Bolsonaro: a vagabundagem como método de governo

Em sua coluna na Folha hoje, Celso Rocha de Barros define o governo Bolsonaro como o governo de um homem que não trabalha. 

É ironia. E é verdade também. E também é polêmica a afirmação. Porque Bolsonaro trabalha, sim. Para proteger-se e aos seus. Para alimentar seus eleitores, apoiadores e aqueles a quem ele serve para se servir: a turma da Bolsa, do agro, do gado, das armas, milícias.

Sorte que o dia 2 de outubro se aproxima e o povo brasileiro vai varrer todo esse entulho autoritário para a Papuda.

A coluna de Celso Rocha de Barros, na Folha:

Bolsonaro não trabalha

Jair Bolsonaro não trabalha. Diante de todo problema enfrentado pelo Brasil, Bolsonaro sempre escolhe a solução em que ele não precisa fazer nada.

O caso mais trágico foi o combate à pandemia. Organizar o isolamento social, como recomendava a Organização Mundial de Saúde, seria uma tarefa extraordinariamente complexa: "muito serviço", Jair pensou, e desistiu da ideia.

No início da pandemia, alguns países tentaram outras estratégias, às vezes combinadas com o isolamento, como a testagem em massa com rastreamento dos contatos dos doentes. "Eu que vou organizar a fila?", perguntou-se Jair, e também desistiu. Bolsonaro chegou a defender que só os idosos ficassem isolados, mas apressou-se em dizer que não era ele quem ajudaria aqueles velhos todos, isso era problema de cada família.

Eis que o deputado extremista Osmar Terra ofereceu a Jair a tese da "imunidade de rebanho". Ampla e irrefutavelmente refutada pelos fatos, a tese da imunidade de rebanho dizia que Bolsonaro não precisava fazer nada para combater a pandemia de Covid-19: bastava deixar o vírus circular até que os sobreviventes ficassem imunes. Bolsonaro não ouviu nada depois de "não precisa fazer nada": comprou a ideia na hora.

Notem bem: quando Bolsonaro decidiu por esse caminho, não existia vacinas. Não é que Jair tenha topado deixar morrer as 670 mil que morreram. Ele topou deixar morrer os milhões que teriam morrido se a vacina não tivesse sido inventada e se Doria não a tivesse comprado.

Solução de Bolsonaro para segurança pública? Compre você mesmo uma arma e mate você mesmo a bandidagem. Inclusive, já fique você avisado que o bandido também vai comprar arma nova. Fiscalizar quem é ou não é bandido daria trabalho, e Bolsonaro não trabalha.

Solução de Bolsonaro para crianças que ficaram sem escola na pandemia? Home schooling. Os pais que se virem para dar aulas para seus filhos. Pais pobres que não puderam estudar e não conhecem as matérias que seus filhos estudam, pais que depois do trabalho pegaram duas horas de trem e chegam cansados em casa, eles que aceitem trabalhar mais para Bolsonaro poder trabalhar menos.

Bolsonaro sempre foi um crítico dos ecologistas. Poderia, portanto, ter proposto uma reforma da legislação ambiental. Mas isso também exigiria estudos, negociações, reuniões, enfim, trabalho. Jair preferiu desmontar a fiscalização ambiental: assim, não faz diferença qual é a lei, já que ninguém vai aplicá-la, e "fiscalizar floresta" passa a ser um trabalho a menos para Bolsonaro fazer.

Não é questão de liberalismo. Implementar reformas liberais também dá trabalho, como mostra a experiência de vários governos brasileiros. Privatizar, por exemplo, exige decidir sobre o modelo de privatização, exige elaborar um quadro regulatório. Cortar impostos implica decidir que impostos serão cortados, que programas serão reduzidos após a perda de arrecadação. Isso tudo é trabalho, e trabalho Bolsonaro não quer.

Não é questão de laissez-faire, o Jair só não quer faire serviço nenhum.

Assim funcionou o Brasil nos últimos três anos e meio. Para saber que política pública seria implementada pelo governo federal, bastava descobrir qual das opções dispensava Jair Bolsonaro de sair do WhatsApp, colocar uma calça e dar expediente.

 

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