Indústrias de refrigerantes usam estratégia de Pablo Escobar contra medidas que visem a diminuição de seu consumo



Na Colômbia, a tentativa de aumentar impostos sobre bebidas açucaradas para diminuir seu consumo e evitar doenças graves como obesidade, diabetes, hipertensão, recebeu resposta violenta dos fabricantes.

Além de contrainformação (o que seria um direito deles, o de oferecer um contraponto), houve ameaças virtuais e reais, com agentes sendo ameaçados na rua, como nos tempos de Pablo Escobar.

A situação foi tão ameaçadora que o governo cedeu e mandou tirar a campanha [vídeo] do ar.


Tudo começou com chamadas ameaçadoras, falhas estranhas nos computadores do escritório e homens em carros estacionados que tiravam fotos na entrada da sede do pequeno grupo de defesa do consumidor.

Pouco tempo depois, Esperanza Cerón, a diretora do grupo, notou que dois homens em uma motocicleta seguiram seu sedan Chevy no caminho de volta do trabalho para casa. Ela não sabia quem eram e tentava perdê-los no trânsito da hora de rush em Bogotá, mas eles a alcançaram, chegaram ao lado do carro e bateram nas janelas.

"Se você não calar a boca, já sabe sabe quais vão ser as conseqüências", gritou um dos homens, segundo explicou Cerón em uma entrevista recente.

Sua organização, Educating Consumers, foi o defensor mais visível da proposta de estabelecer um imposto de 20% sobre bebidas açucaradas, que deveria ser submetido ao Congresso colombiano para consideração em dezembro.

O grupo de Cerón arrecadou fundos, conseguiu aliados para a causa e produziu um provocador anúncio de televisão [o vídeo acima] que alertou os consumidores de que a ingestão de bebidas cheias de açúcar pode causar obesidade e outras doenças, como diabetes.

A reação foi feroz. A Superintendência de Indústria e Comércio ordenou que o comercial fosse retirado do ar, em resposta a um processo movido pelo refrigerante mais importante do país que chamou o anúncio de indesejável [a matéria não diz qual o refrigerante mais importante da Colômbia, mas não é difícil imaginar qual seja, não?].

Mas a agência foi ainda mais longe: proibiu Cerón e seus colegas de discutirem publicamente os riscos para a saúde de consumir açúcar ou seriam multados em 250 mil dólares.

Um link para o cemitério


As organizações de saúde pública, incluindo a Organização Mundial da Saúde, citam impostos sobre refrigerantes como uma das ferramentas políticas mais efetivas para reduzir o consumo do que os nutricionistas chamam de "líquido doce" que contribuiu para a epidemia de obesidade e doenças relacionadas em todo o mundo.

Kathryn Backholer, um pesquisador da Universidade de Deakin na Austrália, diz que os impostos sobre as bebidas não alcoólicas eram "um presente" para combater obesidade, diabetes e outras doenças relacionadas ao peso, pois são alvos facilmente tributáveis ​​e porque "eles têm pouco ou nulo valor nutricional".

Backholer e outros especialistas disseram que o ponto de virada para aqueles que propõem o imposto sobre refrigerantes veio em 2014, quando o México - o maior mercado de consumo per capita da Coca Cola - aprovou o imposto de 10%.

O México também foi o país onde foi visto o quão suja a luta pode ser.

No ano passado, vários defensores de uma proposta de dobrar o imposto para 20% - nutricionistas, especialistas e ativistas de grupos externos e do governo mexicano - receberam uma série de mensagens de texto agressivas e ameaçadoras de telefones desconhecidos.

Um homem recebeu uma mensagem dizendo que sua filha tinha sido gravemente ferida; para outro, o texto assegurou-lhe que sua esposa tinha um amante, e um outro recebeu um link para uma casa funerária. Descobriram que seus telefones estavam grampeados.

Ao final, a proposta do aumento para 20% não foi aprovada. [Fonte: NYT, onde você pode ler a reportagem completa, em espanhol]

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