terça-feira, 7 de agosto de 2007

Ali Kamel e o ‘jornalismo independente’ da ‘grande imprensa’

Em artigo publicado no jornal O Globo, o diretor executivo de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, defende a chamada grande imprensa de ataques que estaria sofrendo, a seu modo de ver, injustos.

Em defesa de seu ponto de vista, Kamel afirma que os que atacam a “grande imprensa” são, em geral, financiados por empresas e fundos de pensão ligados ao governo, enquanto a “grande imprensa”, graças à imensa gama de anunciantes, teria independência para noticiar os fatos, sem que tivesse que agradar ao governo de plantão.

“É uma tautologia, mas, na atual conjuntura, vale dizer: o jornalismo só é livre e independente quando não depende de nenhuma fonte exclusiva de financiamento.”

Por esse raciocínio, apenas os milionários e os ascetas – porque estes nem dos anunciantes necessitariam - poderiam praticar o verdadeiro jornalismo.

Mas, como não é disso que se trata, convém que olhemos com mais profundidade essa tal pluralidade de anunciantes que gerariam uma maior independência da “grande imprensa”.

Ela é tão plural assim? Quem são os anunciantes da Rede Globo e de O Globo, por exemplo? Em geral, além das empresas e fundos de pensão do governo, as grandes e médias empresas, além das “vagabundas” (em quem o diretor do BBB, Boninho, adora atirar ovos podres), que, anunciando seus corpos nos classificados de O Globo, por exemplo, contribuem para que seu jornalismo se mantenha “independente”.

E o que querem esses anunciantes que pagam caro por suas mensagens? É outra tautologia, mas eles querem, obviamente, que consumam seus produtos. Portanto, querem atingir aqueles que podem pagar os produtos que eles anunciam, ou sonham em fazê-lo – e assim se endividam nos cartões de crédito (grandes anunciantes) e procuram bancos e financeiras (outros grandes) para pagar suas dívidas, mediante empréstimos.

Portanto, não é qualquer audiência. Se fosse assim, até hoje estaria no ar o programa Aqui e Agora – lembram-se dele? Ia ao ar pelo SBT e dava uma surra na Globo todos os dias. Tinha uma audiência fantástica. Seu diretor – Amaury Soares – veio a ser, posteriormente, diretor do Jornal Nacional. No entanto, o programa saiu do ar. Por quê? Por falta de anunciantes, que não se interessaram por seu público.

Desse modo, o público a quem o tal “jornalismo independente” da “grande imprensa” que atingir é – e isso também é uma tautologia – o público que pode comprar os produtos de seus anunciantes. E como atingi-lo?

A resposta foi dada por um grande empresário do “jornalismo independente” da “grande imprensa”, Roberto Civita, dono da Abril e da Veja. Em entrevista ao Jornalistas&Cia, ele afirmou:

“...Os leitores clamam, (...), querem que a sua revista se indigne. Eles querem. Os brasileiros, hoje, não posso falar de outras partes do planeta, mas os leitores de Veja querem a indignação de Veja. Eles ficam irritados conosco quando não nos indignamos. Estou tentando explicar, não justificar. Acho que Veja se encontra toda semana na difícil posição, de um lado, de saber que reportagem é reportagem e opinião é opinião, sendo que não tem editoriais além daquele da frente; e, de outro, sabendo que os leitores..."

É em busca desse público indignado (que descarrega essa indignação na ostentação e no consumo – às vezes também jogando ovos em “vagabundas”, agredindo domésticas e queimando índios), que se movem o “jornalismo independente” e os anunciantes. Um deles - a Peugeot - chegou ao cúmulo de se aproveitar da tragédia com o avião da TAM para informar que estaria retirando um comercial do ar, em memória das vítimas, quando o anúncio da retirada já havia sido feito na semana anterior, e por outros motivos (uma suposta censura do governo federal).

Termino citando literalmente o último parágrafo do artigo de Kamel:

“Já aqui, temos de conviver com essas bazófias. Porque aqui, ao contrário de lá, há quem queira que a informação esteja a reboque de projetos de poder.”

Pois é, Kamel, quando vamos parar com essas bazófias? Quem tem projetos de poder é quem não está no poder. É uma tautologia, mas, na atual conjuntura vale dizer.

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6 comentários:

  1. Anônimo7.8.07

    Mello,
    eu espero que o meu texto chegue dessa vez.
    Confira os depoimentos de Narcisa e Chateubriand na coluna social da "Folha de S. Paulo": http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0708200709.htm

    Não tenho estômago para comentar as desculpas esfarrapadas de ambos.

    A Globo não tem projeto de poder porque sempre o teve. Mas o que propõe a mídia "revolucionária", quer dizer, a mídia que não é golpista? A mesmíssima coisa, infelizmente. Não vamos fazer de conta que o governo Lula é "de esquerda" ("Se uma pessoa mais velha continua sendo de esquerda é porque tem algum problema", ele disse) e não vamos fazer de conta que ele seja um adversário da grande imprensa: se tivesse sido aceito por ela, não estaria reclamando. Lula governa para os cansados, mas está triste porque não viu seu esforço ser reconhecido.
    um abraço,
    André.

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  2. Anônimo7.8.07

    Nada tenho a ver com fundos de pensão, governo seja qual for e sempre trabalhei na iniciativa privada e por todo esse tempo nunca deixei de criticar essa Rede Globo (organizações) por seu jornalismo incoerente e mal feito, sempre designando ao leitor/ouvinte a pecha de bobo, que acredita piamente em tudo.

    A imprensa brasileira em sua maior parte não merece apreço.Muito infelizes as colocações desse diretor. Sou classe média mas fadas, papai noel e outras coisas mais não são para eu acreditar.

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  3. Anônimo7.8.07

    Mello, meu caro Mello,
    vc deixou pra lá o melhor desse artigo do Kamel.

    "Na cobertura da tragédia da TAM, a grande imprensa se portou como devia. Como não é pitonisa, como não é adivinha, desde o primeiro instante foi, honestamente, testando hipóteses, montando um quebra-cabeça que está longe do fim."

    Para o Globo testar hipóteses honestamente é propor condenações a cada dia.

    Como diz o Nassif: "Usar a tentativa-e-erro no jornalismo é falta de rigor, falta de manutenção".

    Ou golpismo mesmo.

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  4. Anônimo8.8.07

    Mello!

    Mais uma vez: magnífica a "leitura" da entrevista.
    Fico sempre esperando um novo post para ler com atenção.
    Obrigada!

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  5. Anônimo11.1.09

    neste mundo de hoje o homem é o maior v~ilão.Aqui no Brasil pessoas vivem nas favelas como em Gaza.Os traficantes usam os moradores como escudos, se escondendo no fundo das favelas, controlando e expolrando os moradores com o gas, condução, e leis impostas,e trocando tiros com a policia dentro da propria favela.Qual é a diferença?E toda a sociedade tem por eles profunda indiferença e só reclamam quando algo os incomoda, fora isso, passam por ali como se a favela-Gaza brasileira-nem existisse.E agora todos falam em humanidade, em fim das atrocidades de israel-que hipocrisia!!

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  6. Anônimo11.1.09

    Falam em israel e atrocidade e falta de humanidade.Por que todos se levantam quando Israel está em guerra?Quando a China invadiu o Tibet ninguem ousou contestar-será medo do tigre? será que as palavras dos padres -judeus mataram Jesus ainda estão no inconsciente dos católicos?Imaginem -se numa casa cheia de escorpiões, todo dia eles te dão uma picada-depois de 10 picadas, voce vai fazer o quê?Vai sair matando todos.Assim são os foguetes do Hamas desde julho, picando, picando,picando..um dia chega!Não se esqueçam,os israelenses não são mais aquela sub raça que se deixou trucidar nos guetos da Europa.Agora é um povo defendendo a sua cidadania!!!

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