Quando o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) começou a colher assinaturas para a instauração de uma CPI para investigar a venda da TVA (Grupo Abril) para a Telefônica não foi levado a sério. Afinal, quem poderia acreditar que haveria 171 deputados corajosos e independentes o bastante para peitar o Grupo Abril, especialmente seu dedo acusador, a Revista Veja?
Para surpresa geral, 182 assinaram. A Veja estrilou. Como eu comentei aqui, ela partiu para o ataque, disse que era uma “vendeta” de Renan, um atentado à liberdade de imprensa etc. Mas não apenas isso: chamou para o centro do palco as Organizações Globo e a Telmex, que teriam realizado negócio análogo ao Abril-Telefônica. Em editorial, ainda foi em cima do presidente da Câmara:
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, tem poderes para deter essa marcha da insensatez, e se o fizer estará prestando um serviço à imagem da instituição que preside.
Ou seja, para usar uma expressão do ministro Lewandowski, a Veja colocou “a faca no pescoço” de Chinaglia. E, por extensão, na Câmara como um todo.
Parece que a pressão surtiu efeito. De lá pra cá, seis deputados pediram para retirar suas assinaturas do requerimento.
Eis os nomes dos seis, e suas alegações (segundo seus requerimentos oficiais, no site da Câmara).
- Lincoln Portela (PR-MG)
Solicitou a retirada já que o referido requerimento não “apresenta fato determinado de relevante interesse para a vida pública e a ordem constitucional, legal, econômica e social do País”.- Marcelo Itagiba (PMDB-RJ)
Solicitou a retirada “já que o referido requerimento afeta, frontalmente, a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, cerceia a manifestação do pensamento, conforme definido nos preceitos constitucionais”.- Marcio Junqueira (DEM-RR)
Apenas pediu a retirada, sem justificativa alguma.- Ricardo Izar (PTB-SP)
Solicitou a retirada “por haver sido aposta, por engano, sem o efetivo conhecimento de seu objeto”.- Antônio Roberto (PV-MG)
Solicitou a retirada porque “o requerimento não apresenta fato determinado de relevante interesse para a vida pública e a ordem constitucional, legal, econômica e social do país. Que o requerimento tem também o objetivo subjacente de atacar instituições da imprensa afetando, dessa forma, a liberdade de expressão, de imprensa, cerceando a manifestação do pensamento na contramão dos preceitos constitucionais”.- Ratinho Junior (PSC-PR)
Solicitou a retirada porque o requerimento “não atende ao propugnado, que considera fato determinado o acontecimento de relevante interesse para a vida pública e a ordem constitucional, legal e social do País e devidamente caracterizado no requerimento de constituição da Comissão”.
Como se vê, um não se justificou e os outros ou não leram o que assinaram ou só se deram conta do que fizeram mais tarde. O que os teria feito mudar de opinião tão rapidamente?
Ao mesmo tempo, a Anatel retirou o assunto da pauta da reunião de quarta-feira (29), sob pretexto de que precisava de mais tempo para analisar com cuidado as implicações da compra. Na verdade, o que fez foi retirar o tema das pautas de discussão, desligando os refletores e deixando os deputados à mercê das pressões feitas na surdina, por debaixo dos panos. Exatamente como aquela reportagem de capa em que a Veja levantou a suspeita de que os ministros do STF estariam sendo grampeados. Era uma denúncia? Ou um aviso?
Vamos ficar de olhos bem abertos para evitar que novos deputados roam a corda. Afinal, o que eles temem da Abril?
Ou, olhando a questão pelo outro lado: Por que a Abril não quer a instalação da CPI? Se o negócio – como afirma – é absolutamente legal, qual é o problema? Por que a CPI só é boa quando a Veja é estilingue?
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