Crise Brasil-Bolívia (final da entrevista)

Álvaro García LineraFinal da entrevista do vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, ao repórter da BBC Hernando Alvarez.


O projeto de Evo Morales

Evo Morales e o MAS vêm com simpatia o que acontece na América Latina em termos de governos progressistas. Mas não se busca imitar ninguém. Evo Morales não é chavista nem lulista, é evista.

Aqui [na Bolívia] está surgindo um projeto distinto com forte conteúdo indígena. Estamos diante do surgimento do “evismo” como um fenômeno político continental, que assim como recebe ensinamentos de outras partes da América Latina, com certeza também vai ensinar, de maneira humilde.

Aqui, o que vamos fazer em política e economia é uma mudança estrutural, e os ciclos políticos e estatais na Bolívia têm uma duração de 25 a 30 anos.

Não se trata necessariamente de alguma coisa em função de um homem, mas de um projeto de país: os indígenas no poder. Uma economia a serviço dos setores sociais é uma reivindicação dos direitos de igualdade. Um projeto, eu diria, de séculos, não somente de cinco anos.

Quem poderá encabeçar isso é Evo Morales. Que o faça em cinco anos, ou em dez ou quinze, isso é um tema secundário. O importante é o projeto para o país.

Não se trata de culto de personalidade. Estes surgem em sociedades com um tecido social relativamente fraco, e se vocês conhecem um pouco a Bolívia vêm a sociedade mais organizada de toda a América Latina. Tudo é organizado aqui, todos têm grêmio, sindicato, federação.

Isso é muito bom, porque nos mostra um tecido social muito ativo, muito autônomo. Esta pluralidade da sociedade civil limita a formação de caudilhismos excessivamente centralistas.

Embora haja o “evismo” em termos de uma liderança continental forte, ninguém o imagina como um caudilho em torno do qual se tem de fazer um culto à personalidade. Talvez, com o tempo, surjam novos líderes indígenas com a capacidade de continuar o que vai fazer Evo Morales.


(O original desta entrevista está aqui, em espanhol. A tradução é minha. Portanto, se encontrarem algum problema, corrijam-me.)

(Como se pode ver pela entrevista, um dos principais objetivos do grupo de Evo é aprovar na Assembléia Constituinte de julho a possibilidade da reeleição. Linera vai além e chega a especular um governo de cinco, ou dez ou quinze anos. Chama o fator tempo de "secundário". O importante é o tal projeto para o país: o "evismo" ou os indígenas no poder.)

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3 comentários:

  1. Anônimo3.5.06

    Nossa como esse projeto é parecido com o do Mr MULLA.
    CRUZ CREDO.
    CHEGA DE MULLA. CHEGA DE MULLA.

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  2. Antônio

    Evo morales é um cara controverso. Será que quer o bem da Bolívia estatizando as reservas de gás natural e petróleo ou quer aparecer na mídia internacional e reverter a queda de popularidade dos últimos meses?

    Um abraço

    Marco Aurélio

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  3. Anônimo6.5.06

    Como o "noço guia" MULLA, esse Evil Morales não passa de uma marionete bravateira, manipulada pela anaconda Chavez.
    Tratando-se da Bolívia, ainda na fase do arco e flecha, suas pretensões durarão até o próximo golpe. Já começou rasgando a constituição, assegurando-se um mandato ampliado para o qual não foi eleito. Meteu o ferro no Mulla, invadindo militarmente as instalações da Petrobrás, a pretexto de nacionalizar o gás que já é boliviano. Inspirado por Chavez, o Evil quer é expropriar as refinarias brasileiras, sem pagar a devida indenização. O Mulla diz amém, contentando-se em receber o suficiente para pagar as dívidas petelhas e as despesas de sua campanha. A Petrobrás que se foda...

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