Chico Anysio: Documentário sobre gênio do humor revela face perversa da Globo

Está no ar para assinantes Globoplay a minissérie em cinco episódios "Chico Anysio: Um Homem à Procura de um Personagem". Escrita e dirigida por um de seus filhos, Bruno Mazzeo, a minissérie faz jus ao maior gênio do humorismo brasileiro e mostra a realidade crua do capitalismo, quando há a substituição de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, todo poderoso homem do entretenimento global, por Marluce Dias, que recebeu a missão da familia Marinho de enxugar custos na emissora, mesmo que à custa da cabeça de Chico Anysio.

Mas a minissérie dá a Marluce apenas o destaque e o tempo que ela merece. A imensa maioria do documentário mostra como o pequeno e travesso menino de Maranguape se transformou no gênio do humor com suas centenas de personagens adoráveis.

O olhar carinhoso do filho Bruno no roteiro e na direção se completa com depoimentos dos demais filhos, todos felizes e emocionados em falar de um pai amoroso, que distribuiu amor paterno a cada um deles, frutos dos diversos casamentos de Chico.

A sensação é de que não há disputa de protagonismo entre eles no coração do pai e mesmo das ex mulheres, e de que todos estão satisfeitos com a parte que lhes coube, exceção talvez do casal de filhos de Chico com a ministra de Collor Zélia Cardoso de Mello, pois foram educados nos Estados Unidos enquanto Chico voltou para o Brasil ao fim do casamento.

A ex-ministra também dá seu depoimento no documentário, onde fica clara a defesa que Chico fez dela em meio aos justos ataques pelos planos Collor, com prejuízos a sua careira, como reconhece a própria Zélia.

Bruno Mazzeo afirmou em entrevistas que queria mostrar o que havia por trás dos personagens que todos os que viveram aquela época conhecem como se membros da própria família. 


"Como ele chegou a esses personagens que todo mundo conhece? Como ele chegou a esses bordões que a gente repete até hoje? Quando eu era garoto, meu pai tinha o perfil dos personagens em caderninhos. Por exemplo, o Azambuja. Onde ele nasceu? Qual é o time dele? O que ele gosta de comer?"


Tudo é destrinchado no documentário com leveza e amor, com depoimentos de Chico, seu irmão, o cineasta Zelito Viana, seus amigos, as mulheres com quem foi casado e principalmente seus filhos, mostrando o homem para além do redator e ator genial, preocupado com os atores de seu elenco, a quem ajudava inclusive financeiramente, como afirma o filho afetivo André Lucas.

"Chico Anysio: Um Homem à Procura de um Personagem" mostra também que Chico não acolhia apenas os veteranos, mas recebia de braços abertos e lançava  novos humoristas, como Tom Cavalcanti, que também dá seu depoimento e mostra como Chico foi fundamental apara sua carreira.

O documentário também mostra a face crua do capitalismo em ação, quando Boni é substituído no comando do entretenimento da Globo por Marluce Dias: a perseguição a Chico Anysio, a quem foi endereçada inclusive uma carta com várias proibição a ele, como, por exemplo, de comentar sobre qualquer programa da Globo. Um cala boca total. Logo ele, um dos principais responsáveis pela Globo chegar a ser o que um dia foi, e em parte ainda é, líder inconteste entre as emissoras brasileiras.

Além de diminuírem a presença de Chico nos programas da casa, onde ele chegou a ser protagonista em todos os dias da semana, no ar de domingo a domingo, a Globo cometeu a crueldade de tirar do ar a Escolinha do Professor Raimundo quando faltavam apenas cinco meses para que o quadro completasse 50 anos no ar. Plimplim.

Mesmo essa parte da Globo é contada sem ressentimentos, apenas com a crueza dos fatos, inclusive com depoimentos da própria Marluce. 

O que a minissérie nos mostra é a genialidade de Chico e uma grande parte da história da TV e do rádio brasileiros, com impagável depoimento de nossa atriz maior, Fernanda Montenegro, colega e par romântico de Chico em programas radiofônicos dos anos 1950, que fala de Chico com imenso e emocionado carinho.

Enfim, a minissérie "Chico Anysio: Um Homem à Procura de um Personagem" é por todos os modos imperdível e merece ser levado à TV aberta para chegar ao público que sempre foi a razão de ser de Chico Anysio — o brasileiro comum a quem ele deu voz e vida com seus personagens.




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