gosto amargo

Finalmente, na manhã de ontem na Inglaterra, o fundador do WikiLeaks Julian Assange saiu da prisão de segurança máxima de Belmarsh para o aeroporto, onde pegou um avião para as Ilhas Marianas do Norte, na Micronésia, com parada para abastecimento na Tailândia.

Segundo as informações, nas ilhas Marianas do Norte Assange se declarará culpado de parte das acusações que lhe são feitas pelo governo dos Estados Unidos. Por elas, será condenado a penas que somam em torno de cinco anos. Como ele esteve preso por mais tempo do que isso, estará finalmente livre.

É uma vitória para Assange, sua mulher Stella, seus filhos e demais familiares, além de amigos e apoiadores por todo o planeta. Mas uma vitória com um gosto amargo de derrota, especialmente para o jornalismo investigativo.

Porque as culpas que Assange assumirá (traduzidas a seguir, com a íntegra do documento da promotoria dos Estados Unidos logo após) são uma vitória do governo dos Estados Unidos.

As acusações que Assange assumirá

O réu, JULIAN PAUL ASSANGE, que será primeiro levado ao Distrito das Ilhas Marianas do Norte, conspirou consciente e ilegalmente com Chelsea Manning para cometer os seguintes crimes contra os Estados Unidos:

  1. a. Receber e obter documentos, escritos e notas relacionadas com a defesa nacional, incluindo materiais classificados até ao nível SECRETO, com a finalidade de obter informações a respeito da defesa nacional, e conhecer e ter motivos para acreditar no momento em que tais materiais foram recebidos e obtidos, eles foram e seriam levados, obtidos e descartados por uma pessoa contrária às disposições do Capítulo 37 do Título 18 do Código dos Estados Unidos, em violação do Título 18, Código dos Estados Unidos, Seção 793 (c );
  2. b. Comunicar intencionalmente documentos relativos à defesa nacional, incluindo documentos classificados até o nível SECRETO, de pessoas que tenham posse legal ou acesso a tais documentos, a pessoas sem direito a recebê-los, em violação do Título 18, Código dos Estados Unidos, Seção 793(d); e
  3. c. Comunicar intencionalmente documentos relacionados à defesa nacional de pessoas em posse não autorizada de tais documentos a pessoas sem direito a recebê-los, em violação do Título 18, Código dos Estados Unidos, Seção 793(e).

7. Na promoção da conspiração, e para cumprir os seus objetivos, ASSANGE e Manning cometeram atos manifestos legais e ilegais. (Tudo em violação do Título 18, Código dos Estados Unidos, Seção 793(g))

Ao assinar o documento reconhecendo-se culpado, estará aberto precedente que incriminará qualquer jornalista que proteja um denunciante que deseje permanecer no anonimato.

Assange recebeu comunicado de uma fonte (Chelsea Manning), que afirmava ter documentos secretos que provavam crimes de guerra do governo dos Estados Unidos, mas que precisava permanecer no anonimato para sua segurança. Assange disse como ela deveria proceder. Esse é, em suma, o crime de que é acusado, porque os demais que assumirá já foram denunciados em outras oportunidades sem que os jornalistas fossem presos por isso. Com o precedente, todos poderão vir a sê-lo.

Lembrando que denunciar crimes de guerra não é nem pode ser crime; crime é cometê-los.

A seguir, prints das quatro páginas do documento oficial do governo dos EUA:

Convém não esquecer que Assange ainda não está livre até todo o ritual ser concluído.

A seguir, o desembarque de Assange em Bangkok, capital da Tailândia, para abastecimento e depois a ida para as ilhas Marianas do Norte, onde tudo deverá ser finalizado na manhã desta quarta-feira.

 



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