Em editorial Folha chama de pantomima matéria e entrevista com juiz publicados pela própria Folha


Vergonha alheia o editorial da Folha desta quarta criticando as eleições de domingo passado na Venezuela.

O mais incrível é que boa parte do editorial se dedica a levantar e sugerir a possibilidade de terem sido fraudadas, sendo que um juiz brasileiro, que atuou como observador internacional, deu uma entrevista à própria Folha, publicada na terça-feira e reproduzida aqui, afirmando que é praticamente impossível fraudar eleições na Venezuela:
  • A identificação é biométrica em todas as urnas (no Brasil acontece apenas em algumas, em caráter experimental). 
  • As urnas são eletrônicas, como aqui, mas há a impressão posterior do voto, que serve para confirmar, como recibo, que é depositado em outra urna, para que possam ser conferidos os resultados. Se os da urna eletrônica não baterem com os impressos a urna é anulada.
  • Na lista de presença, além da assinatura do eleitor é impressa sua digital.
O editorial também criticou a mudança de locais de votação que afetou 715 mil eleitores (num universo de 9,4 milhões) sem explicar por que essas modificações foram feitas.

Quando da votação da Constituinte, a oposição, que queria o fracasso, pregava abstenção e tocou o terror em alguns locais para que as pessoas não comparecessem. O governo resolveu trocar então esses locais por outros, mas ainda dentro do mesmo município.

Diz também o editorial que resultado de pesquisa de um instituto "tido como o mais confiável do país" apontava vitória da oposição e errou. Deve ter sido a primeira vez no mundo, não é?


Reclamou também que as eleições "estavam amputadas" porque faltavam dois fortes candidatos oposicionistas (López e Capriles), sem explicar o motivo de os dois não poderem participar:
  • Capriles está inabilitado a participar de eleições por 15 anos, por desvios administrativos, quando governador de Miranda, nos anos de 2011, 2012 e início de 2013.
  • López está preso, condenado a 13 anos, entre outras coisas por instigar a multidão a protestos que provocaram incêndios causando a morte de 43 pessoas. [Fonte: CNN]

Não é só isso. O que mais me espanta é a Folha, que demitiu uma jornalista por abandono de emprego quando sabia que ela estava presa no Dops; a Folha que emprestou carros para transportar presos políticos para serem torturados; que empregou policiais como jornalistas, na época da ditadura; a Folha que cinicamente tentou chamar uma ditadura que desceu a requintes de crueldade ao torturar crianças e os pais de crianças na frente dos filhos; essa Folha quis chamar a ditadura brasileira de ditabranda.

E chama o governo da Venezuela de ditadura. Trata Maduro de ditador, desrespeita as leis, o Judiciário da Venezuela, criticando suas decisões, e não tem a mesma veemência no ataque a Temer e sua quadrilha de ladrões que está acabando com nosso país, é reprovado por 97% dos brasileiros e pela maioria dos países democráticos do mundo.

Nem aplica a mesma medida na corrupção tucana que há mais de 20 anos faz o que quer e o que não quer no governo de São Paulo - inclusive barrando todas as CPIs que tentem investigá-lo.

Leiam o editorial na íntegra.


Em ditaduras, não raro as urnas são instrumentalizadas para conferir algum verniz democrático a um regime carente de Estado de Direito. Tal foi o caso das eleições para governador na Venezuela, realizadas no domingo (15).
Tratou-se de um processo viciado, do início ao fim. Para mencionar apenas o atropelo mais recente, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), servil ao caudilho Nicolás Maduro, mudou na última hora o local de votação de 715 mil eleitores em redutos da oposição, sobretudo na região de Caracas. [9,4 milhões de eleitores]
Muitos votantes foram redistribuídos para zonas violentas —a capital venezuelana tem uma das mais altas taxas de homicídio do mundo. Outros foram impedidos de chegar às urnas por bloqueios dos paramilitares governistas.
A oferta de candidatos, ademais, mostrava-se amputada. Os dois principais líderes antichavistas, o ex-candidato a presidente Henrique Capriles e o preso político Leopoldo López, estavam impedidos de concorrer, assim como outros oposicionistas menos conhecidos.
Difícil de mensurar, mas perceptível, era o desalento do eleitorado, em meio a uma crise econômica brutal e ao histórico de pleitos manipulados no país.
Basta lembrar a pantomima de julho, quando Maduro convocou uma assim denominada Assembleia Constituinte para substituir o Legislativo hostil ao regime, iniciativa rechaçada à época pela maioria da opinião pública.
O CNE afirmou que participaram daquela votação, boicotada pelos oposicionistas, 8 milhões de eleitores. Noticiou-se, porém, que o número não passou de 3,7 milhões.
Confirmou-se a tradição do regime de sabotar vitórias dos adversários. Em 2007, Hugo Chávez foi derrotado, em referendo, na proposta que extinguia limites à reeleição. Pouco mais de um ano depois, impôs nova votação e, com amplo uso da máquina estatal, obteve o resultado desejado.
Agora, enquanto se dissipam os últimos vestígios de democracia, a vitória dos governistas em ao menos 17 dos 23 Estados não chega a ser surpresa, mesmo depois de o instituto Datanálisis, tido como o mais confiável do país, ter previsto que os candidatos antichavistas ficariam com 62% dos votos.
Numa nota doméstica, vê-se com estupefação —embora, mais uma vez, sem surpresa— o PT classificar o pleito como "exemplo de democracia". Mais lamentável que a proposital distorção do conceito, a legenda demonstra mais uma vez incapacidade de se livrar de escolhas erradas do passado.

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